RELACIONAMENTO ABUSIVO: Jovem executiva conta história em livro

relacionamento abusivo

Milena Sousa(foto), de 23 anos, foi vítima de violência do ex-companheiro. Executiva de soluções, MBA em Big Data, moradora em Várzea Paulista, ela resolveu pôr um fim em seu drama particular e, para se libertar de vez, escreveu um livro: Os 12 Meses de um Relacionamento Abusivo. A obra está na internet e o acesso é gratuito. O Jundiaí Agora entrevistou Milena.

Você sempre escreveu?

Sim, mas pra mim. Na pandemia comecei a postar alguns textos, até ter coragem de escrever o livro.

Quando começou este relacionamento abusivo retratado no livro?

A quase 3 anos atrás…

Como era no início? Os abusos começaram logo ou levou algum tempo?

Levaram um tempo. O abusador sempre vai se pintar como ‘salvador da pátria’ criando uma relação de dependência entre vítima e abusador, até que a vítima se torna dependente emocional. E é ai que o abusador finalmente se ‘revela’.

Vocês moraram juntos? Casaram? Tiveram filhos? Ele e vocês trabalhavam? Ou só você e ele se aproveitava disso?

Moramos juntos por um tempo em um apartamento em Jundiaí. Não nos casamos. Achei melhor apenas ‘morar junto’. Hoje reconheço que essa atitude foi resultado de um impulso. Não tinha maturidade para lidar com tudo aquilo de uma vez só. Sempre priorizei minha carreira e por isso decidi não ter filhos. Até porque se hoje me considero muito nova pra isso, naquela época eu era muito mais. Eu sempre trabalhei. Ele ia de um bico para outro. Hoje também vejo que além da violência psicológica, sofri de violência patrimonial.

Você pode detalhar como era este relacionamento abusivo? 

Começaram gritos e escândalos quando estávamos a sós. Lembro que ele batia nas coisas ‘para não me bater’. Depois isso foi avançando pra chantagem emocional e tortura psicológica. Eu sempre tive problemas de autoestima e ansiedade. Essas eram as ‘armas’ dele. Sempre tentava me colocar pra baixo, ele mentia muito, principalmente sobre dinheiro. Escrevi o livro pra digerir muita coisa desse tipo. Não sofri agressão física, mas creio que foi porque consegui deixá-lo antes. Também tinha a violência patrimonial, ele tinha acesso a meus cartões, senha de banco, na época perdi o controle sobre meu próprio dinheiro.

Qual foi sua reação? Inércia? Agredia também? Procurou a polícia? Tentou deixá-lo? Foi ameaçada por isso?

Eu me condicionava a aceitar os constantes abusos. Tinha muita dificuldade de entender que eu merecia mais que aquilo. Eu nunca agredi. Não sabia que o que eu estava passando poderia ser denunciado. Só reconheci que aquilo era uma relação abusiva quando saí. Ele me ameaçava de uma maneira diferente, fazia chantagem psicológica que caso eu terminasse com ele, ele simplesmente sumiria ou cometeria algo contra a própria vida. Eu nunca duvidei disso. Quando eu o aconselhava buscar ajuda médica, ele sempre recusava. Daí, eu achar que tudo era chantagem.

Você diz que o abuso avança de forma silenciosa e a vítima não percebe que está sendo manipulada. Pode explicar melhor?

Relações abusivas começam de forma incrível. Num dia você acha que está com o amor da sua vida. Ele faz tudo por você. Mas aí um dia ele aumenta a voz e perdoamos. No outro ele violenta você e perdoamos. Até ele ter total controle sobre nós, por conta da dependência emocional. Isso também pode ser conhecido como ciclo da lua de mel. Mas com toda certeza a melhor profissional para falar sobre o assunto é um(a) psicólogo(a).

O que faz alguém viver 12 meses com uma pessoa que não tem o mínimo de respeito por ela?

Hoje me pergunto a mesma coisa. Mas na época eu realmente achava que estava apaixonada e por isso me condicionava a isso. Eu queria me sentir amada, mesmo que por cinco minutos.

Passava pela sua cabeça a possibilidade de fugir ou até – numa situação limite – matar seu agressor?

Tentei voltar para casa dos pais por três vezes e isso eu descrevo bem no livro. Mas ele também tinha manipulado as pessoas à minha volta. Para todo mundo eu era ‘uma louca mimada difícil de lidar’. Terminei antes de chegar no meu limite e ainda assim sinto que demorei tempo demais.

Como foi o fim do relacionamento? Teve apoio da família e dos amigos?

Minhas amigas me apoiam até hoje. Elas são incríveis o tempo todo. E minha família me apoiou no começo.

Chegou a ser perseguida por ele depois?

Através das redes sociais. Eu sempre o bloqueava mas voltava em algum perfil diferente. Ele também costumava seguir as pessoas que eu seguia e isso me aterrorizava. Até mesmo quando estávamos juntos, ele tinha a senha do meu celular, sempre via escondido e lia até as conversas com meus colegas de trabalho em ferramentas de trabalho. Hoje em dia não me persegue mais.

