Estava tudo calmo até agora, embora no final da gestação fosse difícil ter uma noite inteira de sono, afinal a gestação é composta de oito meses e uma eternidade, que é o último mês. Vimos que, durante o parto, vários hormônios atuam em conjunto para trazer nossa garotinha para os nossos braços, mas, nada nos preparou para o amor que estava por vir. A princesa nasceu! E agora? Aqueles olhinhos, aquela pele macia, os cabelinhos que logo vão cair…tudo é encantador.

Apesar disso, eles nascem chorando e passam grande parte dos próximos meses na mesma ladainha. É enlouquecedor: dá o peito, grita um; troca a fralda, sugere alguém; balança no colo,tenta outro;vai passear na rua,novo conselho.

E o umbigo? Pai santíssimo! O que é aquela “coisa”pendurada na barriga do meu filho? Nossos dias, antes enfadonhos e sem emoção, passam a agitados, vomitados, coloridos, barulhentos, bagunçados, cheirando a cocô. Perfeita rotina com uma criança que acabamos de conhecer.

Aprendemos que eles nos reconhecem nas primeiras horas, principalmente, pelos sons fisiológicos do corpo da mãe, ou seja, o batimento cardíaco e o movimento peristáltico, pois, sua audição, mesmo antes de nascer, já estava formada e pronta.

Os bebês nascem míopes e, mesmo assim, conseguem reconhecer o rosto materno e, apesar do olfato ser rudimentar, são capazes de distinguir o cheiro da mãe dentre outras mães.

Quando ela começa a balbuciar as primeiras palavras? Seria mais emocionante se não tentasse falar “papai” primeiro. Considero alta traição quando os bebês optam por esta escolha. Os carregamos durante 40 semanas, os amamos, não dormimos por causa deles antes de nascerem e, quando resolvem falar, decidem que a palavra PAPAI é mais legal?

Uma fase muito divertida é quando nossa pequena cabeçudinha (vimos que o cérebro se desenvolve bastante mesmo antes da criança nascer) começa a apresentar características de um desenvolvimento motor adequado: ela tenta puxar as pernas para debaixo do abdômen e levanta os quadris. É claro que uma tia vai fazer sua própria interpretação: “Olha que linda! Está chamando um irmãozinho!”.

Está maluca? Acabei de conhecer este serzinho e já está querendo aumentar a população novamente? Dá um tempo, ok? Nem adianta tentar explicar para a tia que, este gesto faz parte do desenvolvimento motor do bebê e que, tudo está bem com minha menininha, pois, ela só conseguirá sentar por volta dos seis meses.

O desenvolvimento motor e cognitivo progride à medida que o cérebro da criança cresce e amadurece. Ao nascer, sua massa encefálica pesa, em média, cerca de 350 gramas, mas,em um mês salta para 420 gramas e, com um ano, pesa metade do cérebro de um adulto: 700 gramas. Consequentemente, quando ela começa a andar, primeiro tem que achar o equilíbrio da cabeça, que em relação ao seu corpo, é bem maior.

Curiosidade: o cérebro do bebê tem cinco vezes mais neurônios que o cérebro de um adulto. Nascemos com 100 bilhões de neurônios e permanecemos com apenas 20 bilhões na vida adulta. Em torno de 80 bilhões morrem por falta de conexões e/ou falta de estímulo, resultando, daí, a importância de estimular ao máximo nossos bebês, evitando o exagero, que poderia ser estressante para eles.

De forma geral, meninos e meninas desenvolvem-se similarmente até os dois anos de idade, apesar de que, nesta fase, as meninas tenham um vocabulário em torno de 90 palavras, já os meninos, de 40 palavras. Isto explica o fato de que mulheres falam muito mais do que os homens. Sempre em qualquer circunstância. Observe mulheres que tiveram AVC: pode ser de qualquer lado do cérebro, elas NUNCA param de falar.

É incrível!!

Algumas pesquisas sugerem uma ligeira predominância, entre as meninas, de aptidões que requerem concentração em relação aos meninos, ou seja, mulheres são mais observadoras e críticas, desde sempre.

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CURIOSIDADES CURIOSAS

TORCEDOR ATLETA

O cérebro masculino enfatiza o movimento das coisas, a compreensão dos espaços físicos, dimensionamentos e formas geométricas, enquanto a mulher desenvolve mais os sentimentos e emoções, o dom da expressão e comunicação, a fala e a observação, a organização e zelo pelas coisas.

As pesquisas em torno deste tema são escassas quando selecionada a faixa etária anterior aos dois anos e, mais abundante, a partir dos quatro anos. Na grande maioria destacam-se, não fatores fisiológicos, mas, três fatores principais que afetam mais diretamente o comportamento diferenciado entre os sexos, a saber:

– Atitudes, habilidades e traços de personalidade considerados apropriados para meninos e meninas, segundo contexto sócio cultural;

– Crianças passam a aprender características consideradas apropriadas a cada sexo; e,

– Generalizações predeterminadas sobre o comportamento adequado aomasculino e feminino.

Ou seja, crianças são seres sociais e aprendem, absolutamente, tudo que lhes é ensinado, portanto, fatores ambientais e oportunidades diferenciadas promovem suas capacidades e aptidões nesta fase, mais do que fatores biológicos isolados.

Acredito nisso, principalmente, porque essas informações vieram de pesquisas sérias, mas, confesso que me esforcei muito para aprender matemática. Meu pai era professor de matemática. Fui uma tremenda decepção para ele, tadinho. De qualquer forma, sei que ele me deu inúmeras oportunidades de aprender, afirmando que eu era capaz.

Concluo que o ambiente era propício, mas, mesmo assim, não me ajudou a alcançar a sabedoria suprema do conhecimento da matemática.

Seguindo com o desenvolvimento das crianças, meninas e meninos comportam-se de forma similar até a puberdade. A partir daí tudo se resume a tomar cuidados com as expressões precedidas de “autos”: autoestima, autoafirmação, autossegurança e autoconfiança.

As meninas sofrem de maneira mais intensa tudo isto, por que a sociedade cobra modelos de beleza e comportamento que, nesta fase, aparentemente, são convites ideais para se sentir incluída, basta ser igual a estes modelos.

Simples, não é? Não mesmo!

A glândula pineal finalmente passa o bastão para as gônadas controlarem seus hormônios. Está na hora de preparar este corpo para a reprodução. É disso que a natureza entende.

Mas, a alteração de torre de comando causa uma bagunça danada nas emoções. Esta garota ainda não conhecia o estrogênio. A partir de agora ele fará parte de sua vida, flutuando ao longo do mês. Ele dará a forma feminina ao seu corpo e a ajudará, no futuro, a ser mãe.

Ou seja, tudo mudou.

A jovem fica instável emocionalmente. Chora ou ri sem motivo aparente. Julga-se indestrutível e superior ao mesmo tempo em que tenta se ajustar na sociedade. Ela não tem paciência para brincar com as crianças, mas, ao mesmo tempo, não tolera as conversas de adultos.

Os brotos mamários surgem e a mãe tenta, de todas as formas, encontrar um sutiã adequado, cenário que poderá originar frustração para ambas. Os bobos dos meninos percebem o desconforto das meninas nesta fase, aproveitando para irritá-las mais do que as suas simples presenças já irritam.

A menstruação não é tão legal quanto imaginava, principalmente, por que acabou de descobrir que este fenômeno se repetirá todos os meses nos próximos 45 a 50 anos, a não ser que resolva ter um filho por ano, opção que considero descartada.

O corpo ganha forma arredondada no quadril. Elas detestam! Colocam camisetões, moletons amarrados na cintura em pleno verão.E os malditos pelos? Talvez, de todas as mudanças, essa seja uma das mais detestáveis.

No auge do desenvolvimento hormonal, por volta dos 12-14 anos, os sentimentos passam a ser mais intensos e o coração passa a bater mais forte e rápido por pessoas especiais: as paixões começaram. Podem ser românticas, físicas ou platônicas. O fato é: vai doer. Este coraçãozinho despreparado está começando a amadurecer e os hormônios não ajudam, mas, é um processo natural e demandará muita atenção e apoio dos pais.

Existe uma banalização do sexo na mídia. Parece que todo mundo pratica sem grandes dramas. Existe, também, a pressão para que esta menina amadureça, instigando garotas de 8, 9, 10 anos a se vestir e se maquiar como adultas e a beijar inúmeros garotos numa única balada.

Balada? Pois é, elas já vão à baladas. SOZINHAS!!

É preciso atenção com esta menina, pois, ela não tem maturidade suficiente para decidir iniciar ou não sua vida sexual, porém, para fazer parte do grupo ela se submete a esta experiência, sem nenhum preparo, o que pode resultar numa gravidez indesejada.

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Dados oficiais mostram uma queda de 17% no número de adolescentes grávidas no Brasil, no período de 2004-2015 atribuído à expansão do programa “Saúde da Família”, mais acesso a métodos contraceptivos e ao programa “Saúde na Escola”. Ainda assim, a queda foi pequena, do meu ponto de vista (nos EUA o índice caiu 44% no período de 2007-2015).

Superada esta fase, surge outra, também complicada, a escolha por uma profissão. Momento em que vem sendo antecipado ano a ano e que pode ser influenciado por alguns motivos: renda familiar, namoro, distância de casa, dentre outros.

A nossa menina carrega o mundo em seu coração e qualquer que seja a sua escolha, certamente, foi muito bem pensada e pesada, pois, segundo pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 65 países, parece indicar que não só fatores sociais estão envolvidos nas características e escolhas entre meninos e meninas dessa idade, e que, com força total, a neurobiologia pode determinar essas diferenças: meninos fazem contas e meninas leem.

Fato comprovado pelo censo do INEP (vinculado ao MEC): meninas se inscrevem mais em pedagogia e meninos em administração, embora profissões tipicamente masculinas estejam, timidamente, sendo ocupadas por mulheres.

E será nos bancos da faculdade, que muito provavelmente, nossa garotinha conhecerá o amor de sua vida. Ou amores. Então decidirá se quer passar o resto de sua vida com um deles. Mas esta já é outra história. (foto acima: institutopensi.org.br)

 

PRINCESAELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora