Estamos fazendo menos SEXO?

sexo

A resposta é, sim, estamos transando menos. Se comparado às gerações de nossos pais ou avós, tanto pessoas mais jovens como casais maduros têm diminuído a frequência sexual. Pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo, Estados Unidos, Reino Unido, França, Suécia, ou mesmo por aqui, chegam a resultados semelhantes: estamos mesmo fazendo menos sexo. O fenômeno é global.

O mais curioso é que vivemos um paradoxo: nunca na história moderna tivemos tanta liberdade para falar, expressar ou realizar nossa sexualidade. Também nunca tivemos tanta variedade e facilidade de acesso a conteúdos sexuais, sejam eles pornográficos ou não, além da oferta de uma miríade de acessórios para tornar o sexo mais prazeroso e presente na vida das pessoas. Apesar disso, estamos fazendo menos sexo.

Para explicar este paradoxo, é necessário destacar alguns pontos que me parecem centrais. O primeiro diz respeito ao nosso sentimento atual de solidão, mesmo em meio à multidão. Parto do seguinte pressuposto: para acontecer o sexo precisa haver, minimamente, um relacionamento. Entretanto, com o avanço tecnológico, nosso processo de socialização foi transferido para o meio digital das redes sociais, seguimos e somos seguidos por muita gente, centenas, milhares. Mas são apenas conexões, ou seja, configuram laços muito fracos, vínculos frágeis e fugazes, que não representam a ideia de amizade, muito menos relacionamento. O pensador Zigmunt Bauman, no livro “Amor Líquido”, nos alerta sobre este fenômeno do individualismo exacerbado e da economia dos afetos.

Em segundo lugar, destaco a influência do ambiente digital no comportamento sexual. Falo aqui do alcance que a pornografia ganhou, seduzindo e convencendo muitas pessoas da conveniência em fazer sexo solitário. A ampliação da indústria pornográfica, alcançando pessoas das mais variadas faixas etárias, diminuiu a demanda por contato pessoal para se ter um orgasmo. E não estou julgando ou defenestrando a pornografia ou o sexo solitário. O problema começa quando esta prática substitui por completo o contato físico. Estímulos sensoriais, tais como o paladar, o olfato, o tato, tão importantíssimos no ato sexual, não estarão presentes se o sexo solitário for um estilo de vida.

Incluo um terceiro ingrediente neste caldo: a chamada “Sociedade do cansaço”, tema da minha coluna na quinzena anterior. Sexo demanda energia, entrega, troca, vitalidade, fruição, contemplação. A exploração do nosso corpo na tentativa de atingir desempenho e produtividade, trabalhando de forma multitarefa, fazendo cursos simultâneos, misturando o público e o privado, nos coloca em uma situação de exaustão constante.

OUTROS ARTIGOS DE MARCELO LIMÃO

SOCIEDADE DO CANSAÇO

ENTREGADOR É BALEADO POR CLIENTE

A NOVELA RENASCER E A QUESTÃO INTERSEXO

Pior, o tempo que teríamos para descansar e recuperar as forças é um mercado valioso, disputado por empresas de tecnologia interessadas em nos aprisionar nas telas no tempo liberado do trabalho, seja uma rede social, um Candy Crush ou uma série streaming para maratonar. Isso não é tempo de descanso, não é tempo livre, pois não permite relaxamento. Ao contrário, só exaure mais e, sem tempo ou energia, nada de sexo.

A vantagem de refletir sobre tudo isso? Sexo faz bem à saúde, física e mental. Apesar de saber que algumas pessoas são assexuais, e isso não é uma questão, para a grande maioria de nós o sexo é uma estrutura central do psiquismo. E sua prática traz diversos benefícios pois alivia o estresse, melhora o sistema imunológico, diminui a frequência cardíaca e pressão arterial. O sexo ainda libera hormônios de relaxamento e bem-estar, protege funções cognitivas e aumenta a expectativa de vida. Tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a saúde sexual como um dos pilares para a qualidade de vida. Passou a ser recomendação médica.(Foto: Divulgação/Filme: 50 Tons de Cinza)

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES