Juntos, Banco Santander e CRC(Central de Recuperação de Crédito) conseguem transformar a vida dos devedores da instituição financeira num inferno. Através de telefonemas seguidos, torturam quem está tentando trabalhar para – ironicamente – pagar a dívida. E o pior: não adianta ir até o gerente da conta, explicar a impossibilidade de renegociação da dívida e ouvir que seus telefones serão retirados do cadastro da CRC. Quando os números caem nos registros da empresa de cobrança não resolve implorar, xingar, reclamar na ouvidoria do banco, procurar o Procon ou Banco Central.

Um cliente da agência da rua Barão de Jundiaí conta que está devendo cerca de R$ 25 mil e passou a ser bombardeado por telefonemas. A média diária é de 20 ligações no celular e 20 na residência, simultaneamente. Mas, para a Ouvidoria do Santander, isto não é cobrança abusiva. “As interações estão ocorrendo conforme a regra que conduz essa atividade, inclusive os dias, horários e quantidade de interações”, afirma o banco através de documento.

De acordo com o gerente da conta, a empresa de cobrança não pode ligar mais do que sete vezes para o devedor. Então, como explicar as 20 ligações? Simples: segundo o bancário, as empresas de cobrança costumariam ter vários CNPJs. Por isto os telefonemas são feitos de estados e números diferentes. Se a CRC tiver, por exemplo, três CNPJs, cada uma das empresas pode ligar até sete vezes, 21 no total para o celular e mais 21 para qualquer outro número que estiver no cadastro. E durante o dia todo você vai ouvir um(a) fulano(a) do outro lado da linha se apresentando como sendo do Santandar e CRC e que está ligando para renegociar a dívida…

Mais incrível ainda é que o gerente da conta aparentemente não serve para nada. A partir do momento que o cliente conversa com ele, diz que não tem possibilidade de renegociação e sai do banco com a promessa de que parará de ser importunado, a continuidade dos telefonemas da CRC mostra que o gerente pode estar mentindo – já que é difícil acreditar que o Santander não tem controle sobre aquilo que a empresa contratada faz, como é alegado -, ou não serve para nada uma vez que sua determinação não é atendida.

AçãoHá três anos, o Tribunal de Justiça de São Paulo, em uma ação que tinha como réu o Santander, decidiu o seguinte: “O banco não refuta ter efetuado as cobranças por meio dos 22 números telefônicos que nunca foram cancelados.

É oportuno observar o descaso quanto aos argumentos da consumidora (em relação ao desconhecimento do débito exigido). Ao contrário, o réu optou por realizar inúmeras ligações, oriundas de números diversos, com o nítido objetivo de constranger a autora, tolhendo sua tranquilidade nos momentos destinados ao descanso, em clara afronta aos princípios da intimidade e da dignidade da pessoa humana, que devem prevalecer. 

A violação da vida privada constitui fato jurídico suficiente a ensejar lesão ao patrimônio imaterial, sujeitando o lesado a constrangimentos e vexames que ferem o sentimento pessoal de honorabilidade, nesse passo, constituindo dano passível de indenização. Desse modo, ao contrário do alegado pelo banco, neste caso não há exercício regular de um direito, mas constrangimento ilegal que não deve ser admitido, impondo-se o dever de indenizar”.

Cumprir a meta custe o que custar – O Santander consegue transformar os próprios funcionários em vítimas de seus métodos. Em julho do ano passado, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região recebeu denúncias de trabalhadores que se sentiam pressionados pelas cobranças de metas com a venda de consórcios. As cobranças eram feitas por e-mail com cópia para a equipe e também por WhatsApp. As metas, segundo o sindicato, seriam abusivas e contariam com exposição de rankings de resultados, o que é proibido pela Convenção Coletiva de Trabalho(CCT) da categoria.

Em setembro de 2019, a instituição financeira foi condenada a pagar R$ 274 milhões por danos morais coletivos por práticas abusivas contra funcionários. A decisão foi da 3ª Vara do Trabalho de Brasília. O Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal havia entrado com processo contra o banco após constatar o alto nível de afastamento por doença mental e acidentes de trabalho.

Reclamações – Do início deste ano até o último dia 12, o Procon de Jundiaí realizou 25 atendimentos relacionados ao Grupo Santander, envolvendo consultas e reclamações. Uma média de pouco mais de seis a cada 30 dias. Os problemas mais registrados são de rescisões, transferências, crédito consignado e cobrança indevida. De acordo com o Procon, 70% dos problemas foram solucionados.