Como é seu relacionamento hoje com o agressor?

Inexistente. Inclusive ele ficou me devendo bastante dinheiro e isso também está no livro. Arquei com todas as despesas sozinha. E também não quero contato nenhum. Não vejo como isso poderia acontecer. Desejo apenas que ele encontre Deus em seu caminho.

Frase do livro da executiva de soluções, Milena Souza

Quando e por que decidiu escrever um livro contando a sua história? 

Na verdade eu estava mergulhada em dor. Mesmo depois do término continuei descobrindo mentiras atrás de mentiras. E eu não sabia que poderia ser denunciar na Delegacia da Mulher. Então, escrevi o livro para ressignificar minha dor. Foi muito libertador não só para mim, mas para muitas garotas que me procuraram contando suas histórias.

Quanto tempo levou para colocar no papel os 12 meses de relacionamento abusivo?

Foram cerca de três meses. Escrevia constantemente para processar os fatos…

Como foi reviver tudo o que passou? Muito sofrimento ou foi libertador?

Com certeza libertador. Dói rever tudo. Mas foi nesse momento que olho pra trás e vejo a força que tive. Também foi minha oportunidade de agradecer a Deus por estar viva.

Em algum momento pensou que não conseguiria concluir o livro?

O tempo todo. Tinha muito medo de não conseguir concluir porque meu relacionamento foi muito exposto em redes sociais, o que foi um grande erro. Então quando decidi falar a verdade, quando terminei o livro, muitas pessoas me questionaram achando que me relacionamento era perfeito, o que era uma total mentira.

Quem quiser ler, como deve fazê-lo? 

Ele está disponível através de um link e é totalmente grátis. Nunca quis monetizar isso, pois quando estava vivendo isso queria muito que alguém tivesse me mostrado um material como eu fiz.

PARA ACESSAR O LIVRO OS 12 MESES DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO CLIQUE AQUI

Apesar da Lei Maria da Penha, que aumentou as punições para os agressores, a violência doméstica e até assassinatos de mulheres continuam acontecendo. Como você vê isto?

É extremamente triste casos como esses continuarem acontecendo. Nossa sociedade é extremamente machista e vejo que essa é uma das raízes dos problemas. Quando uma mulher consegue se libertar muitos questionam os motivos que levam uma mulher a continuar com um cara que a desrespeita. Mas não questionam o abusador, o real motivo dele ser assim. Isso é injusto. Nós mulheres devemos falar mais sobre isso, o que é saudável numa relação ou não. Na minha família nunca houve essa conversa. Quando comecei a namorar e alguém gritava comigo eu pensava ‘ah ok, é só mau humor’. Só que essas coisas não podem acontecer mais.

Nas últimas semanas, o país inteiro viu imagens de um DJ agredindo violentamente sua mulher. O que você sentiu ao assistir as cenas?

Extrema tristeza e estou respondendo essa pergunta em lágrimas também. Toda vez que uma pessoa que possui visibilidade como influencers ou atrizes são agredidas e o caso ganha repercussão, também fico triste. É um filme que passa na minha cabeça toda vez. Mas eu vejo um ponto de esperança em cada ação dessa: dar visibilidade para mulheres falarem sobre seus abusos, o que abre espaço para várias outras mulheres fazerem isso. Como quando a life coach Mayra Cardi se libertou de seu relacionamento abusivo.

Qual o recado que você dá para a mulher que vive uma situação como a que você enfrentou?

Não tenha medo. Ninguém vive de migalhas. Nunca tenha vergonha de pedir ajuda, ninguém está sozinha, por mais clichê que isso seja. Nunca deixe ele cuidar do seu dinheiro e tenha sempre sua independência. Sempre saiba reconhecer o fim e tenha força para recomeçar sua vida sempre que necessário.

Depois de tudo que passou, chegou a aconselhar alguma mulher vítima de agressores? Foi ouvida?

Muitas mulheres me procuram para conversar e eu acho incrível o fato de poder ajudar essas mulheres de alguma maneira. Sinto que conversar faz parte da cura e sempre escuto quem me procura. Nós mulheres temos que emponderar outras mulheres.

Como se sente hoje?

Bem. Sinto que aprendi a ficar sozinha, e apreciar minha companhia. Eu sempre me coloquei em relações ‘ruins’ porque sentia que precisava ser amada por outra pessoa, terceirizava algo que deveria vir de mim. Viver toda essa situação me fez entender que sou a pessoa mais preciosa que tenho. Engordei 20 quilos nessa relação. Hoje já perdi quase tudo. Aprendi a apreciar processos e como observar o caminho é importante. Hoje me sinto plenamente bem.

VEJA TAMBÉM

REPOSIÇÃO DE VITAMINAS PARA GESTANTES: VEJA VÍDEO COM GINECOLOGISTA LUCIANE WOOD

ACESSE FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES

PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI