RENASCIMENTO PSICODÉLICO: Hippies, artes, moda e até ônibus…

renascimento psicodélico

Dois anos atrás estiveram em pauta nos meios científicos/acadêmicos estudos que foram curiosamente denominados de Renascimento Psicodélico. Profissionais da área abriram gavetas há muito trancadas, desde o grande período que ficou marcado com a chamada contracultura, onde tivemos os movimentos alternativos, a expansão dos hippies e toda aquela aura psicodélica, alimentada principalmente por uma substância que rapidamente se popularizou por uma suposta “expansão da consciência”.

Esses elementos que mexem com a mente e seus efeitos diversos no organismo humano são experimentos antigos na humanidade. Muitas comunidades, inclusive indígenas, têm conhecimento e fazem uso. Mas a comunidade científica e urbana alavancou as experiências durante e principalmente após o período das duas grandes guerras mundiais. E daquele período turbulento ficaram contribuições positivas e negativas à sociedade, dependendo do ponto de análise de cada segmento social. Enquanto políticos fechavam seus países em ditaduras de esquerda e também de direita, grupos secretos estudavam a fundo física, química, biologia… laboratórios floresceram e adquiriram poder. E a corrida espacial “lacrou” o período.

O conjunto do Renascimento Psicodélico é amplo. Não se restringe a meia dúzia de temas, aos hippies, à música, à literatura… nem se deve atribuir tão somente a um “efeito oriente”, como se aplica superficialmente à contracultura – “oposição à cultura ocidental”. O fechamento de países, a divisão mundial promovida pela guerra fria estimulava todas as áreas, da científica à religiosa. A obsessão do pensamento “pode ter um inimigo me vigiando” acelerou a investida nos campos espiritualistas, independentemente de suas origens, se orientais, tribais ou não. E dentro dos nichos tradicionalistas, conservadores, foram surgindo aqueles que estudavam as “armas do adversário” e sutilmente passaram a fazer uso das mesmas. A chamada projeção astral foi (digamos) treinada para uso dos soldados na guerra. E ciência e religião se aproximaram como nunca antes se viu na história. Nos Estados Unidos surgiram seitas com as mais variadas finalidades. Algumas dessas seitas estenderam seus tentáculos em países pobres, com objetivo de fazer uso das faculdades mentais da população. Óbvio, afinal que governo frágil ou corrupto questionaria missionários ou cientistas da nação-império? Nada também como uns dólares para calar tais governos.

A onda científica-religiosa-psicodélica baixou anos depois, com o fim da guerra fria, inclusive as pesquisas acerca daqueles elementos psicotrópicos. A fase da contracultura passava mas deixou raízes que germinaram nos anos seguintes, com nova roupagem. Filmes de Hollywood criaram estilos, modas, despertaram novos intelectuais. Da “febre alienígena” temos hoje cultos secretos a extraterrestres nos nichos das classes A e B. Nada de criação atual, as raízes estão lá atrás. Num livro científico norte-americano está lá, grafado com todas as letras, “há planetas estranhos em Arcturus, vozes apregoam um nome desconhecido no céu”. Portanto, não há o que se estranhar quando lemos recentemente algo como Renascimento Psicodélico. Ainda mais quando coincidiu com o ano da Covid-19.

Diante da impossibilidade de se colocar freio no que quer que seja, pois a história do mundo mostra que a marcha científica e tecnológica segue sem um ponto final visível adiante, o que se pode e deve fazer é adequar essa marcha aos benefícios coletivos, alimentando um ideal que se perdeu na fase de transição, com o fim da guerra fria, entre as décadas de 80 e 90. Retirando os excessos e o liberalismo irresponsável, foi o período em que mais se colheu frutos da capacidade criativa do ser humano na arte, literatura, dramaturgia, psicologia… não desmerecendo os períodos antigos da história, onde foram imortalizados gênios da arte. Focando em nosso país, tivemos nomes consagrados na música e na literatura. Excelentes obras didáticas e paradidáticas. Mesmo com autores influenciados pela cultura norte-americana, muito se produziu de acordo com a realidade e a cultura brasileira. Como citado indiretamente no início deste texto, a censura, o “proibir”, tudo o que era oculto e fechado por nações e seus povos passou a ser objeto de estudo e inspiração. A onda psicodélica, que pode também ser caracterizada por cultura psicodélica, não se restringiu aos psicotrópicos, legalizados ou ilegais. Não era necessário fazer uso desta ou daquela substância para ativar pontos “adormecidos” do cérebro. Bastava um olhar além das rédeas impostas por governos, por dogmas e doutrinas. Em meio ao joio, florescia também o trigo. Se perdemos alguns grandes nomes para o joio, nas overdoses da ansiedade por liberdade ampla, total e irrestrita, ficaram lições valiosas. Alertas para evitar velhos erros nesses mergulhos no subconsciente.

Nestas linhas finais, deixarei exemplos interessantes em imagens e detalhes que marcaram aquele período do Renascimento Psicodélico e imaginação nas alturas. Muito além das obras literárias, as artes, desenhos e pinturas ousaram e não ficaram restritas às escolas, galerias… projetaram-se pelas ruas, fachadas, letreiros e até veículos, como os ônibus. Do visual “quadradão”, de linhas retas, meros traçados com as cores de suas empresas até os anos 60, o empresariado de transporte embalou nos anos 70 e 80 nas mensagens “psicodélicas”, subliminares, onde a criatividade se expandia e ousava romper com certo conservadorismo. Embora as produções norte-americanas na época já extrapolassem as limitações do conservadorismo e revelassem nudez, prostituição e até satanismo, no Brasil os artistas ainda exploravam com bons olhos o erotismo, longe da pornografia. No Rio de Janeiro, das praias e biquínis, uma (hoje extinta) empresa de turismo chamou um designer para ilustrar em seus veículos o corpo da mulher, de forma sensual, sem vulgaridade. Já em terras paulistas, o olhar enigmático nos veículos de uma operadora da Baixada Santista. Há quem associe a uma discreta referência aos “olhos de Hórus”. E muitos outros empresários naquelas décadas criaram em seus ônibus pinturas com visual de impacto e mensagens ocultas, abusando das formas, cores e criatividade. Até mesmo a arte surreal foi para as ruas. Só não chegou aos ônibus urbanos porque no final da década de 70 começou o conceito de pinturas-padrão, porém com estudos técnicos, onde nas grandes cidades, com várias operadoras, dividiram-se as linhas por região e cores por região, servindo para melhorar a comunicação visual aos usuários, que identificavam seu ônibus pela cor. Algo que na década de 90 e 2000 também quase acabou por prefeituras passarem a estampar comunicação política nos ônibus. Em vez de comunicação visual de orientação aos usuários ou referência ao município, passou a ser marketing político/partidário nos ônibus urbanos. Uma ameaça que também paira sobre alguns segmentos do serviço rodoviário.

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Da surpresa de um possível Renascimento Psicodélico, cabe uma reflexão sobre os bons frutos e aqueles que não convêm. A história está aí para deixar o alerta. Manifestações ordeiras e criativas. No atual estágio da humanidade, com toda a tecnologia e conhecimento acessível, é possível descobrir e valorizar talentos nas artes plásticas, na literatura, na música… e mesmo nos meios científicos. Com os devidos cuidados.(Foto principal: Edilson da Costa/Ônibus Brasil – Fotos internas: Busontheroad)

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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