RAFAELA, a jovem cientista preocupada com a água e o futuro da vida

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Rafaela Curcio, de 18 anos, que até o ano passado estudava na ETEC Benedito Storani, em Jundiaí, conquistou o terceiro lugar na Feira Internacional de Ciências Regeneron ISEF, nos Estados Unidos. Ela apresentou um drone que faz a análise de água à base de microcontroladores. Antes, Rafaela já havia vencido a 19ª Feira Brasileira de Ciência e Engenharia e ganhado o prêmio de destaque da Associação dos Engenheiros Politécnicos. A jovem cientista, nascida em Bragança Paulista e moradora em Jundiaí desde os seis anos, tem planos ambiciosos para o futuro. O Jundiaí Agora entrevistou Rafaela Curcio:

Seus pais trabalham? O que fazem? 

Sim, meus pais trabalham. A minha mãe é formada em pedagogia e geografia e atua como professora alfabetizadora em escolas públicas. O meu pai é formado em técnico de mecatrônica e é mecânico de carros e manutenção. Não tenho irmãos.

Eles a incentivam?

Sim, meus pais sempre me incentivaram e me apoiaram. Eles foram um dos meus principais pilares para tornar a realização do meu projeto científico possível. Sem eles, com toda a certeza, eu não teria chegado até aqui hoje. Meus pais são os meus super-heróis.

Você mora em Jundiaí, Rafaela? O que acha da cidade?

Sim! Eu adoro morar em Jundiaí, que tem pessoas incríveis. Temos a Serra do Japi, muita área verde, shoppings e locais interessantes para se divertir.

Por que decidiu estudar na ETEC?

Eu escolhi a ETEC Benedito Storani tendo em vista a alta qualidade dos profissionais que ali lecionam e, como consequência disso, a alta qualidade tanto do ensino técnico quanto do ensino médio. Além disso, vi a possibilidade de poder estudar em uma escola com uma ótima estrutura como os seus diversos laboratórios e as salas de aula e que também fica em contato com os animais e a natureza que rodeia toda a ETEC!

Em qual ano está?

Eu acabei o meu ensino médio junto com o técnico em química o ano passado.

Quando começou o interesse por ciências e engenharia, Rafaela? 

O meu interesse pelas ciências começou quando eu estava no meu ensino fundamental II. Minhas matérias preferidas eram ciências exatas, como a matemática, e as ciências biológicas, biologia e química. Eu adorava jogos que exigiam muito raciocínio lógico.

O seu projeto trata da análise de água automatizada. Como funciona?

Bom, desenvolvi um drone que realiza, atualmente, análises de temperatura e pH. Você o coloca num rio ou lago e começa a controlar a locomoção dele através da internet. Os dados que são obtidos pelos sensores são enviados de forma instantânea para uma página da internet também. A locomoção do protótipo quanto a coleta e transmissão de dados são feitas de forma remota.

Como surgiu essa ideia? Como pode ser utilizado? Quais os benefícios trará na prática?

A ideia surgiu quando eu estava em uma aula de estudos ambientais e estava estudando os ’17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU’. Como sou da área de química acabei me interessando pelo sexto objetivo que trata sobre a qualidade da água e o seu tratamento. A partir disso, comecei a procurar por problemas de recursos hídricos aqui na região e encontrei um lago que estava numa situação preocupante em que os peixes estavam morrendo. Com isso, perguntei-me se já havia algum dispositivo autônomo capaz de realizar análises de água. Ao pesquisar, acabei vendo que a minha ideia ainda não havia sido desenvolvida. Então tirei a minha ideia do campo da imaginação e a coloquei em prática. O drone pode ser utilizado por ONG’s , instituições governamentais, empresas e laboratórios que se interessem em realizar análises de seus corpos hídricos usando o meu protótipo que poderá avaliar o nível da qualidade da água e fortalecer o banco de dados desses locais com as informações obtidas pelo protótipo. Além disso, com os resultados obtidos as autoridades locais poderão tomar as medidas necessárias para resolver os problemas dos locais analisados. É possível notar potenciais de assistência social e tecnológica no meu projeto, já que propõe mais uma ferramenta tecnológica para se realizar as análises de água a baixo custo.

Aliás, hoje, já poderia ir para o mercado ou ainda faltam ajustes, Rafaela?

Não, o meu protótipo ainda não está pronto para ser comercializado, pois faltam muitos ajustes que quero fazer nele. Este foi o meu protótipo, então acredito que ele terá muitas versões futuramente.

Pensa em patentear e comercializar? Alguma empresa já se interessou pela sua ideia?

