Rosa, 104 anos: TER, o início da carreira do ator Carlos Mariano

Escola Jundiaí

No começo da década de 1980, Carlos Mariano era simplesmente o ‘Betão’. Quase 40 anos depois, ele é um ator consagrado. Interpreta o dr. Eduardo Palhares, desde 1986, na peça Trair e Coçar É Só Começar, de autoria de Marcos Caruso. Também foi o Tio Edu, no espetáculo Ainda, direção de Caruso. Em 2017 virou estrela da web-série País do Futuro, do canal de Youtube Humores Urbanos. Também fez o ‘Glub’, peixinho amado pelas crianças da década de 1990. O seriado infantil Glub Glub, da Cultura, foi um sucesso inesquecível. O que pouca gente sabe ou não se recorda é que o Betão dos anos 80 estudou na Escola Professor Luiz Rosa, que está completando 104 anos. Foi lá que começou a interpretar no extinto TER – Teatro Estudantil Rosa. A entrevista com Carlos Mariano(da esquerda para a direita, o primeiro na foto principal):

Quando estudou no Rosa?

De 1978 a 1980. Eu tinha estudado no Conde. Fiz contabilidade no Rosa.

Quando se decidiu pelo Rosa levou em consideração o teatro?

Foi exatamente em função do teatro que eu optei por estudar no Colégio Rosa.

Você queria ser ator?

Então, essa é a grande importância que o Colégio Rosa tem na minha vida. Quando eu ainda estudava no Conde do Parnaíba, tive a oportunidade de assistir a uma apresentação de monólogos dos alunos do Colégio Rosa e fiquei fascinado com aquele primeiro contato com o teatro. Lembro-me que foi uma experiência arrebatadora e que despertou primeiramente uma vontade muito grande de conhecer mais de perto as pessoas do grupo, de trocar ideias, de conversar com elas e isso acabou me colocando em contato com um universo que eu desconhecia, mas que viria ser a grande paixão da minha vida, que é o teatro.  Então, até aquele momento, nunca havia passado pela minha cabeça, eu não tinha nenhuma ideia, e muito menos não planejava de ser um ator. Posso afirmar que aquele primeiro contato com o TER foi determinante para eu optar pelo Colégio Rosa, porque lá havia aulas de teatro. E quando eu comecei a estudar, lembro-me que conversava muito com o professor Fernando Fernandes, acho que ele via em mim muito potencial para o teatro, pois sempre me incentivava e acabou sendo a pessoa que me motivou a entrar para o grupo, já no primeiro ano.

Quais eram seus projetos, seus planos? O que o então “Betão” queria ser? Você jogava bem basquete…

Eu sempre gostei de esportes e até aquele momento eu tinha sim ideia de me enveredar pela Educação Física, tanto é que iniciei a faculdade, mas não cheguei a concluir, em função das possibilidades que o teatro começou a representar para mim. Também, pensava que poderia me tornar um empresário local, em função de ter tido uma experiência muito bem-sucedida como proprietário do Bar Neanderthal, que foi um tremendo sucesso e acabou sendo um “point” na cidade de Jundiaí e região. Eu era bem jovem, mas já tinha um espírito empreendedor bem desenvolvido. Essa experiência acabou me ajudando muito mais tarde a lidar com as negociações relacionadas ao trabalho de ator, principalmente no mercado publicitário, onde eu acabei participando de um grande número de comerciais e propagandas em nível nacional e internacional.

O que pensou quando soube que teria de fazer aulas de teatro?

Fiquei muito entusiasmado! No início, lembro-me que era muito pelo prazer de estar fazendo parte daquele universo, convivendo com aquelas pessoas diferentes, excêntricas, artistas e pensadores, que se reuniam por paixão em torno de um propósito que até aquele momento não tinha nenhuma ideia de vir a ser uma possibilidade de profissão. Era por puro prazer e encanto! E, aprendi a partir daquela experiência de estudante amador, que o teatro deveria ser para mim, pelo resto da minha vida, um prazer e nunca um sacrifício.

Você era tímido?

Eu não era tímido, mas o curso de teatro me ajudou muito no dia a dia com a comunicação com as pessoas, inclusive no próprio trabalho. Alguns atores são tímidos por natureza e acabam se escondendo atrás do personagem para fazer e dizer coisas que normalmente não fazem e não dizem. Esse não é o meu caso, mas as aulas e, depois todo o processo de construção da minha carreira artística, me ajudou a ter uma compreensão melhor de mim e do mundo que me cerca.

Quando percebeu que poderia ser ator?

No início era tudo só divertimento. Mas quando participei de um festival do TER, com um monólogo chamado “Inútil Canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos”, do Plínio Marcos, eu fui selecionado para disputar a final e entre 30 concorrentes, eu fiquei em segundo lugar. Fiquei muito feliz com o prêmio que era ganhar uma bolsa de estudo. Mas muito mais feliz ainda quando o ator Geraldo Del Rey que era um dos jurados veio falar comigo e disse que eu tinha talento e condições de me profissionalizar. Esse foi um momento decisivo na minha vida, foi muito importante ouvir aquelas palavras de um ator reconhecido e, naquele momento foi o ponto de partida para que eu começasse a pensar seriamente na possibilidade de me tornar um ator profissional no futuro.

Quantas peças fez no TER?

