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Avaliamos o Renault E-Kwid: Um compacto carregado de emoções

Renault

Tive a oportunidade de passar 15 dias em companhia do Renault E-Kwid, que se tornou o veículo dos meus deslocamentos diários. Aliás, foram dias intensos, recheados de momentos de alta tensão (desculpe o trocadilho) e de alegrias. Um teste drive diferente, que reforçou algumas das minhas convicções sobre os elétricos e que também me fez repensar vários conceitos que tinha sobre esses modelos.

Tá com medo do quê? – Para começar, fui buscar o carro em São Paulo, o que me obrigou a encarar um dos meus temores e se transformou no primeiro desafio: pegar estrada com um elétrico feito para rodar na cidade e, por isso, com baixa autonomia. A esta altura você deve estar se perguntando: “Ué, mas a bateria do E-Kwid não tem autonomia para rodar pelo menos 185 quilômetros? E a distância de São Paulo até Louveira é de apenas 75 quilômetros…”

Para começar, carro elétrico não gasta como os carros a combustão. Se os eletrificados arrancam com a força de fazer inveja aos antigos V8, eles também cobram a conta e consomem pra caramba, principalmente quando você afunda o pé direito ou roda em velocidades mais altas.

Sabendo disso, e cuidando para não torrar toda a carga só para chegar em casa, cometi a imprudência de vir pela Rodovia dos Bandeirantes, “passeando” a modestos 90 km/h, sem dar muita atenção às constantes buzinadas, fechadas e piadas dos caminhoneiros que me ultrapassavam a toda velocidade. Em tempo: a opção de vir a essa velocidade foi minha, porque o E-Kwid alcança a máxima de 130 km/h, tá bom? Tudo para gastar menos.

Uma pausa para garantir… – Na estrada, à medida que pegava trechos de subida ou precisava pisar um pouco mais no acelerador, o marcador de carga, que é igual ao que mostra quanto combustível ainda tem no tanque do seu carro, me alertava que o consumo de energia estava alto, com o implacável mostrador insistindo em baixar a cada pequeno trecho rodado. Com a autonomia despencando, a bateria deixou claro que estava descarregando rapidamente.

Como aqui onde eu moro não há muitos pontos de recarga, resolvi dar uma parada num shopping de Jundiaí para tentar completar a bateria e garantir um pouco mais de tempo para testar o carro.

Para rodar cerca de 60 quilômetros na estrada, o E-Kwid consumiu quase 20% da carga, mais ou menos ¼ da capacidade. E foi aí que caiu a segunda ficha: o tempo para abastecer.

Para completar a bateria na estação de recarga foram 45 minutos. E como era hora do almoço e a agenda estava livre, dei uma volta pelo shopping e o tempo passou rapidinho.

Ah, é bom lembrar que nesse shopping são apenas duas vagas para recarga. Quando cheguei uma delas já estava ocupada… Se outra pessoa tivesse a mesma ideia, talvez os 45 minutos se transformariam em algumas horas. Vai saber.

Por isso, se você pensa em ter um elétrico na garagem, independente da autonomia, aí vai minha primeira dica: Se for preciso pegar estrada, é bom fazer um planejamento antecipado, prevendo paradas e adaptando o seu tempo ao tempo do carro.

Na cidade, pura alegria! – Passado o primeiro perrengue e com a bateria cheia, vieram os primeiros momentos de pura curtição.

O E-Kwid tem apenas 3,74 m de comprimento e pesa apenas 977 kg, medidas que, aliadas ao fato de que os carros elétricos não terem transmissão e a força do motor ir direto para as rodas, circular com agilidade no trânsito garante um sorriso permanente no seu rosto.

Pisou e ele reponde. E o melhor, rodando na cidade ele usa a energia que os carros a combustão desperdiçam ao frear para carregar a bateria.

Se você já teve a chance de pilotar um carrinho de autorama vai entender essa outra diferença. Quando você tira o pé do acelerador, e aciona a tecla ECO no painel, o carro desacelera e vai rapidamente perdendo o embalo. Depois que se pega o jeito, na maioria das vezes você nem pisa no freio.

