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Professora de Jundiaí integra programa de Educação Antirracista

professora

A professora de História Judite Maria Manzato faz parte do FTD Educação e viaja o país falando sobre como negros e os povos originais, os indígenas, que não são tratados como deveriam pelos livros de História. “Eles foram invisibilizados”, afirma Judite, que é graduada em Licenciatura de História, pós-graduada em Metodologia do Ensino de História, pedagoga e pós-graduanda em Neurociência e Comportamento pela PUCRS. FTD é uma homenagem a Frère Théophane Durand, que foi superior geral da Congregação Marista entre 1883 e 1907. O Jundiaí Agora conversou com a professora Judite:

Onde trabalhou como professora? Sempre deu aulas de História?

Fui professora da Educação Infantil, Ensino Fundamental e professora de História e Filosofia no Ensino Fundamental. Também lecionei no Ensino Médio Passei por quase todas as etapas da Educação. Como professora atuei na Educação Estadual, na Municipal (inclusive na EJA- Educação de Jovens e Adultos). Também trabalhei em escolas particulares. Como professora de História trabalhei vários anos no Colégio SER Jundiaí e encerrei o meu ciclo em sala de aula no Colégio Luiz Rosa.

Como surgiu este projeto de Educação Antirracista?

Logo depois da pandemia, ainda atuando em sala de aula, comecei a trabalhar com o projeto de Formação de Professores. As escolas estavam voltando às aulas presenciais e era necessário fazer a recomposição da aprendizagem. A partir daí, iniciei o trabalho para a FTD, indicação de uma grande amiga, a professora Joyce Souza, que fez um grande trabalho para a editora FTD durante a pandemia.

Professora, o que é o FTD?

A FTD é uma empresa do Grupo Marista. Essa parte da empresa é uma editora de materiais didáticos, livros paradidáticos e do Sistema de Ensino SIM. Desta forma, além da venda do Sistema de Ensino, a editora também oferece cursos e formações para professores e gestores das escolas parceiras. Foi dessa forma que comecei a trabalhar com palestras e formações educacionais. Como já disse, a Joyce fez vários cursos on-line para a área de Ciências da Natureza durante a pandemia. Mas, na volta as aulas presenciais, foi necessário ampliar para outras áreas do conhecimento. Então ela me indicou para fazer formações de Ciências Humanas, que envolve História e Geografia.

O que exatamente a senhora faz?

Como educadora especialista sou contratada pelas empresas educacionais para dar formação que pode ser palestra, quando há um número maior de professores e oficinas. Nas oficinas trabalhamos com dinâmicas e trazemos as metodologias de sala de aula como experiência didática. Atualmente, além da empresa FTD, trabalho para o Instituto Singularidades em um Projeto com a Fundação Raízen. Nesse projeto trabalho as Habilidades Socioemocionais, uma temática bem atual e necessária.

É a única educadora de Jundiaí realizando este trabalho?

Em Jundiaí existem vários professores que atuam com formação, e não são apenas professores mas psicólogos, psicopedagogos, artistas  e gestores contribuindo cada um na sua área.

O foco é a educação antirracista. De forma genérica, crianças e adolescentes têm preconceitos? Professores, diretores, donos de escolas também?

Atualmente, além do trabalho com as Habilidades Socioemocionais, tenho atuado bastante na formação da Educação Antirracista. Tenho viajado pelo interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Onde não consigo estar pessoalmente fazemos a formação on-line. O objetivo é trazer reflexões sobre a formação da sociedade brasileira a a contribuição dos povos africanos e indígenas, povos que foram invisibilizados pela história oficial. O preconceito existe de várias formas mas o racismo, que é diferente de preconceito, está camuflado pelo um mito da democracia racial, aquela ideia de que no Brasil não existe racismo porque o povo é miscigenado. Isso não é verdade já que o racismo também passa pelas questões econômicas e dessa forma cometemos racismo através de atitudes que ocorrem de formas despercebidas. Esse é o racismo estrutural que só vai diminuir à medida em que o identificamos, refletimos e questionamos os nossos comportamentos sociais. Por isso a educação antirracista é de extrema importância nas escolas.

Por que a educação trata de forma tão superficial as culturas negra e indígenas? Por que se valoriza tanto a herança europeia, sobretudo a portuguesa, italiana e alemã???

A história que estudamos e conhecemos foi escrita pelos brancos europeus. É uma história eurocêntrica, excludente e baseada no poder de poucos. Para se ter uma ideia, a primeira divisão de terras no Brasil foi em 14 “lotes”, as capitanias hereditárias. Assim, os povos originários, ou nativos, foram “excluídos da própria terra”. Os documentos “oficiais históricos” contavam a história do ponto de vista do conquistador, e assim já começaram os preconceitos. Durante a imigração europeia, intensificada com o ciclo do café, a visão era outra. O europeu passou a ser visto como um grande trabalhador, aquele que não tinha preguiça, conquistava a riqueza através do trabalho e responsável por ‘branquear’ a sociedade. Assim, o branco europeu já trazia um ar de superioridade em relação aos povos escravizados e aos nativos, considerados indolentes.