Fiz dois monólogos, “Inútil Canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos” e o “Ponto de Partida” do Gianfrancesco Guarnieri, com o qual eu ganhei o prêmio de Melhor Ator no festival no ano posterior , em 1980. Fiz mais cinco peças, sendo: “Doutor Fausto da Silva”, de Paulo Pontes; “ O Crime Roubado” de João Bethencourt ; “Frank Sinatra 4815”, de João Bethencourt;  “Castro Alves Pede Passagem” do Gianfrancesco Guarnieri  e “Cala Boca Já Morreu”, de Luis Alberto de Abreu. Ou seja, permaneci durante seis anos no grupo, onde além de ator a cabei tendo a honra de ser também presidente.

Ganhou outros prêmios?

Ganhei vários prêmios, sendo alguns dentro do próprio festival do TER, alguns em festivais em Jundiaí e em outras cidades. Também ganhei um prêmio de melhor Ator pelo Festival do Estado de São Paulo, em 1984.

Qual a importância do Rosa e do TER para o início da sua carreira profissional?

Total, em função de todas as explanações citadas. Foi o início de meu desenvolvimento artístico, de descobertas e de uma enormidade de possibilidade para encontrar a minha profissão. A importância é tão grande que até hoje mantenho ligação com as pessoas do grupo e recentemente voltamos a marcar encontros periódicos para relembrar, reviver e alimentar nossas memórias.

O TER era famoso? Era considerado por artistas de renome daquela época? Ou só fazia sucesso por aqui?

Era muito famoso sim. Era considerado um dos melhores grupos do Estado de São Paulo. Era muito comum receber como jurados os atores já famosos e consagrados, como Geraldo Del Rey, Everton de Castro, Marcos Caruso, Jussara Freire e a Cleyde Yáconis que mais tarde veio a ser minha madrinha me indicando para o meu primeiro trabalho profissional em São Paulo, no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia.

Na sua opinião outros atores do TER poderiam ter feito uma carreira de sucesso como a sua?

Sim, sem dúvida. Do ponto de visto artístico, o grupo tinha muitas pessoas talentosas, que poderiam ter seguido adiante e feito carreira em outros centros, como São Paulo ou Rio de Janeiro. Inclusive, o meu amigo Paulo Santana, também foi pra São Paulo e conseguiu desenvolver uma carreira, realizando inúmeros trabalhos. Outros tinham talento e não  optaram pela carreira artística, por exemplo, lembro-me que  o Fernando Fernandes recebeu um convite do Marcos Caruso para fazer uma peça em São Paulo e não aceitou. Mas eu queria ressaltar a importância dos artistas e grupos amadores, sob o ponto de vista da influência que eles exercem na vida da sociedade como um todo. Acontece que a Arte é bonita e valorosa principalmente porque muitas pessoas podem fazer teatro, amar o teatro mesmo tendo outra profissão, morando num centro mais distante dos polos culturais e sem ter que deixar sua a sua cidade ou sua família. Artista não é só aquele que é remunerado pela Arte. Existem muitos talentos espalhados pelo mundo que são amadores, no sentido mais bonito da palavra. Essa é a importância que o Grupo TER tem na minha vida.

Como foi esta transição? Saiu direto do teatro do Rosa para alguma peça em São Paulo?

Eu sai do grupo em 1984. Pouco tempo depois o grupo acabou, isso não teve nenhuma relação com a minha saída, simplesmente cada um seguiu seu caminho.  Logo em seguida eu fui pra São Paulo, encontrei a Cleyde Yáconis, ela me indicou para fazer uma peça e começou aí a minha carreira artística no maior centro cultural do país.

Do que mais sente saudade?

Do prazer de estar com os amigos! As pessoas são o mais importante! Eram mais de 30 pessoas, fazendo cenários, conversando, decorando texto, sonhando, plantando e semeando. O teatro era uma extensão da casa da gente.

Depois que o colegial chegou ao fim, voltou ao Rosa? Como foi a sensação?

Voltei sim, muitas vezes! E é sempre uma emoção muito grande, encontrar aquele universo onde vivemos muitas coisas bonitas que jamais iremos esquecer, principalmente para mim porque foi ali que tudo se iniciou.

Qual a sua percepção de tempo? Faz muito tempo tudo isto ou passou rápido demais?

Não passou ainda, nunca irá passar, essa é a natureza do artista, voltar sempre as suas memórias! Porque são as memórias que não nos deixam esquecer de quem somos verdadeiramente, das nossas raízes e dos nossos valores.

Agradecimentos?

Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram na minha formação de ator, de alguma forma ou de outra, muitos tiveram participação nisso. Mas, aproveito para agradecer o ator Francisco Salvador, que era mais experiente do que eu, me orientava e cuidava de mim como um pupilo, eu aprendi muito com ele. Sou muito grato também ao Fernando Fernandes, porque no início da minha carreira foi ele quem mais me motivou. Ele veio comigo pra São Paulo, tentando abrir portas pra mim, usando os seus contatos e me encorajando muito. Eu sentia que a minha luta fazia parte da luta dele e que ele se realizava e se sentia feliz através da minha projeção. E ao diretor Ulisses Nutti Moreira, que foi o que despertou em mim o contato com o universo da arte, mudou minha vida e tenho uma gratidão, como se ele fosse um eterno paizão.  Não posso deixar de prestar também os meus agradecimentos ao Fernando Leme do Prado, o dono do Colégio Rosa, talvez a pessoa mais importante de todas, porque foi o nosso grande mecenas, um homem que tinha a compreensão do valor do teatro e que proporcionou a realização dos sonhos de muitos artistas, que fizeram parte da história da cidade de Jundiaí.(Entrevista originalmente publicada em maio de 2019)

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