Sim, penso em patentear e comercializar o meu protótipo. Quanto ao interesse das empresas, sim, uma empresa e uma ONG já se interessaram pelo o meu projeto. Estou muito empolgada e feliz com isso, pois com parcerias posso entregar mais rápido o meu protótipo finalizado para a sociedade poder usufruir.

Qual a razão da sua preocupação com a água a ponto de desenvolver um projeto científico?

Milhões de mortes no mundo todo são causadas pela ingestão de água contaminada e cerca de um terço da população mundial não possuem saneamento de qualidade. Tanto esses fatos quanto a minha preocupação com a minha comunidade e a minha vontade de poder contribuir com os ’17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU’ para fazer do mundo um lugar melhor me inspiraram na realização do meu projeto científico.

Na sua opinião, Rafaela, a humanidade deveria se preocupar mais com este recurso?

A humanidade deveria se preocupar mais com os nossos recursos hídricos já que dependemos 100% da água para que toda a vida na Terra aconteça!

Quanto tempo levou para criá-lo? Quais as principais dificuldades?

Levei o período de um ano. A primeira dificuldade foi desenvolver o meu projeto científico em plena pandemia. Devido ao isolamento social, eu não tinha a liberdade para ir aos laboratórios, aos locais para testar os mecanismos do drone e comprar os componentes quando eu bem entendesse. Foi um bom momento para treinar a paciência e as minhas frustrações já que tudo era feito de forma remota , até mesmo as feiras científicas ( o que me deixou bem triste!). Além disso, os encontros tinham que serem feitos virtualmente por conta do Covid-19, o que dificultava ainda mais todo o processo de desenvolvimento do projeto. Todos esses fatores contribuíram para que a construção do meu projeto científico ficasse muito mais burocrático que o normal. Com relação às dificuldades do projeto que não envolvem a pandemia do coronavírus, é muito natural que diversos problemas surjam durante o desenvolvimento de qualquer projeto e pesquisa científica. É isso que torna o caminho da pesquisa tão encantador e interessante, é todo esse processo de descoberta, de erros e acertos. O mundo da pesquisa não é um mar de rosas, muito pelo contrário. Temos que gostar de passar pelo processo de pesquisa e não apenas gostar do resultado final! Para ser um bom cientista temos que amar e sermos empolgados com o que estamos pesquisando e desenvolvendo e sempre ser persistente e perseverante.

Você esperava vencer a categoria Engenharia da 19ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia?

Com toda a certeza a resposta é não. O meu maior medo era o meu projeto não passar no processo seletivo para poder entrar e participar da Febrace. E esse era o meu maior sonho. Então, quando entrei na Febrace, o meu único pensamento era de que eu queria aproveitar o máximo possível das minhas experiências na feira e apresentar o meu projeto da melhor maneira e com muito amor para os meus avaliadores da banca, além de poder receber os melhores feedbacks que eles poderiam me dar para eu poder sempre estar melhorando o meu projeto. Os dias que apresentei o meu projeto para a banca foram um dos melhores da minha vida, pois os avaliadores adoraram o meu projeto e me receberam quando ganhei o meu primeiro prêmio. Fiquei extremamente emocionada e feliz com o reconhecimento dos engenheiros politécnicos. Até chorei(risos). Agora, ganhar o primeiro lugar da Febrace em engenharia e o credenciamento para participar da feira mundial de engenharia e ciências , a Regeneron ISEF 2021, foi surreal para mim! Eu surtei de tanta felicidade e emoção!

Qual a importância deste evento, a Regeneron?

Este evento tem importância global já que reúne os melhores cientistas pré universitários do mundo. Tal evento incentiva a troca de ideias entre os participantes e incentiva a pesquisa pré-universitária, além de estimular o compartilhamento da ciência entre pessoas do mundo inteiro. Pessoalmente, este evento possui total importância na minha vida, pois procuro usar todas as minhas premiações da Febrace e da ISEF para incentivar a ciência, a pesquisa e educação entre os jovens, mas principalmente, os jovens da minha escola e da minha comunidade!

Ficou surpresa com o terceiro lugar? 

Fiquei totalmente surpresa! Ninguém espera ganhar essas premiações tão cobiçadas da ISEF!

Como foi participar de um evento com quase 2 mil jovens de 65 nacionalidades diferentes, Rafaela?

Foi uma experiência nova e única para mim. Pude conhecer projetos de jovens cientistas incríveis e fazer amizades importantes para mim dentro da nossa delegação brasileira que quero levar essa parceria para a minha vida! O processo todo ao participar desta feira me trouxe inúmeros aprendizados. Posso dizer que foram 37 dias que me transformaram completamente. Cresci muito em diversos aspectos. Só tenho a agradecer por tudo.

Quantos dias ficou nos Estados Unidos?

