E o ano vai indo solto, com muitas novidades, muitas alterações e muitas propostas a serem executadas. Entretanto, somos atropelados por datas que significam mais (ou menos) e vamos nos apertando, no calendário, sem percebermos algumas transformações que nos pegam de surpresa, pois nem sempre damos conta de tudo, em nossa Vida. Assim é viver a Páscoa, uma promessa cumprida, pois Ele vive, basta crer!
Cheia de significados, cheia de esperança, de promessas consolidadas, de antecipações e afirmações que chegam a assustar até ao maior dos malucos, a Páscoa nos permite sonhar (e realizar) o verdadeiro encontro, a verdadeira ressignificação da Vida: ela nos dá a garantia da vida eterna e da mudança interior, se quisermos. Por que, então, nos assustamos tanto com esta data? Por que preferimos ficar focados nos ovos de chocolate e nos bombons ao invés de entendermos seu significado?
Porque crer na Páscoa nos remete e a crer que é possível ratar, rearrumar, rever, reencontrar, reviver, reconstruir e, não são todos que estão aptos para tanto. Estas ações são complexas e desgastantes pois levam a uma reflexão sobre nossas intimidades e tais análises não são oportunas, para alguns. Refletir, analisar, sondar-se é para os fortes e corajosos, os fracotes preferem ficar de mi-mi-mi e deixam o tempo voar, sem controle e sem posicionamento. Fracotes estão satisfeitos com sua performance e não querem mudar nada, porque dá trabalho
É neste momento que temos que arrumar forças vindas de nosso interior e ultrapassarmos os limites que nós próprios impusemos para nosso progresso, nossa mudança interior. Não se trata de retirar a casca, mas, antes disso, de mudar nosso interior, nossa morada interna. E isso dói. Quando estas tentativas são feitas a dois ou em parcerias, as mudanças ficam mais suaves e mais fortalecidas, porém, quando as executamos sozinhos, toda tentativa é uma ameaça, um tormento. Coisas das carências.
Não sei o quanto vocês pensaram, mas a carência é muito perigosa por nos fazer permitir que violem nossos espaços por temermos perder a parceria de uma pessoa. A inteligência emocional precisa estar sempre atenta para que tenhamos a percepção daquilo que nos serve e daquilo que não nos convém; o fato de temermos um momento a sós ou um período sem parcerias não pode soar como algo ruim ou uma perda, mas como um momento de crescimento e que sempre é bem-vindo por nos possibilitar o autoconhecimento.
Entretanto, é preocupante perceber que algumas pessoas não conseguem se afastar dos algozes que os matam por dentro, minando suas intenções e iniciativas, anulando-as e, um grande passo para a libertação destas situações é acreditar no poder de transformação interna e contar com uma boa rede de apoio que nos mobilize com eficácia e segurança. Sempre é tempo para reiniciar. Sempre é possível se reinventar…porém, é preciso que se tente, que se permita mudar.
E, numa semana cheia e difícil, com bastante coisa importante acontecendo e muitas decisões sérias sendo tomadas, percebemos que algumas decisões são fruto de anseios antigos e outras são totalmente pontuais e recentes, fazendo com que fiquemos titubeando entre escolhas e incertezas, muitas vezes por medo de escolher e outras vezes pelo desconhecido que sempre aparece como um vilão. Em função disso, nossas decepções são avaliadas e ganham status de aprendizagem, enquanto se busca entender qual será a ordem da Vida, a partir delas.
Quando notamos que a Vida vai se tornando insustentável e difícil, que não há transformação nem melhora na proposta de uma vida saudável e tudo se nos parece sempre igual, com os mesmos vícios, mesmas falas, mesmos propósitos, estamos sendo alertados para promovermos mudanças de rota, alteração de propostas de Vida, o que somente acontece com nossa anuência.
Este momento de tomada de consciência nos permite perceber que apesar de parecer mentira, quem mudou fomos nós, permitindo-nos enxergar por dentro. Estamos diante de um renascer, de uma redescoberta. Este caminho é um salto qualitativo em nossa Vida, que nos possibilitará tomar decisões mais fortalecidas e firmes, sem nos causar constrangimento nem dor, por serem frutos de nossas mudanças interiores e nos garantir encaminhamento para espaços já pretendidos, mas não assumidos, por motivos inusitados.
Isso nos alerta que a melhor das miragens, sim, está dentro de nós mesmos. Nossas transformações somente serão efetivas se nos permitirmos aceita-las e, acima de tudo, concordarmos que muitos fantasmas precisam ser exorcizados. A fantasia só é benéfica, se houver crescimento e concretude nela, caso contrário, só será agradável para um dos lados da relação. E uma relação humana tem, no mínimo, dois lados: é preciso duas pessoas para se garantir segurança e sobriedade. A dependência emocional apenas permite que alguém tenha pleno domínio sobre outro, com ou sem consentimento.
