Papai contava a história do Rompe Ferro. E não mudava uma vírgula. Eu, meus irmãos e minha mãe o ouvíamos deitados numa cama grande.
Era uma vez um homem bom e um homem ruim.
O ruim estava sentado na sarjeta com amigos. Apareceu um cachorro magro com bernes no corpo. O homem ruim resolveu se divertir. Amarrou umas latas na cauda do cão e o espantou. Quanto mais o bicho corria mais barulho fazia. Assustado e exausto entrou num portão aberto e ali se deitou.
Era a casa do homem bom. Ao ver o bicho, livrou-o imediatamente das latas. Deu comida, água e curou os bernes. O cão ali ficou. Mas… e seu nome?
Certo dia, o papagaio da casa enroscou-se na própria correntinha. O cachorro foi até ele e roeu a corrente soltando o amigo. O homem bom disse:
-Seu nome será Rompe Ferro!
Tempos depois, o homem ruim foi roubar a casa do homem bom. Rompe Ferro o impediu de entrar.
O malvado jurou vingança. Quando Rompe Ferro estava só, entrou na casa e o levou para o mato. Acorrentou-o a uma árvore e deu-lhe uma surra com chicote. “Amanhã volto para continuar batendo”, disse entre risadas.
Assim que ele se afastou Rompe Ferro começou a roer as correntes. A boca sangrou. A sede era insuportável.
O homem ruim voltou no dia seguinte. Gargalhou. Numa fúria, Rompe Ferro roeu o último pedacinho da corrente e avançou mordendo ferozmente o torturador.
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O homem bom chegou. Havia procurado o cão durante toda noite. Levou o homem ruim para o hospital e depois para a polícia e seu amigo Rompe Ferro foi para casa.
A ternura paterna alimentando a infância. Exemplo de bondade e luta que só um adulto compreenderia. Acreditem: essa história já me ajudou a superar muitas dores e principalmente a quebrar muitas correntes.(Foto: Pragyan Bezbaruah/Pexels)
JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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