Hora de recarregar novamente – Rodando em trechos urbanos a autonomia se mostrou suficiente. Da minha casa até a redação em Jundiaí são exatos 15 quilômetros. O E-Kwid consumiu meia carga em três idas e vindas nesse percurso e pelo menos umas quatro viagens até Vinhedo, que fica a 6 km de onde eu moro.

Seguindo a valiosa dica do Marcos Favale, que manja muito de carros e cuida da entrega dos veículos da frota de imprensa da Renault, baixei no meu celular um aplicativo que mostra em tempo real onde você encontra os pontos de recarga. A propósito, o aplicativo é o Plug Share, que você baixa na Play Store, para Android, e na App Store, da Apple.

E foi assim que acabei descobrindo um eletro posto aqui em Louveira, instalado na Luminares, uma empresa especializada em instalação de placas fotovoltaicas para geração de energia em residências e empresas.

Curiosamente, acabei inaugurando esse ponto de recarga, que pertence ao agora meu amigo Luiz Celso de Freitas e que conta com dois carregadores e está sempre disponível.

E quanto custa para abastecer? Os pontos de recarga cobram, em média R$ 2 por kilowatt. No caso do E-Kwid, que tem uma bateria de 26,8 Kw, uma carga completa do zero até os 100% custaria em torno de R$ 54. Mas como num elétrico você nunca usa a bateria até o talo, pelo menos é o que recomenda o bom-senso, uma carga média sai por menos de 20 reais… Baratinho.

Tem ainda a opção de carregar o carro na tomada de casa. Mas ai a coisa é um pouco mais complexa. O E-Kwid vem com um kit portátil para ligar na tomada. Além de ser muito mais lento para carregar, a sua tomada precisa ser de 20A (amperes) e ter um disjuntor de pelo menos 35 amperes.

Um alerta: carro elétrico não aceita gambiarras, por isso, tanto as instalações de uma tomada dessas, quanto a de uma estação doméstica (que custa por volta de R$ 10 mil) devem ser feita por um eletricista credenciado. Senão, o risco de colocar fogo no carro e na sua casa é grande.

Elétrico? Pra rodar na cidade funciona… – Quem me conhece sabe que eu não acredito, pelo menos a curto prazo, na tese de que os carros elétricos irão assumir definitivamente o lugar dos modelos movidos por motores a combustão (etanol, diesel ou gasolina). Acredito sim, que por pelo menos algumas décadas, os motores elétricos serão mais uma alternativa (e não a única e definitiva solução, como pregam alguns) para a redução nas emissões de gases nocivos pelos veículos. A lista de motivos é enorme, mas aqui vou me dedicar a apenas dois deles. 

Primeiro, apesar das fabricantes trabalharem pesado para viabilizar os veículos elétricos, a infraestrutura não vem evoluindo na mesma velocidade. Em países pequenos e ricos, ok, é menos complicado montar uma rede de abastecimento. E olha, aqui não vou tratar de como essa energia elétrica foi gerada em vários países europeus, que prometem acabar definitivamente com os motores a combustão até 2035… Essa história fica para depois.

Em segundo lugar, quando pensamos no Brasil, um país com dimensões continentais e com tantas diferenças econômicas, onde tradicionalmente as obras de infraestrutura são públicas, o buraco acaba ficando muito, mas muito embaixo…

Como disse acima, a lista de argumentos é enorme, mas essa história fica para uma outra oportunidade…

E o preço, compensa? – A concorrência das fabricantes ocidentais com os chineses está pegando fogo! Atenta à movimentação dos concorrentes, a Renault baixou o preço do E-Kwid, também chamado de Kwid E-Tech, em mais de 20 mil reais, passando de R$ 123.490 para R$ 99.990.

Se for colocar na ponta do lápis, os elétricos ainda são caros, quando comparados aos modelos flex. Mas é bom lembrar que as despesas do elétrico são muito, mas muito menores, a começar pela recarga.

Ao contrário dos carros comuns o número de peças móveis é infinitamente menor. Você irá se preocupar com os pneus, suspensão e freios. Ah, e claro, com a bateria.

Mas a maioria dos fabricantes oferece seus elétricos com até 8 anos de garantia para o componente. Com o tempo, certamente esses custos vão compensar. ©Joaquim Rimoli | AutoMotori 2024

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