Analiso à distância (e internamente, também) o quanto se escolhe sofrer para não magoar o outro; por que será que alguns de nós optam por ser o que carrega o piano, toca a música, lustra o móvel e ainda se sentem em débito com o outro. Por que insistimos numa situação sem futuro e sem consequências razoavelmente saudáveis para ambos? Na contramão, o outro não gosta de piano, não curte a música, não se preocupa com a sujeira do móvel e não se preocupa com absolutamente nada, apesar de fazer de conta que se interessa pelo enredo.
Tudo acontece como se fosse um passe de mágica, sem muita previsibilidade nem ensaio: neste clima emocional, num golpe de mestre, vem o Tempo (ah!!! O Tempo, este senhor tão querido…) e, numa guinada suave e profunda, afasta de perto do seu meio tudo o que ocasiona preocupação e aponta para o outro lado da Vida, onde outros valorizam seus feitos, enxergam seus defeitos e ajudam-no a corrigi-los, reconstruindo-se e apresentando projetos edificantes, além de excluir sonhos impossíveis, que teimávamos em mantê-los vivos.
É então que tomamos pulso das situações e, como já comentamos, somos os senhores da nossa história de Vida e, desta maneira, somente nós poderemos fazer nossas escolhas adequadas e a ajuda do coletivo irá fortalecer nosso desenvolvimento e nosso acolhimento ao novo homem que veremos nascer, dentro de nós. Basta abraçar a nova fase de construção com força e confiança nas mudanças…
Este processo é lento, as vezes sofrido, mas sempre vitorioso pelo fato de termos saído de uma situação de submissão ou dependência para uma autonomia e liberdade de Vida. E a impressão de fortalecimento toma a frente a cada vez que nos lançamos numa oportunidade de nos reconstruirmos: é um momento único e criador, que apenas os fortes atendem ao apelo de se voltar à tarefa idealizadora e fabulosa que é renascer. Pode ser realizada em dupla ou em grupo, mas o primordial é o interior, que é executado por nós próprios.
Torna-se imensamente dolorido ver o projeto solo ruir, sem dar continuidade às ideias arquitetadas e estruturadas para seguir a Vida, enfrentando problemas, mas ciente deles, mesmo antes deles surgirem. Porém, muito mais dolorido é quando a parceria não se interessa em criar espaços e possibilidades para a edificação da empreitada.
Parece difícil notar isso, mas entendam os exemplos: o professor quer ajudar a construir um projeto e o aluno não tem o mínimo interesse (nem apresenta o que quer fazer!!!); o pai sonha na melhoria de vida familiar, mas os membros da família não se preocupam em partilhar os avanços e não colaboram com os planos (sem dizer em que acreditam!!!), os amantes e os amados buscam facilitar as propostas de união e as parcerias se excluem dos planos ou rejeitam (sem dizer em que apostam!!!).
São exemplos desta natureza que nos garantem o esvaziamento das participações numa boa relação humana, em que um apresenta planos, ensaia atitudes, sonha com a finalização dos objetivos e o outro se mantém apagado, não colaborativo e pouco interessado em que as coisas sejam concretizadas. A inércia atrapalha e enfraquece qualquer relacionamento humano, quando não se consegue operacionalizar os objetivos. Esvazia as relações humanas.
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Existe, sim, situação pior do que o esvaziamento: alguns não se sujeitam a novas relações e tornam-se distantes e incrédulos de todas as pessoas que se aproximam, sem se dar mais uma chance. Olhando rapidamente para o quadro, vemos que a participação de uma pessoa tóxica em nossa vida por ser desastrosa, em especial quando não temos noção de que a virada de mesa depende da nossa habilidade social: nem sempre estamos fortes e consciente suficientes para mudar a história.
Nós escolhemos aquilo que queremos e, deixando brechas, elas serão ocupadas por oportunistas que estão ao nosso lado, esperando nosso vacilo, visto o fato de sermos sempre cercados por pessoas de todas as categorias, o que exige de nós um olhar mais criterioso na escolha de nossos parceiros, sejam eles quem forem; só não vale desistir.
Desta maneira, é preciso se permitir e buscar alguém que sane o ferimento existente e preencha o vazio existencial que se torna pesado e duro. Pessoas não são iguais e relacionamentos não se repetem, o que nos permite afirmar que há espaço e possibilidade de encontrarmos alguém que apresente algo substancialmente melhor para nos completar, como companhia, como amigo, como par afetivo. Mas é preciso tentar…(Foto: Pikist)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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