Esse ano a feira aconteceu de forma virtual devido à pandemia do Covid-19.

O que fará com o prêmio de US$ 1 mil?

Eu irei guardar o dinheiro e irei investir no meu projeto e em projetos futuros que já tenho em mente.

Qual é a sua rotina? Estuda quantas horas por dia?

Durante os meus dias eu ajudo meus pais em casa, estudo, leio bastante, gosto de assistir seriados, desenhos e animes, ando de skate com frequência, gosto de jogar, levo os meus cachorros quase todos os dias para passear, desenvolvo os meus projetos e por aí vai (risos). Normalmente, estudo uma média de cinco a seis horas por dia e gosto de aproveitar os meus finais de semana para descansar e fazer os meus hobbies.

Rafaela, você tem tempo para redes sociais, festas(antes da pandemia), namoro?

Sim, tenho tempo determinado para cada coisa sim.

Vai ao cinema? Lê muito? Quais são seus gêneros preferidos? Que tipo de música gosta?

Adoro ir ao cinema. Gosto de filmes de ficção, aventura, fantasias, comédia, cults, suspense, bibliográficos, drama, de tudo um pouquinho. Sou muito fã da saga Harry Potter, tanto em filmes quanto em livros, filmes sobre ciência e que me trazem reflexões, como Interestelar, também me atraem. Quanto aos livros, gosto de livros acadêmicos que falam sobre astronomia, física, química, psicologia, filosofia, sociologia, clássicos da literatura, fantasias, ficção e por aí vai(risos). Os estilos de música que mais gosto são: rock, clássica, MPB, rap’s, lofi, pop, eletrônica.

Antigamente, uma pessoa muito inteligente e estudiosa era chamada de ‘nerd’. E geralmente não gostava do apelido. Você é nerd? Os amigos a tratam assim? Se ofende, Rafaela?

Sim, eu sou nerd, gosto muito de estudar e aprender, e os meus hobbies são meio nerds(risos). Meus amigos me chamam assim e vejo como uma forma carinhosa e de admiração por parte deles, então eu gosto sim.

Concorda com o slogan ‘o mundo é dos nerds’?

O mundo é todos nós. Mas são os nerds que criam as soluções para os nossos problemas e coisas legais que nos dão entretenimento. Os nerds, as pessoas que consideramos inteligentes, sejam elas de qualquer área, desde as ciências até as artes, eu os considero os nossos super-heróis.

É fã de ‘Big Bang Theory’ e canais como National, Discovery?

Sim, adoro todos eles. Gosto dos documentários do National Geographic, HBO, Discovery Science, as batalhas de makers, competição de robôs, In a Nutshell, Ted Talks e por aí vai.

Já tem o futuro planejado? Qual faculdade fará quando sair da ETEC?

Tenho um planejamento sim. Pretendo fazer engenharia mecatrônica ou engenharia elétrica na Poli, USP, e me especializar em trabalhos voltados para a área social e ambiental.

Pretende trabalhar em qual área?

Quero trabalhar na área de engenharia mecatrônica ou elétrica e realizar muitas pesquisas e trabalhos científicos.

Muitos cientistas estão deixando o Brasil. Você pensa fazer o mesmo, Rafaela?

Penso sim em estudar e fazer pesquisas por algum tempo no exterior. Entretanto, o meu sonho é poder voltar para o Brasil e poder compartilhar tudo o que aprendi lá fora para as pessoas daqui. Quero poder fazer algo pela educação e pela ciência brasileira.

Tem algum ídolo na ciência?

Tenho vários: Marie Curie, Albert Einstein, Nikola Tesla, Stephen Hawking, Elon Musk, Isaac Newton, Ada Lovelace, Alan Turing.

Se você pudesse voltar no tempo e assistir a uma descoberta importante, qual seria este evento?

O lançamento da Apollo 11.

Rafaela, o que espera ver da ciência nos próximos anos? O que nos aguarda? Para onde vamos?

Eu não tenho muita noção do futuro não. A tecnologia se expande de maneira exponencial enquanto que a nossa linha de raciocínio se expande de maneira linear, então é meio complicado fazer previsões(risos).

Como jovem cientista, o que se sente quando ouve alguém dizer que a Terra é plana e que uma vacina pode transformar o ser humano em jacaré?

Realmente me dá tristeza ver esses tipos de correntes de pensamento, porque negam a ciência a todo custo com opiniões e achismos pessoais, com a utilização de jogos de argumentos totalmente falaciosos. São um desserviço total para o pessoal que sofre anos fazendo pesquisas como, por exemplo, a vacina. Contestamos ciência com ciência e não com opiniões sem embasamento nenhum. Contra fatos não há argumentos pessoais que quebrem estudos científicos renomados no mundo todo.

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