PROJETO EDUCAÇÃO: Caminhos para melhorar o ensino

PROJETO EDUCAÇÃO

Como prometido, colocarei neste artigo o que encontrei sobre os caminhos para melhorar a Educação no Brasil, o que basicamente significa traçar objetivos claros constantes em qualquer projeto científico que, nesse caso, intitulei Projeto Educação.

Um estudo (não tão recente: de 2008) chamado “Como os Sistemas Escolares de Melhor Desempenho do Mundo Chegaram ao Topo” da consultoria americana McKinsey, sintetiza mais de 200 entrevistas e visitas a 120 escolas de 20 países. O objetivo era identificar as razões do sucesso dos países mais bem posicionados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – é uma avaliação internacional que mede o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências) e os que subiram rápido no ranking, mostra o caminho das pedras que nós ainda não aprendemos, mesmo com diversos estudos disponíveis.

Segundo Mona Mourshed, a coordenadora do estudo, as lições funcionam independente do contexto cultural, ou seja, podem ser aplicadas nas mais diferentes situações e condições, indicando 4 lições da qualidade:

1ª – Selecionar sempre os melhores professores.
2ª – Formação docente.
3ª – Ninguém fica para trás
4ª – Preparar grandes gestores.

No artigo anterior explorei o fato de que, professores excelentes geram alunos excelentes. Mas não basta contratar bons profissionais é preciso mantê-los. E mantê-los atualizados.

O diretor/idealizador do Pisa e diretor da área de educação da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Andreas Schleicher, salienta que para ter bons professores é preciso atrair pessoas talentosas para a profissão, oferecendo uma carreira desafiadora além de boas condições de trabalho.

No Vietnã, um professor recém-contratado é chamado para conversar sobre suas expectativas e objetivos: se prefere cargos de gestão ou de lidar diariamente com as crianças; se gosta de pesquisa e inovação entre outros. E assim, junto ao diretor da escola estabelecerá a estrutura de carreira que deseja.

No Japão, bônus salarial, promoções e desafios são grandes atrativos para dar aulas nas regiões mais pobres do país. Na Estônia, além do salário atrativo há liberdade de soluções criativas de ensino.

Na Coréia do Sul, bons salários, alto status social, estabilidade e rigorosos requisitos para admissão, são condições que atraem para a carreira docente. Na Finlândia o prestígio da profissão é o diferencial.

O que é possível tirar desses exemplos?

A profissão é valorizada, estimulante e atrativa para as melhores mentes daqueles países, enquanto o Brasil lidera o ranking de violência nas escolas, o professor não tem prestígio social, é mal remunerado (salários abaixo da média da OCDE), não tem uma carreira estruturada e muitas vezes não tem um mínimo de experiência para entrar em uma sala de aula. O que podemos aprender com esses países e que poderíamos colocar em prática por aqui? Respostas:

  • Teste de admissão rigoroso e recrutamento dos melhores alunos para a docência. Mesmo sendo uma profissão valorizada, o índice de aderência ao recrutamento é na faixa de 10 a 15% nesses países;
  • Experiência prática em sala de aula, sob supervisão e feedback constante do desempenho, equilibrando prática e teoria (no Brasil não há exigência de prática em sala de aula nos cursos de licenciatura e pedagogia);
  • Especialização na área de ensino. No Brasil, somente 29% dos professores que lecionam ciências tem especialização na área, enquanto os países com melhor desempenho alcançam 89%. Nesse último caso, quando o professor não tem a especialização, ela é conquistada nas diversas atualizações a que ele é submetido. Esse é um dos fatores que mais cativa os alunos, pois ao saber profundamente a sua área, o professor é capaz de propor reflexões científicas que enriquecem muito as discussões em aula;
  • Plano de carreira e bons salários são fatores atrativos para os profissionais. A OCDE aponta que os países em destaque no Pisa oferecem salários aos professores acima da renda per capita, caso da Alemanha, Hong Kong e Coréia do Sul. Embora seja verdade, não é absoluta, pois alguns países como a Finlândia, que não possuem salários tão atrativos tem desempenho excelente ao passo que outros países que remuneram bem, não aparecem bem posicionados no ranking do Pisa.

Qual é o segredo então?

Plano de carreira. Tornar a carreira desafiadora, competitiva, estimulante e atraente com possibilidade de progressão baseada em resultados. A forma como são feitos os contratos de professores no Brasil, não favorece a sua permanência em um mesmo grupo, já que são contratos de 10 ou 20 horas semanais, que acabam remunerando mal, então ele precisa procurar por mais aulas em outros locais. Isso não favorece o engajamento em um grupo, convivência com os outros professores e estudantes para formar uma relação significativa com eles.

Desafios e educação continuada: é preciso o aprendizado contínuo e liberdade para testar e desenvolver novas metodologias de ensino, mas só faz isso, quem possui pleno domínio de sua área, portanto precisamos melhorar o ensino superior, aquele que vai preparar o professor para entrar em sala de aula.

Países como Austrália, Reino Unido e Cingapura ofertam workshop e coaching para que os professores entrem em contato com novas metodologias e inclusive consigam identificar do que mais gostam em suas próprias carreiras e a progressão na carreira está atrelada ao tamanho do desafio.

