THE END melancólico do Marabá foi no dia 4 de agosto de 1987

the end

Sabe o estacionamento localizado na rua do Rosário, entre a Barão do Triunfo e a Bernardino de Campos? Um dia, aquele local despertou a imaginação dos jundiaienses. Ali muitos beijos foram dados. Gângsters e monstros foram mortos. Desenhos ganharam vida. Aquele terreno abrigou por décadas o Cine Marabá, fechado no dia 4 de agosto de 1987. Há 35 anos, a cidade perdia um cinema e ganhava uma saudade sem fim. Era o the end de um lugar mágico. Mas, no centro, ainda restavam as duas salas do Cine Ipiranga, que funcionariam até meados da década seguinte. Depois, filmes só no shopping.

O fim daquele mundo mágico foi melancólico, conforme mostra a capa do Jornal da Cidade. A Cúria Diocesana, dona do imóvel, moveu uma ação de despejo contra os responsáveis pelo cinema. Segundo o texto: “a aparente tranquilidade dos advogados da Cúria contrastou com o nervosismo do gerente que transferiu para o Ipiranga I o filme ‘O Predador’, o último do Marabá”. Pouco tempo depois, assim como em ‘Cinema Paradiso’, o Marabá foi demolido. Era o the end derradeiro…

Arthur Gozzo foi testemunha da decadência do Marabá, assim como de outros cinemas da cidade. Ele era era o responsável pelo projetor e aparece na capa do JC segurando um rolo de filme. Na sequência, texto de Antônio Gozzo, filho de Arthur, publicado na página Jundiaí Antiga em Fatos, Fotos e Versões, do professor Maurício Ferreira:

Vou tentar escrever minhas lembranças que guardo até hoje sobre o Cine Teatro Polytheama, o qual passei quase toda minha infância e adolescência , através de meu pai, seu Arthur, que era simplesmente um operador, que dedicou parte de sua vida nessa profissão. Falo profissão, porque desde os seus primeiros anos de casado, começou a operar os projetores no extinto Cine Argos, que era um dos melhores cinemas que havia na cidade e também às segundas-feiras, quando tínhamos exibição de filmes no Clube São João.

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No ano de 1959, veio a oportunidade de seu primeiro registro em carteira, de ser um operador no Cine Teatro Polytheama, que perdurou até o seu fechamento em 1974. Depois disso foi transferido para o Cine Marabá, no qual trabalhou até encerrarem as atividades. Foi, na sequência, operador no Cine Ipiranga, que também fechou.

Mas, voltando ao Polytheama, com oito ou 10 anos, a ansiedade de ver meu pai chegar do serviço às cinco da tarde (ele trabalhava durante o dia na fábrica de berços Pelliciari e à noite no Polytheama). Eu esperava ouvi-lo fazer a pergunta: “quer ir comigo?”. E eu respondia: “claro, pai…já estou pronto!” Então ele pegava o banquinho de madeira (que ele mesmo fez), o prendia no cano da bicicleta, colocava-me nele, e lá íamos nós, descendo a rua Eloy Chaves, pegando o túnel da Duratex (o viaduto ainda não existia), atravessávamos a linha Sorocabana, o brejão da rua 15 de novembro e seguíamos rumo ao “Escadão”, que era para nós, um divertimento.

Enfim, chegávamos… O baleiro nos cumprimentava, o pipoqueiro arrumava sua “máquina”. Subíamos as escadas para ir na cabine de projeção, onde ‘dois monstros’ (os projetores) ocupavam quase toda a cabine. Ao lado, uma “moringa”, que meu pai me pedia para encher de água, pois na cabine fazia muito calor. Os projetores eram a carvão. O calor era muito forte. Em uma mesinha lateral ficava a “pick-up” para tocar os discos de vinil na espera do início do filme. Eu era o ‘piloto’ dela. Escolhia um dos vários discos e colocava para tocar. Eu controlava o volume e me deliciava com isso!

Ah… E os lanterninhas??? Eu me lembro só do “seu Nicola”. Eram em quatro: dois na porta traseira e os outros dois nas laterais. Era legal ver o ritual deles ao se arrumarem para o trabalho…. Cada um com seu terno vermelho, colocando as gravatas e checando se as pilhas das lanternas não estava fracas.

A bilheteria é finalmente aberta. Eu estava na pick-up só esperando a ordem do meu pai para tocar um disco. A fila para entrar já estava quase no “Escadão”. As cadeiras começavam a ser ocupadas. Então colocava o disco e corria para o camarote. Queria ver a multidão. Pessoas seguravam saquinhos de pipoca, balas, aguardando o início do filme e se deliciando com o disco que eu coloquei para rodar!!!

Às 19h55 tocava a campainha lá na cabine. Era o sinal para apagar metade das luzes da platéia. Meu pai começava a ligar os “monstros”. Eu estava pronto para desligar a pick-up. O filme ia começar…

Depois do the end na tela, o público deixava o cinema e sonhava com o próximo filme a assistir. Seu Arthur, o homem do projetor, estaria no cinema todos os dias seguintes para mais uma sessão…

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