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TABOM, o povo que voltou para a África

tabom

A partir de 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, declarava extinta a escravidão no Brasil e muitos negros voltaram para a África. Muitos do povo Tabom, também conhecido como Tabons de Gana, cruzaram o Atlântico de volta para a terra de origem. Na verdade, eles ganharam o nome de Tabom ao chegarem ao sul de Gana e Acra. Eles falavam apenas a Língua Portuguesa e tinham o costume de se cumprimentarem com o tradicional ‘como tá?’. A resposta, ‘tá bom’, passou a ser usada pelos nativos para identificá-los.

O povo Tabom levou do Brasil diversas habilidades como técnicas de irrigação, arquitetura, carpintaria, ferraria, ourivesaria e alfaiataria. Estas práticas garantiram à comunidade afro-brasileira de Gana um lugar de destaque. As famílias De Souza, Wellington, Benson, Josiah,  Pereira, Palmares, Nelson, Nii Azumah, Amorim, Da Costa, Santos, De Medeiros, Nenoo, Olímpia, Marilene, Maselino estão entre a elite do país até os dias atuais.

Apesar de a lingua portuguesa ter se perdido, a influência brasileira ainda é evidente na culinária, na religião e em diversos nomes. Quando os primeiros grupos de afro-brasileiros desembarcaram na Costa do Ouro – onde hoje é Gana – na década de 1830, ninguém falava nenhum dos inúmeros idiomas pelos quais os nativos e os europeus se comunicavam na região. Eles desconheciam tanto a língua do povo Ga quanto os idiomas falados por ingleses, holandeses e dinamarqueses. Os habitantes locais também não conseguiam distinguir quase nada do que falavam os recém-chegados.

Apenas uma expressão, dita repetidas vezes, destoava: ‘tá bom’. Assim, o que a tradição oral diz ter sido uma tentativa dos brasileiros de dar fim a uma conversa entre interlocutores que não se entendiam, virou o nome de um povo que até hoje vive na capital de Gana, na Costa Oeste africana.

Os tabons – assim como os agudas e os amarôs, que se fixaram no Togo, no Benin e na Nigéria – são descendentes de um dos vários grupos de afro-brasileiros que deixaram o Brasil e voltaram para a África entre meados do século 18 e início do século 20, em um movimento descrito, por alguns pesquisadores como “Diáspora Reversa”. Esse retorno em massa, estima-se entre 3 e 8 mil pessoas – ocorreu depois que uma série de revoltas populares eclodiu no Brasil Império. 

Por falta de documentos, há pouca certeza sobre a origem brasileira dos retornados. Contudo, segundo a tradição oral, muitos eram escravizados afro-brasileiros libertos, que, vítimas de racismo (o maior obstáculo que encontraram), resolveram retornar ao continente africano. Também havia nesse grupo africanos os que foram trazidos como escravos, passaram alguns anos no Brasil e voltaram na primeira oportunidade. 

Muitos do povo Tabom, aliás, eram da etnia muçulmana huaça e é possível que tenham sido despertados depois de organizar a Revolta dos Malês, em Salvador, em 1935. No Benin, onde uma mesquita parecida com as igrejas coloniais brasileiras foi construída, ainda se comemora a burrinha (uma espécie de bumba meu-boi) e. se come feijoada e kouzidow. 

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O povo Ga ocupava a região costeira e era composto principalmente por pescadores. O chefe Mantse Nii Kwaku Ankrah viu com bons olhos a chegada dos imigrantes. Afinal, entre os recém-chegados, havia arquitetos, carpinteiros, agricultores e alfaiates, profissões pelas quais os Tabons ainda são reconhecidos. Até hoje, os mais importantes costureiros de Gana são descendentes de afro-brasileiros como Dan Morton, talvez o mais famoso deles. (Foto: facebook.com/gtdcghana)

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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