RUBEM BRAGA e suas obras-primas

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Há livros que são verdadeiras obras-primas da Literatura nacional. Um deles é “200 Crônicas Escolhidas”, de Rubem Braga, que colhia assuntos no seu cotidiano e primava pela linguagem simples, de fácil acesso, chegando ao coloquial. Talvez, por esse motivo, sempre agradou.

No dia 12 de janeiro, o grande escritor, nascido no Espírito Santo, faria 110 anos; faleceu aos 77 anos, no Rio de Janeiro. Apesar de tanto tempo, suas crônicas continuam sendo lidas, admiradas, usadas no ensino médio e nos vestibulares. Para perdurar tanto tempo, um trabalho literário precisa ter muito valor.

Em sua biografia consta que, ainda estudante, Rubem Braga começou a trabalhar em jornal, publicando crônicas diárias no “Diário da Tarde”, em Belo Horizonte, cidade para onde se transferira. Histórias incríveis são contadas a seu respeito porque, desde pequeno, demonstrou ter opinião e ser contra a arrogância dos poderosos sobre os mais fracos. Durante o período do Estado Novo, se revoltou contra a repressão vigente e foi preso, várias vezes, como jornalista subversivo. Não conseguia ver injustiças sem se pronunciar e, por isso, era perseguido.

Aos 22 anos, editou seu primeiro livro: “O Conde e o Passarinho”, no qual publicou vários textos muito agradáveis de serem lidos. Entre eles, encontramos a crônica “O Morro do Isolamento”, relatando a vida de um homem solitário, chamado Profeta, que vivia em companhia de uma cobra e de um tatu. Ficava isolado, meditando sobre a vida, e achava que a cobra e o tatu eram melhores companhias do que as pessoas.

A crônica “O Conde e o Passarinho”, que deu nome ao livro, é um relato bem-humorado e irônico ao mesmo tempo, eis um excerto: “Devo confessar que, entre um conde e um passarinho, prefiro um passarinho. O passarinho canta e voa. O conde não sabe gorjear, nem voar. O conde só gorjeia com os apitos das usinas. O conde só gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o conde é conde porque é industrial. Um dia, o conde estava passeando pelo parque; ele tinha uma medalhinha de ouro presa com uma fitinha que exibia na lapela. Era o Conde Francisco Matarazzo. De repente, ele viu um passarinho. Ficou encantado porque o passarinho voava para ele. O conde ergueu as mãos, feito uma criança. O passarinho desviou e se dirigiu ao peito do conde, bicou a fitinha e saiu voando com ela e com a medalha. O conde ficou muito aborrecido…”.

Conforme disse acima, Rubem Braga aproveitava o cotidiano para escrever crônicas. Quando via algo diferente, logo lhe vinham reflexões a respeito da cena e a ideia de escrever, seu olhar estava sempre dirigido para o dia a dia. A crônica, do mesmo livro, sobre o motorista do caminhão de lixo aborda a importância de uma pessoa simples no seu mister. Segue um excerto:

“Enquanto os ajudantes vão pegando as latas de lixo, o motorista, todos os dias, pega um espanador e uma flanela e faz seu carro ficar brilhante, como novo. É um herói silencioso que parece dizer aos homens da cidade: – O lixo é vosso; meus são esses metais que brilham, estes espelhos que esplendem e esta consciência limpa.” E continua: “Talvez, na adolescência, ele sucumbisse à tristeza se uma cigana cruel lhe mostrasse um retrato da sua velhice: gordo, manco, a parar de porta em porta; ou estremeceria de alegria se ela falasse: – Vejo-o guiando um carro grande na Avenida Rio Branco; você para diante de um edifício de luxo; o carro é novo, polido, reluzente…”

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No livro “200 Crônicas Escolhidas” foram publicados textos de seus vários livros, uma leitura muito agradável, sendo consideradas as mais belas páginas da nossa Literatura. Foi o único escritor a conquistar um lugar na Literatura, exclusivamente, como cronista. Os temas que usava para desenvolvê-las eram colhidos da vida simples, do dia a dia das pessoas, dos animais, da natureza, etc.

Eis mais uma interessante que, com certeza, agradará: “Os Romanos”

“Foi no Leblon, num domingo de sol, e não era escola de samba nem rancho oficial. Eram quase todos negros, muito fortes e vestidos de maneira imaginosa: com saiotes , escudos e capacetes dourados ou prateados, e com espadas douradas nas mãos. Cantavam o samba: Maior é Deus no Céu…e no estandarte estava escrito: Henredo: O Império Romano. Todos riam desse “H” no enredo. Um deles, talvez Júlio César, com seu capacete prateado, brandindo com o enorme braço negro uma espada de ouro, nunca esteve tão soberbo na sua glória. E esses pretos que dominam o mundo com suas espadas de brinquedo e se fazem Neros, Calígulas e Brutus são os mesmos que, de súbito, se precipitam esfarrapados pelas ruas,pois, quando  não são imperadores, preferem ser miseráveis e não os pobres contribuintes da taxa sindical do ano inteiro.”

Rubem Braga foi e, ainda é, considerado o maior cronista brasileiro. Soube impregnar todos os textos com amor e valorização da vida, especialmente, das pessoas mais simples, que veem no cotidiano sua razão de viver. Ele “lia” a alma das pessoas que cruzavam seu caminho e sua rica imaginação criava textos repletos de sentimentos. Faleceu há 33 anos e continua a ser lido e admirado. Salve Rubem Braga!(Foto: Divulgação)

JÚLIA FERNANDES HEIMANN

É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof. Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.

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