Há uma tendência entre historiadores da fotografia de que sua invenção deva ser atribuída ao francês Louis Daguerre, em 1839. Daguerre vendeu o invento para o governo da França e se tornou um homem milionário. Alguns meses depois da apresentação da invenção de Daguerre na Academia de Ciências de Paris, um outro francês tentou fazer o mesmo: vender uma invenção semelhante, um processo fotográfico muito semelhante ao processo Polaroid. O nome dele: Hippolyte Bayard. O governo francês, porém, não quis fazer negócio. Afinal, já tinha pago uma boa quantia a Daguerre. Inconformado Bayard, fez um autorretrato onde aparece como um homem morto, afogado, que teria cometido suicídio. Seria esta, então, a primeira selfie que se tem notícia…
Discute-se até hoje se o corpo que aparece na foto é realmente dele já que o rosto de Bayard tem aspecto diferente do restante. Especula-se que o cadáver foi ‘colocado’ depois da fotografia pronta. Não satisfeito ele ainda escreveu, na parte de trás da imagem uma lamentação pelo que havia ocorrido com o pobre inventor. “O cadáver do senhor que você vê no verso é de Hippolyte. Bayard, inventor do processo que você acaba de ver ou verá os maravilhosos resultados”.
A Academia de Ciências de Paris, o Rei, e todos aqueles que viram a imagem que mesmo parecendo imperfeita ficaram admirados. Assim como você que vê a fotografia neste momento! Isso deu grande honra e não valeu um centavo a Bayard. O governo que tinha pagado demais a Daguerre informou que nada poderia fazer pelo outro inventor. E o infeliz se afogou. Oh, instabilidade das coisas humanas! Assim, Bayard ao se vingar do governo fez a primeira selfie e também demonstrou que manipular fotografias tem muito pouco a ver com tecnologia e sim com a intenção de quem fotografa. Aliás, o grande fotógrafo Lewis Hine deixou uma frase fantástica sobre esta questão: “Fotografias não mentem. Mas, mentirosos fotografam”.
ARI VICENTINI
Repórter-fotográfico desde 1989, com passagens pelo Estadão e Jornal da Tarde. Foi fotógrafo e editor de fotografia do Diário Lance, atualmente é professor de Fotojornalismo na Faculdade Cásper Libero. É jundiaiense.
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