A saúde mental de crianças e adolescentes em risco me angustia. O jornal “Folha de São Paulo”, em seu caderno “Saúde”, no domingo 27 de outubro, fez uma matéria a respeito, com dados extraídos de levantamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Internações de crianças devido a transtornos mentais cresceram 36%. Afirma a médica Fátima Marinho, do Instituto de Estudos Avançados da USP, que há um problema social que está se refletindo na saúde mental dos adolescentes. (…) As redes sociais têm influenciado muito no comportamento”.
Questiono: de que forma, na rede pública de saúde, as crianças são avaliadas para que um transtorno mental seja efetivamente tratado desde a infância? Que acompanhamento concreto possuem os filhos de dependentes químicos que foram atingidos, no útero, por substâncias que causam alterações na estrutura e no funcionamento do organismo? Que supervisão recebe a família de baixa renda cujas crianças e/ou adolescentes apresentam um quadro de transtorno? Que apoio e preparação recebem as escolas para trabalhar com alunos, filhos das margens, que apresentam transtornos, comportamentos inadequados – muitas vezes destrutivos -, distúrbios ou dificuldades na aprendizagem? Muitas vezes, se deparam, também, com embaraços na socialização, excluídos dos grupos por serem, na verdade, vítimas do sistema.Com o passar dos anos, minguando as chances, são acolhidos “de braços abertos” pela criminalidade.
Na mesma matéria, a pediatra Lubiana Arantes de Araújo, da SBP, explica que a saúde mental de crianças e adolescentes depende de uma base genética que é moldada pelo ambiente. “Depressão materna – diz ela -, história familiar de depressão ou de tentativa de suicídio e estresse tóxico (crianças que sofrem abusos ou mesmo negligência afetiva) estão entre os fatores que podem desencadear esses transtornos” Para ela, o excesso de tecnologia tem afastado crianças das relações humanas. Ficam isoladas, muito tempo, diante da tela e expostas a conteúdos violentos. Diversos praticam a automutilação. Há, ainda, a ilusão da vida maravilhosa que existe nas redes sociais em contradição com o cotidiano.
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Transtornos mentais na infância e na adolescência, independentemente da causa, necessitam urgente de um olhar maior para que os menores não se percam na violência contra si mesmo, contra o seu entorno, contra a sociedade.(Foto: neuroon.es)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.
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