Os pretos velhos, ícones da Umbanda, a primeira religião genuinamente brasileira, são considerados os responsáveis pela Linha das Almas, e tem a sua força no Cemitério. Com o tempo e convívio com os adeptos desta religião kardecista, mas de influência e herança nos moldes das matrizes africanas, os pretos velhos ganharam a simpatia do povo e foi se popularizando e aceita, os simpatizantes e a grande frequência nos terreiros.
Alguns dos pretos velhos mais conhecidos: Pai Joaquim de Angola, Pai Francisco do Congo, Pai Benedito de Aruanda. E temos as prestas velhas Vovó Maria Conga e Vovó Catarina, entre outras. Apesar das indiferenças e ataques das outras religiões que tem preconceito contra tudo que veio ou vem da África. Segregaram os escravizados para submetê-los ao martírio e coação. Duro é quando o que a lei manda é descumprido por ser ela própria desrespeitosa. Quando deveria ser a guardiã da ordem. Não me façam dizer o que eu não disse. Não devemos insistir no que não está em discussão ainda. Não estou nem aí para quem me aceita ou não, para quem me ama ou odeia. Vim a esse mundo sozinho e assim espero cumprir minha missão.
Nos anseios da ancestralidade e além do equilíbrio, temos a arte, sublimação necessária de reinvenção e recomeços. Paciência e compreensão nos contratempos. Força da existência, razão de viver, força e resistência. A ideologia da democracia racial é algo que emana e irmana todos nós. Os bons não se calam porque a verdade tem que ser dita.
Voltando ao assunto de arte e falando das cênicas, que são as mais fáceis de serem visualizadas e entendidas, vamos a alguns relatos de “interpretações divergentes” que sempre causaram desconfortos e desagravos. Mal-estares e descontentamentos ofensivos. Tudo de maneira disfarçada para tapar o sol com peneiras. Porém, a intenção ficava sempre “clara” já era desmistificada por ela própria.
Zezé Motta foi convidada a fazer um papel de empregada, disse o diretor: “Com todo zelo e leveza, com todo cuidado dos produtores”. Ela aceitou porque achou que seria um papel digno. Só, que a empregada se chamava “Zezé”…
Num outro filme, um assunto que poderia ter sido até melhor explorado. Também com todo zelo e cuidado, sutilezas e maneiras gentis de tratamento das pessoas brancas em relação à empregada negra que iria se casar com um homem branco. Todos aceitaram, acharam até normal. O casamento foi realizado. O noivo no final do filme, fez o seguinte discurso: “Casei-me com ela, mesmo sendo um mulher negra, por ter alma branca e pura”…
Rute de Souza, como protagonista da primeira novela da Rede Globo, declinou. Encurtaram a trama preconceituosa, racista, que perdeu-se no conteúdo, no texto, nas black faces. Era a “A Cabana do Pai Tomás”, cujo personagem principal o “preto velho”, era o ator Sérgio Cardoso, branco “negrificado” e cheio de estereótipos.
Grande Otelo, disse que não existem papéis pequenos, o que importa é a “dignidade e o profissionalismo”. Quase morreu de desgosto, quando lhe deram um protagonismo heróico. Mas o personagem era alcoólatra…
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Aos negros reservaram sempre papéis de jagunços fiéis, guarda-costas, serviçais, todos credenciados a travar a opinião pública. Branco e preto “absorção falsa”. Pardo é indefinido. Business Doriana. Deveria existir um elemento racionalmente democrático sem discriminação racial. Grande Otelo nunca foi convidado a ser um guarda-costas.
Em novembro de 2000 o documentário “A Negação do Brasil” explicitou. Atualmente parece que 25 anos depois, o protagonismo possível está sendo evidenciado. A frase era “há de nascer, crescer e se misturar” parece que está vingando.
Exu, mudança no presente, coisa atual das injustiças do passado é o mensageiro da alvorada. Iansã, a mãe do por do Sol. Orixás balizadores da elegância e inteligência sutil. Adorei as almas. Salve os pretos velhos. Axé!(Foto: Gemini)
LUIZ ALBERTO CARLOS
Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.
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