A vivência da realidade prisional faz parte do perfil do Dr. Drauzio Varella, médico renomado. Estou lendo o seu último livro: “Prisioneiras” – Editora Companhia Das Letras. Encerra a trilogia por ele proposta. O primeiro, “Estação Carandiru”, e o segundo “Carcereiros”.
Interessantíssimo! Durante 22 anos também participei, como voluntária, de um trabalho junto a presidiárias e presidiários, através da Pastoral Carcerária. Ouço, inúmeras vezes, em meus silêncios, o soluço de mães que, detidas, se separaram dos filhos. Escuto o gemido daquelas que deram à luz em uma casa de detenção e, após seis meses – tempo em que podiam permanecer com a criança no presídio -, pela falta de alguém próximo, que assumisse a guarda, foram destituídas do pátrio poder. Na ausência definitiva dos pequeninos que geraram, abortam os sonhos e se entregam às drogas. Há muitas mulheres encarceradas que vivem, aqui fora, na solidão.
No capítulo “Violência e confinamento”, de “Prisioneiras”, o Dr. Drauzio conclui: “No sistema prisional, as quadrilhas se formam para oferecer segurança, poder a seus membros e acesso a bens lícitos (alimentos, roupas, produtos de higiene pessoal, cigarros) ou ilícitos (drogas, armas, celulares). Quando uma sociedade não consegue garantir segurança nem acesso aos bens de primeira necessidade, é inexorável o aparecimento de um mercado paralelo e a convergência de interesses comerciais para suprir as demandas sociais.”
OUTROS ARTIGOS DE MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
VIVÊNCIAS COM VIAGENS CLANDESTINAS
PEQUENO CONTO DE NATAL PARA ESTE TEMPO
VIVÊNCIAS DE PEQUENAS GRANDES COISAS
VIVÊNCIAS DE EXCLUÍDAS NO CARMELO
Como isso é verdadeiro, não somente no sistema prisional, mas em diversos setores. Quando as famílias, por exemplo, não cuidam adequadamente de seus filhos, aparecerão “protetores” paralelos, com olhos de cifrão. Recordo-me de uma moça, abusada por um familiar, quando menina, e, no relato imediato aos pais, em lugar de proteção, recebeu palavras de descrédito. A primeira pessoa que se “comoveu” com sua história, levou-a, aos 13 anos, para palcos de leilão de corpos adolescentes, onde o comércio do sexo imperava.
Uma observação mais atenta sobre as periferias da cidade grande mostrará a força dos considerados benfeitores paralelos, pelo desinteresse da coletividade. (foto acima: pausaparaumcafe.com.br)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.