O estranho RUÍDO silencioso e interno que nos tortura…

ruído

Diz a música que dentro de nós mora um anjo. Entretanto, nem sempre temos apenas um anjo dormente. Por vezes temos um estranho ruído silencioso e interno que nos tortura. Sim, um ruído silencioso que cala no mais profundo espaço de nosso ser, de forma incômoda e gelada, apavorando e desassossegando nosso íntimo, inquietando-nos de maneira ímpar, sem dar trégua e sem deixar de dor. É ruído intermitente.

Todos nós procuramos abrigo, neste momento de dor. Todos nós procuramos conforto e fugimos de alguma coisa que possa nos aterrorizar, já que não é visível nem físico. Uma dor, uma desilusão, uma vergonha, um adeus. Então, percebemos que este estado de alma vem acompanhado de noites em claro, de rotinas estafantes e banais. Porém, todos nós sentimos estes nós na garganta e precisamos de desapertar o coração.

Diminuir o ruído e desatar o que nos mágoa é sinal de encontrar paz, dentro ou fora de nós: numa viagem, num livro, numa música, numa fotografia, numa dança, numa memória. Distante ou perto, suave ou rude, todos nós precisamos de um refúgio que nos alivie a dor. Às vezes encontramos num abraço, numa mensagem da internet, numa conversa ou num sorriso. Na verdade, todos nós estamos acorrentados a algo que nos prende e nos remete ao sofrimento, mas buscamos sempre nos libertar.

Infelizmente somos prisioneiros do que nos mágoa e estamos sempre  querendo um lugar seguro, um espaço para descansar a alma, um coração onde possamos morar, um olhar que perceba o nosso: uma resposta para este nosso silêncio que grita alto e nos mostra que somos refugiados do que nos fere. Estamos, sempre, tentando silenciar o estranho ruído silencioso e interno que nos tortura e nos mata calado.

Não há quem não tenha uma grande dor escondida na alma e não importa o quão rápido você corra, a dor sempre vai correr mais rápido que você. Às vezes a dor se torna uma grande parte da sua vida, fazendo com que nós esperemos por ela sempre, visto que não conseguimos nos lembrar de algum momento da nossa vida em que ela não esteve presente. Além de incapacitante, ela é torturante e fria.

Alguns perguntam: é possível sentir dor na alma? Não apenas os poetas, nem tão somente os loucos a conhecem, como companheiras de Vida; a dor da alma tem como causas situações conhecidas ou desconhecidas do sujeito, que se concretizam em sentimentos e emoções penosas e, muitas vezes, sem descrição possível. Podemos nomeá-la como o medo, a angústia, a tristeza, a insegurança e a desesperança, propostas que são paralisantes e tornam-se companhia constante da pessoa.

Uma fiel (talvez a única) companhia da pessoa, a dor da alma é a pior de todas as dores por ser invisível, por não aparecer na ultrassonografia, no raio-x, na tomografia. Entretanto está lá, silenciosa, gelada, maligna e incompreendida. Para este tipo de dor não tem morfina. Não se conhece algum especialista que a tenha diagnosticado. Ela maltrata, amargura, definha e… mata. É o tipo de dor que pede a própria morte; implora por um fim. Por isso, é conhecida como a mais perigosa de todas as doenças. A que não pode ser julgada.

Na verdade, ninguém a merece, apesar dela ser consensual e atrevida, pois aparece de repente e se mantém oculta, na espreita da oportunidade para se manifestar e desestruturar Vidas. Pelo menos por compaixão deveríamos poder extingui-la. Aquele que ao seu lado padece deste mal não merece seu olhar de acusação, nem seu julgamento impiedoso: não é um fraco nem um insano, tão pouco trata-se de falta de vergonha na cara, nem é falta de vontade e nem de Deus no coração: é alguém acometido de uma dor d´alma sem fim.

De todas as dores, a mais incompreendida. Ofereça seus ouvidos, estenda suas mãos, permaneça ao lado. Perceba as angústias, tristezas, conflitos, culpas, medos, sofrimentos: eles são reais, sim. Não há o que mude aquilo que está por dentro. Somente sabemos que toda ajuda é bem-vinda. Amigos, família, religiões que entendam e apoiem, grupos de apoio, tudo que puder entender esta dor é lucro. Além disso, a terapia é a grande saída. É o espaço de desabafo, do desafio de vomitar aquilo que tanto dói.

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É na terapia que se vai repensar, entender os afetos, fazer as pazes com o passado, afogar as traições e mágoas acumuladas e reorganizar o futuro, ainda que a esperança não nos visite. É o espaço ideal para reavaliar as relações interpessoais, sejam elas quais forem, mesmo porque e comum pessoas entrarem em relações abusivas e não se darem conta, sofrendo ou fazendo sofrer. A terapia ajuda a desvendar cada uma dessas situações.

Terapia não é para malucos, uma vez que malucos são os que se acham normais e saem por aí ditando regras na vida dos outros ou atropelando princípios e normas, sem zelar pelo respeito e pela existência alheia. Terapia é lugar de pessoas fortes, de gente que sofre, sim, mas acredita que pode ser mais feliz. É nela que organizamos nossos espaços íntimos e enfrentamos nossa dor da alma, confirmando nossa vontade incansável de viver. Novamente, como diz a música: dentro de mim mora um anjo, que me sufoca de Amor…(Foto: Ana Bregantin/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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