De ‘Olívia Palito’ para Dalmo Gaspar: quanta SAUDADE DE VOCÊ!

SAUDADE

Hoje se completam quatro anos da morte do Dalmo Gaspar. Perdemos nosso bicampeão mundial dia 2 de fevereiro de 2015, para tristeza de todos os amantes do futebol e também dos jundiaienses que, como eu, sentem um baita orgulho – e saudade – desse cara.

Pai exemplar e atleta consagrado, foi decisivo quando o Santos de Pelé, Pepe e Coutinho mais precisou: assumiu a responsabilidade de bater um pênalti contra o Milan, na final do Mundial de Clubes de 1963. A vitória por 1 a 0 graças à cobrança precisa do lateral esquerdo santista selou a disputa da melhor de três partidas e tornou o time brasileiro bicampeão mundial. Um feito gigantesco!

Sempre o tenho na memória, principalmente quando ando pelo Calçadão da rua Barão de Jundiaí ou passo em frente ao Centro Esportivo Antonio Ovídeo Bueno, na Vila Liberdade. Não era difícil encontrar o Dalmo fazendo as tradicionais caminhadas, sempre cumprimentando a todos e parando para conversar com os amigos. Estava sempre alegre, sorridente.

Outro dia, mesmo, tomei um susto porque dei de cara com um senhor de boné, camiseta e calção de jogador de futebol fazendo caminhada próximo à Catedral. Por um instante, veio perfeitamente a imagem dele à minha cabeça!

No Ovídeo Bueno, a recordação era outra. Quando moleque, fiz parte do time de futebol do centro esportivo que disputava os torneios da Prefeitura – naquele tempo, o esporte jundiaiense ainda era comandado por uma coordenadoria (Crem). E quem era o técnico? Dalmo Gaspar! Confesso que a molecada da equipe não tinha muita noção da grandeza daquele cara, já um senhor, mas com pique de jogador de Copa São Paulo, experiência de um treinador de seleção e dono de um dos títulos mais cobiçados do futebol – que digam os palmeirenses, né?

Quando soube da sua história pelo meu pai, seo Lazinho, me sentia ainda mais orgulhoso. Era só dizer aos mais velhos sobre o meu treinador que todos ficavam surpresos. Lembravam de histórias, jogos dele pelo Paulista, Guarani e Santos…

O Dalmo sempre nos apoiou, mesmo sabendo que ali naquele time éramos muito mais vontade do que talento propriamente dito. O elenco tinha vizinhos e brothers, como o Márcio Tuca; amigos de escola, como o Alex, o Fred e o Giovani; mais uma galera que sempre frequentava o centro esportivo e se conheceu ali mesmo.

Nem fazia parte dos treinos e apareci justamente no dia em que definiram quem iria para a competição. Um amigo me avisou, furtei as chuteiras do meu pai que ele guardava da época em que jogou no Bangu da Vila Cristo (eu sei, foi um sacrilégio, mas me deu sorte!) e apareci com a cara mais lavada do mundo… Gente boa demais, o Dalmo me deixou treinar, mas pediu que jogasse na lateral direita.

Era bem magrinho naquela época e corria muito. E do meu pé direito saiu um cruzamento milimétrico na cabeça do Tuca, dentro da pequena área adversária: bola na rede e meu passaporte para o campeonato foi carimbado pelo professor campeão mundial. Passei, então, a ser chamado por ele de ‘Olívia Palito’, por conta das pernas finas (outra característica: Dalmo colocava apelido em todo mundo).

Disputamos pela primeira vez uma competição, mas não fomos muito longe. Paramos no time do Centro Esportivo Antonio de Lima, que era treinado por outro grande ícone do futebol jundiaiense: o professor Lázaro. Eliminados, mas felizes por aquele momento que o nosso mentor havia nos proporcionado.

Eu e Dalmo nos encontramos depois, profissionalmente, quando acompanhávamos os jogos do Paulista. Sempre dizia a ele que aquelas histórias sobre o Santos, bastidores da Vila e o convívio com os craques daquela época deveriam estar em um livro que eu teria a maior honra de escrever. “Vamos conversar, vamos conversar”, respondia, todas as vezes.

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Pouco antes de partir, em maio de 2014, Dalmo foi homenageado justamente na abertura do campeonato de futebol das categorias menores da Prefeitura. Estava muito feliz pelo reconhecimento e por estar de novo com a molecada que, assim como eu, conheceu sua história e a importância para nossa cidade, nosso Estado e nossa Pátria.

Muita saudade, amigo Dalmo Gaspar!

Dica – Para quem quiser saber mais das histórias do Dalmo, recomendo o quarto livro da série ‘Poetas da Bola’, do escritor Emerson Cássio Gáspari. O lançamento foi feito no Museu Solar do Barão, em Jundiaí, alguns meses após a morte do ex-jogador. Tive a honra de participar desse evento, que também homenageou Vagner Mancini, ex-jogador e ex-técnico do Paulista campeão da Copa do Brasil de 2005.


EMERSON LEITE

Formado em Jornalismo pela UniFaccamp; Pós-graduado em Segurança Pública e Cidadania pela Faculdade Anhanguera; Atua na área desde 1995: passou por rádios, jornais impressos, site e desde 2010 trabalha como assessor de imprensa na área política.