Uma semana depois de acusar delegados e juízes de todo Estado de fazerem parte “de um sistema aparelhado com o crime organizado”, o vereador Rodrigo Albino(PL) fez o que se espera de um político da extrema-direita: negou o que disse. Ele agiu conforme o manual do bolsonarismo que manda sempre culpar alguém. E se for a imprensa – um dos inimigos imaginários dos adeptos fervorosos do 22 – melhor. O parlamentar esqueceu que todo o discurso dele foi gravado e está à disposição para quem quiser ver. Também não se atentou ao fato de que o Jundiaí Agora encaminhou o vídeo à Associação Paulista de Magistrados (Apamagis) e para o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo(Sindpesp). Representantes de ambas assistiram as declarações dele e enviaram notas criticando-as duramente. Conforme nota do Sindpesp de ontem(26), o vereador fez contato com a entidade, reconheceu que exagerou na semana passada e pediu desculpas. No privado, o parlamentar arregou para os delegados. No público, não perdeu a oportunidade de ‘bater’ no mensageiro, o jornalista. Quanto à Apamagis, nesta terça-feira a entidade divulgou a nota de repúdio em seu site(ver abaixo). A assessoria de comunicação informou também que está analisando as medidas que tomará contra o vereador na esfera judicial. Ao invés de usar a tribuna para se desculpar publicamente, Albino omitiu e mentiu.
CLIQUE AQUI E ASSISTA A FALA DE RODRIGO ALBINO(a partir de 1h19)
CLIQUE AQUI E LEIA AS NOTAS DA APAMAGIS E SINDPESP QUE DESMENTEM O VEREADOR
“Mais uma vez a imprensa, através de um jornalista com pouquíssima expressão, tentou me colocar contra delegados e contra juízes da cidade. A única coisa que ele esqueceu é que eu sou filho de um policial. Eu cresci nesse ambiente e eu valorizo as instituições, valorizo o judiciário e sei também que muita coisa precisa ser corrigida. Eu gostaria de me dirigir respeitosamente para esclarecer as declarações que foram feitas na última sessão. Foram distorcidas sim. Foi uma tremenda irresponsabilidade e não é a primeira vez que isso aconteceu nessa casa vindo do mesmo jornalista. Quando eu afirmei que há sinais de emparelhamento do sistema por parte do crime organizado eu me referia a casos como esse da Sarah em que decisões judiciais aparentemente desproporcionais acabam afetando a credibilidade das instituições”, disse, ontem, Rodrigo Albino.
Ninguém duvida que o parlamentar valoriza as instituições. Contudo, na sessão do último dia 19, ele não demonstrou isso quando comentava casos de violência, em particular o de Sarah Picolotto dos Santos Grego, 20 anos, moradora em Jundiaí morta recentemente em Ubatuba. O erro do vereador foi generalizar. Ao contrário do que Albino disse ontem(26), o discurso dele não teria atingido apenas delegados e juízes de Jundiaí. Na verdade, as palavras dele vitimaram delegados e juízes do Estado de São Paulo inteiro. Tanto que as entidades que responderam são estaduais e se sentiram ofendidas com o discurso do parlamentar do PL local. Ele disse no dia 19: “Nós temos um sistema que está aparelhado com o crime organizado. Meus sentimentos vão para os policiais que estão na rua prendendo, trabalhando. Já a Justiça, delegados e juízes estão fazendo um desserviço, soltando esse bando de vagabundos. A juizada toda tem esquema com crime organizado”. Esta fala pode ser assistida clicando aqui(a partir de 1h19).

