Taha cita ‘ignorância, descontextualização, críticas e fakes’

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No dia 10 de outubro, bem no início do conflito entre Hamas e Israel, a vereadora Quézia de Lucca(PL) fez um pronunciamento acusando a esquerda brasileira “de estar ao lado dos terroristas e nós estamos do lado de Deus e do povo de Israel”. Na ocasião, a secretária Nacional de Mobilização do PT e vice-presidente do partido em Jundiaí, Mariana Janeiro, divulgou vídeo com título “Vereadora que Caça Like Encontra Processo”. Nele, Mariana assegurou que o PT tomaria medidas legais contra Quézia. Na sessão seguinte, após o discurso de um pastor que também falou sobre a guerra, na tribuna livre, Quézia voltou ao assunto. “Eu tenho plena consciência que nem todos os palestinos fazem parte do Hamas. A minoria que está neste grupo é terrorista sim. E ao realizar estes ataques, colocam a vida de inocentes em risco. O PT levou nove dias para elaborar uma resolução. Nela, os ataques foram condenados, mas não chamou o Hamas terrorista”. Assim que Quézia acabou de discursar, o vereador Faouaz Taha(PSDB) – que é muçulmano – pediu a palavra e fez um desabafo com conhecimento de causa. Taha criticou as fake news sobre os conflitos na Faixa de Gaza, pediu respeito às vítimas e familiares de palestinos. “Todo mundo agora virou especialista em guerra. Vão estudar este problema que já tem sete décadas”, afirmou ele. Mais de dois meses depois, o parlamentar cita a ignorância, a descontextualização, as críticas e as fakes como responsáveis pelos atritos que repercutiram sobretudo nas redes sociais e chegaram até a Câmara. A primeira sessão deste ano será no próximo dia 6.

“Eu respeito todas as religiões e todas as manifestações religiosas. Eleito, sempre priorizei as políticas públicas. Religião é uma coisa minha e da minha família. Com certeza, no meu caso as pessoas estão mais interessadas no meu trabalho do que na minha religião. Nunca me senti discriminado ou destratado por ser muçulmano dentro da Casa. Por ignorância do assunto, as pessoas acabam falando coisas que não são verdadeiras sobre a religião, tiram de contexto, acabam fazendo críticas e repercutindo fake news. No caso do conflito na Faixa de Gaza, fizemos um minuto de silêncio pela morte dos israelenses e conforme os discursos foram avançando, fui obrigado a me posicionar. Estavam sendo ditas muitas coisas que não eram verdadeiras, coisas fora de contexto. Além disto, o conflito não começou no dia 7 de outubro. Ele tem sete décadas. Depois, recebi demonstrações de respeito fora da Câmara e dentro também. Fui cumprimentado por divulgar informações que muita gente não sabia. Não existe uma forma de coibir discursos. A Câmara dá voz aos vereadores e cada um tem a liberdade de falar o que bem entender e responder por suas palavras”, disse Taha.

O desabafo – Naquela sessão, Taha ficou visivelmente irritado com as palavras da colega. “Queria pedir respeito a todas as pessoas que morreram nesta guerra. Aliás, não é guerra já que existe o Estado de Israel e não existe o Estado da Palestina. É um genocídio, é uma chacina contra o povo palestino. E isto não é de agora. Fizeram um recorte dos últimos 10 dias e estão postando nas redes sociais e publicando na imprensa como se fosse algo novo. Quem conhece a história sabe que isto tem mais de 70 anos. Não vi ninguém aqui pedindo minuto de silêncio pelas quase mil crianças palestinas achadas mortas. Queria muito que não dividíssemos esta discussão em direita e esquerda, o que é um desrespeito desta Casa. Isto é um absurdo. Peço respeito a todos os vereadores. Vamos estudar pessoal. Chega de falar atrocidades. Um pastor veio aqui na tribuna livre e disse que 40 bebês israelenses foram degolados. A ONU disse que isto é fake news. Ele veio aqui e com toda propriedade do mundo falou sobre as crianças degoladas. Não teve isto. Chega de fakes. Todo mundo agora é especialista em guerra. Procurem estudar a História. A formação do Estado de Israel foi à base de sangue e morte. Vão estudar. E respeitem as vítimas e suas famílias”, disse Faouaz Taha.

Quézia está certa quando critica a demora do governo brasileiro em se posicionar de forma contrária ao ataque e deixando de citar o Hamas. É verdade também que grupos retrógrados de esquerda, inclusive no Brasil, bateram palmas para o Hamas. Porém, afirmar que toda a esquerda está do lado dos terroristas é algo descabido, como afirmaram os líderes de partidos locais.

Segundo matéria da BBC Brasil, assinada por Letícia Mori, muitos evangélicos bolsonaristas têm grande simpatia por Israel. Primeiro porque eles se identificariam mais com o Antigo Testamento que narra a história do povo israelita. Segundo: os evangélicos consideram Israel como uma espécie de ‘relógio do fim do mundo’. De acordo com o texto, a maneira como muitos líderes têm se posicionado sobre o assunto nos últimos anos tem um forte caráter político. Eles têm usado interpretações de conceitos do antigo testamento para se inserirem no meio político. Bolsonaro soube ler bem esse momento e aproveitá-lo politicamente, diz o teólogo Sergio Dusilek, ex-presidente da Convenção Batista Carioca.

Os atuais israelenses não acreditam que Jesus é o filho de Deus, um dogma para várias religiões ocidentais. Para eles, Jesus não é considerado um messias, aquele que livrará o povo do Senhor da opressão. De fato, uma grande contradição vivida por quem defende Israel e acredita que Cristo é o filho do Homem. (Publicada originalmente em dezembro de 2023)

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