O que poderia ser feito para reverter isto? Qual seria a abordagem ideal para tratar das questões dos negros e povos originários?

A Educação antirracista e o conhecimento da História é um dos caminhos, ou seja, a História que valoriza o trabalho, a cultura, as personalidades e os personagens africanos e indígenas. A mudança de vocabulário, as ações positivas de inclusão social e econômicas são um  grande caminho de mudança, mas ainda esse processo é bem lento. Graças a Constituição de 1988, várias ações foram feitas para que se valorizasse o papel histórico desse povos. Parece pouco, mas ao invés de falar “os escravos”, falamos os escravizados. Isso já muda todo o sentido e o contesto. Eles não vieram porque buscavam uma melhor condição de vida, não tiveram liberdade de escolha como os europeus. Eles foram escravizados, vendidos e separado de suas famílias. Só aí já muda o sentido todo da História. Ao invés de falar índios, falar povos indígenas, também muda todo o contesto. Se falarmos povos nativos ou originários então, de quem é a terra?

O projeto também trabalha o preconceito contra os LGBT+?

Em alguns aspectos. Quando se trata da Lei 11.645/2008 – que torna obrigatório o ensino da história e cultura Afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino públicas e privadas do ensino fundamental e médio, o enfoque é bem mais sobre a educação antirracista. Mas, como toda reflexão de racismo entra os preconceitos, fica intrínseco falar sobre as minorias excluídas em todos os “cantos” do Brasil e do mundo.

Este tema causa mais polêmica que os outros?

Posso dizer que os dois temas, racismo e o preconceito contra os LGBT+ causam muita polêmica. Somos ainda um país muito conservador e de costumes conservadores. Muitos de nós não se percebem racistas ou preconceituosos. Mas, quando fazemos uma autoavaliação notamos atitudes que mostram o contrário.

Quais os outros tipos de preconceitos que são combatidos por vocês?

Um tema muito relevante é sobre a meritocracia. Sabemos que as leis dão igualdade de direitos, mas não significa que temos equidade. Não dá para falar que uma pessoa que tem que trabalhar para ajudar em casa e outra que só estuda tem equidade quando fará o vestibular. Não basta só querer para conseguir subir na vida. Existem vários contextos que diferenciam uns dos outros. Então, entrar em temas polêmicos gera muito desconforto. Quer ver um exemplo: Quando se fala em médico, se pensa numa pessoa preta ou branca? Uma pessoa branca! Quando se fala em segurança de evento, se pensa em um branco ou um preto? Se pensa numa pessoa preta. Quem diz que não pensa assim faz parte de uma minoria. É o estereótipo da sociedade brasileira que faz surgir essas ideias.

Como é a receptividade por parte dos profissionais e empresários da área de educação?

Existe uma lei, ela tem que ser cumprida. Por isso a receptividade é muito boa e a procura por essas reflexões são bem aceitas. Isso já é um começo. Eu realmente acredito que as mudanças passam por essas reflexões, elas são demoradas, mas acontecem. Historicamente falando, a mudança de mentalidade é a última a acontecer diante dos fatos.

As propostas são passadas de forma didática? Há um programa de implantação do projeto em cada unidade escolar?

Há uma preocupação em se criar projetos e se trazer e fazer material que geram atividades e debates. Também os materiais didático estão se adaptando tendo uma preocupação em se colocar imagens as pessoas e famílias pretas em várias situações que não só as de escravizado. Famílias de classe média e alta também estão sendo visibilizadas nas mídias de massa o que colabora para que haja um maior reconhecimento das crianças e jovens quanto a sua raça.

Quem estiver interessado, como deve proceder?

Existe muito material bom sendo divulgado em sites de educação. A Revista Nova Escola tem uma plataforma de educação e de formação com um curso ótimo e gratuito sobre ERER(Educação para as Relações Ético-Raciais). Há muitos vídeo, debates, podcasts de estudioso desse tema e de pessoas que se interessam por uma educação reflexiva e de qualidade. Além disso, as escolas precisam investir em formar seus professores e funcionários trazendo palestras, oficinas, metodologias, projetos que contribuam para formas pessoas mais humanas. E espero, sinceramente, que a curto prazo a ERER não precise de lei para se colocada em prática, e sim que a sociedade veja a História a partir do olhar do povo brasileiro.

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