O vídeo da sessão, que está no canal do Youtube da Câmara, foi encaminhado para o Sindpesp e Apamagis. As direções das duas entidades enviaram notas de repúdio às declarações dele. Ao afirmar que a matéria publicada no último domingo(24) “foi distorcida e cometida uma tremenda irresponsabilidade”, Rodrigo está dizendo, na prática, que quem distorceu e cometeu imprudência com suas declarações foi o próprio Sindpesp, o Sindicato dos Delegados, e também a Associação de Magistrados. Afinal, os diretores das duas entidades analisaram o discurso do parlamentar. É difícil imaginar que, quase que simultaneamente, os representantes das entidades tenham entendido de forma equivocada o que Albino quis dizer. E quando ele afirma que “há sinais de emparelhamento do sistema”, de forma sutil o vereador usa um termo para minimizar o efeito destrutivo do discurso feito uma semana antes. A palavra ‘sinais’ não foi dita em nenhum momento no dia 19.
Esfera judicial – Ontem, o departamento de comunicação da Apamagis informou que não irá representar contra o vereador Rodrigo Albino na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, da Câmara Municipal de Jundiaí. “Medidas na esfera judicial estão sendo analisadas”, informou a nota da Associação dos Magistrados. Já o Sindipesp divulgou que “o parlamentar entrou em contato com a entidade, reconheceu ter exagerado no pronunciamento realizado em tribuna durante sessão na Câmara e pediu desculpas. O parlamentar declarou também ter profundo respeito pela Polícia Civil e a todos os seus profissionais. O Sindicato, por ora, não irá representar, porém, continuará acompanhando o caso”.
A Comissão de Ética da Câmara, por outro lado, está com dificuldade de compreender que Albino não só atacou delegados e juízes na sessão do dia 19, como desrespeitou quem acompanhava a sessão pela internet. Em última análise, ele ofendeu todos os brasileiros. Após falar sobre a morte da jovem de Jundiaí e a fuga do assassino confesso, o vereador disse: “Porra, que merda, velho! Que merda de país é esse que nós estamos vivendo. E tem muita gente que defende esses caras, que defende o sistema”. Em uma dúzia de palavras ele conseguiu falar três palavrões: ‘porra’ e ‘merda’ duas vezes. O substantivo que designa os excrementos foi – inclusive – dirigido Brasil, país que os bolsonaristas dizem amar com patriotismo maior do que todos os outros. Este episódio tem lá suas semelhanças com os áudios do pastor Silas Malafaia ou de Eduardo ‘Bananinha’ Bolsonaro. Ambos falaram, em áudios particulares, muitos palavrões em conversas com ex-presidente Jair Bolsonaro, algo que não combina muito bem com o ‘Deus, Pátria e Família’, slogan da extrema direita. Rodrigo usou a tribuna da Câmara de Jundiaí.
Perguntada se Albino irá responder pela fala treslocada, a assessoria do vereador Daniel Lemos, presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, respondeu: “A comissão instaura procedimentos a partir de representações, e até o momento não houve nenhuma representação das associações citadas ao vereador Rodrigo Albino. Caso a comissão receba a denúncia o procedimento será instaurado e todo o rito previsto no Código de Ética e Decoro Parlamentar do Regimento Interno será seguido, com apuração dos fatos e direito a ampla defesa”. Para a comissão, os palavrões de Albino estão no mesmo balaio, dependendo de representação da Apamagis e Sindpesp. Só que ele não falou ‘porra’ e ‘merda’ se dirigindo às duas entidades. Por outro lado, ele falou que o país é uma ‘merda’. Isso deveria ser considerado até mais grave já que atenta contra tudo e todos. Menos àqueles que estão no exterior trabalhando por sanções contra o Brasil.
Entre vários itens, o Regimento Interno da Câmara Municipal de Jundiaí, afirma que os atos que atentam ao decoro parlamentar são: praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Câmara e praticar ofensas físicas ou morais nas dependências da Câmara. O discurso de Rodrigo Albino se enquadra nestas duas situações. Se usar a tribuna para dizer ‘merda’ e ‘porra’ não ferem a boa conduta e não é uma ofensa moral ao Brasil, o que será?(Texto: Marco Antônio Sapia/Foto: ChatGPT)
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