O Japão faz rodízio de professores para que haja sempre um equilíbrio entre os mais experientes e os novatos, enquanto no Brasil eles são demitidos para que sejam contratados recém formados totalmente sem experiência pela metade do valor do anterior. Com uma política dessas é difícil alguém se aventurar nessa área, ou se for, é por falta de opções melhores, então teremos um professor que é mal remunerado, mal preparado e não queria absolutamente estar ali, fazendo o que o mandaram fazer.

Os países mais bem posicionados no Pisa possuem a política do “ninguém fica para trás”(jovens em desvantagem social e/ou econômica co dificuldade de aprendizagem) e aqueles professores que assumem esse tipo de desafio também recebem antecipação de promoções ou a possibilidade de escolher a próxima escola que quer lecionar ou outra bonificação.

Em vários ritmos, mas todos aprendendo. Na Finlândia, para cada 7 professores regulares há 1 de reforço, assim todos aprendem. Um reforço no contra turno que atende em torno de 30% dos estudantes e assim que possível, são reintegrados à turma.

No Brasil muitos ficam para trás: o índice de repetência supera os 20% e pouquíssimas escolas oferecem (particulares) reforço e quando oferecem são de português e matemática. Nada contra, mas os jovens tem, em média, 9 aulas por dia de variados assuntos.

Um bom gestor é muito importante para administrar de forma racional os recursos da escola para propiciar um ambiente de aprendizagem, enquanto no Brasil se faz “na raça” no “errando e aprendendo”, há sistemas de alto desempenho que somam características pessoais (como liderança) com competências técnicas. Há cursos de formação para isso que podem ser adaptados ao Brasil. Por aqui nem sequer cumprimos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e muito menos se tem conhecimento integral de suas bases afim de que suas ações sejam avaliadas e cobradas.

Gastamos em torno de 6% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação quando a OCDE recomenda 5,5%, mas a corrupção fica com a maior fatia. Enquanto os países bem colocados no Pisa gastam menos para fazer a manutenção de seus sistemas já bem estabelecidos, se esse dinheiro fosse empregado de maneira correta no Brasil, precisaríamos investir muito mais, pois ainda há a necessidade de implantação do sistema, bem como superar os desafios de disponibilizar bibliotecas, laboratórios e internet, além de em muitos lugares, haver a necessidade de avaliar as condições físicas dos lugares que se destinam a escolas, melhoria de salários, número de professores e por aí vai.

Há solução para nós? Claro que há, basta investir de verdade. A Coréia do Sul destinou 10% do PIB durante 10 anos para sair de uma situação bem semelhante à nossa atual, mas para isso precisamos eleger o sistema educacional como prioridade, pois enquanto o aluno custar anualmente para a União R$ 3.643,16 (valor publicado no Diário Oficial da União do dia 30 de dezembro de 2019) o equivalente a R$ 303,6 reais por mês (faça uma busca rápida nas mensalidades de escolas particulares) nunca daremos esse salto que tanto precisamos. Não acredito que faltará dinheiro.

Combatendo a corrupção não faltará dinheiro em lugar algum e há muito o que ser feito nesse país imenso, mas se houver necessidade de ir por etapas, a primeira coisa a se fazer para ter um salto na qualidade de ensino é investir em melhores profissionais e remunerá-los com decência e com o tempo melhorar a carreira, essa é a recomendação da OCDE para o Brasil. Além disso é fundamental que a equipe associada à secretaria de educação consiga fazer diagnósticos precisos da situação e apontar onde precisam concentrar os primeiros esforços. Depois disso, estabelecer sistemas de avaliação (auto-avaliação e avaliação externa) adequados, que envolva todos os envolvidos no processo, gestores, professores, pais, alunos, entre outros.

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Eu não tenho dúvidas de que poderemos chegar muito longe, afinal nosso povo é criativo e trabalhador, mas muito mal educado no sentido literal da palavra. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 6,6% (em alguns estados é maior que 10%) dos brasileiros ainda são analfabetos, o equivalente a 11 milhões de pessoas ao passo que na Finlândia é 0%, na Alemanha é 1%, embora esse parâmetro não seja absoluto para avaliar, pois Hong Kong, uma das melhores no PISA tem índice de analfabetismo semelhante ao do Brasil.

A questão por aqui piora com os analfabetos funcionais, ou seja, aquele que lê mas não entende o que lê (esses entram na estatística de alfabetizados), assim tornando-se massa facilmente manipulável, quase acreditam no coelhinho da páscoa e no papai Noel. Uma situação que deverá ser resolvida com investimento na qualificação dos professores e no estímulo que eles proporcionarão ao pensamento e raciocínio coeso e lógico bem como à busca de fontes confiáveis para seu progresso intelectual.
Se a distância ao topo da Educação é grande, um bom estímulo é saber que existem caminhos. E que uma longa caminhada começa com um primeiro passo.

O professor medíocre conta.
O bom professor explica.
O professor superior demonstra.
O grande professor inspira.
Autor desconhecido

ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora. (Foto principal: fce.edu.br)

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