Santander e CRC no Reclame Aqui – O site de defesa do consumidor registra várias reclamações de cobranças abusivas contra o Santander. Uma moradora de Osasco, em dezembro do ano passado, contou que está recebendo diversas ligações no celular feitas pela empresa CRC em nome do Santander. “Essas ligações ocorrem, as vezes, de 10 em 10 minutos, oito vezes por dia. Tenho consciência da minha dívida. Contudo, não aguento mais ser incomodada por esta empresa. Não consigo fazer nada sem ser interrompida. Eu estou sendo constrangida. Até pelo Facebook pessoal mandaram mensagem, assim como no Whatsapp pessoal. Eu me sinto perseguida pelo banco. Já reclamei e nada foi resolvido”.

Também em dezembro de 2020, um internauta de São Paulo postou no Reclame Aqui: “Uma empresa de cobrança está ligando no meu local de trabalho para cobrar dívidas que tenho com o Santander. Ficam me expondo a outros funcionários sendo que não forneci o número de telefone comercial”. Ele cita ainda o artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor: “O inadimplente não poderá ser exposto ao ridículo nem submetido a nenhum tipo de constrangimento ou ameaça. A cobrança abusiva é prevista no artigo 71 da referida lei”.

“Fiz um acordo das minhas dívidas. Mesmo assim recebi mais de 10 ligações cobrando a mesma pendência. Tento falar com o banco, tanto na ouvidoria quanto no SAC e nenhum dá opção para fazer este tipo de reclamação de cobrança indevida”, afirma uma moradora de Almirante Tamandaré, no Paraná, em mensagem enviada em março último.

Segundo o Reclame Aqui, o Santander resolve quase 70% dos problemas e recebe nota 7.

No último dia 4, uma moradora de Maricá, no Rio de Janeiro, escreveu no site de defesa do consumidor: “Tenho dívida com um banco e a CRC me liga mais de uma vez por dia realizando a cobrança e me fazendo passar por constrangimento. Estou há três anos desempregada. Meu marido também. Passamos por necessidades. Sei da minha dívida, gostaria muito de pagá-la. Mas não tenho condições. Gostaria que essas ligações parassem”.

Já no último dia 14, um morador de Francisco Morato relatou: “Venho recebendo em média 30 a 40 ligações por dia da CRC. Já atendi várias vezes explicando que não tenho como negociar porque estou desempregado e sem nenhum tipo de renda. Estou quase passando fome. Além disto, estou aguardando retorno de entrevistas de emprego o que me obriga a atender todas as chamadas. Parem de me ligar e retirem meu número do cadastro de vocês”.

Já um morador Rio Verde, Goiás, escreveu que a CRC, só no último dia 10, ligou cinco vezes. “Faço esta reclamação com o objetivo de o Santander ver o excesso. Essa dívida já foi resolvida. Mesmo assim vou entrar com ação por excesso de cobranças. Já reclamei no Banco Central. Estou aguardando retorno”.

No mesmo dia, um morador de São Paulo relatou: “Estou recebendo ligações diárias, várias vezes ao dia, da CRC. Estou desempregado, passando por dificuldades, esperando ligações de recrutadores e não de cobrança. Quando estiver trabalhando e com condições vou pagar a pendência”.

De acordo com o Reclame Aqui, o atendimento da CRC é ruim e recebe nota 5.5.

Como denunciar – Em Jundiaí, por conta da pandemia de Covid-19, reclamações devem ser enviadas para o e-mail cip.eletrônica@jundiai.sp.gov.br, ou diretamente na plataforma nacional: www.consumidor.gov.br.

Por meio eletrônico, o Procon Jundiaí recepciona a demanda encaminhada pelo consumidor, analisa o caso e inicia as tratativas diretamente com o consumidor. Essas tratativas podem ser de orientação e informação.

Se constatada a necessidade de interação com o fornecedor, é feito o registro no sistema do órgão ou o consumidor é orientado a realizar o registro da demanda no site: www.consumidor.gov.br – plataforma utilizada por todos os Procons, além de outros órgãos e que tem abrangência nacional. Os dados da referida plataforma são públicos e o link para acesso é: https://www.consumidor.gov.br/pages/indicador/geral/abrir.

Para fazer denúncia no Banco Central clique aqui.

O site Reclame Aqui recebe queixas e também tem o objetivo de alertar outros consumidores. Através dele é possível cadastrar o número de telefone no serviço “Não me Perturbe”. Desta forma, as chamadas indesejadas serão bloqueadas.

Retornos do Santander e CRC – O Jundiaí Agora entrou em contato com o Santander e com a CRC e até agora não recebeu nenhum retorno.(Foto: Google Maps)

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