Thedy Rodrigues Corrêa Filho, vocalista e compositor do Nenhum de Nós é enfático. Para ele, o rock dos anos 80 deu voz a uma geração toda. A banda, dona de sucessos como ‘Camila’ e ‘Astronauta de Mármore’, nunca parou. E, no que depender do cantor, continuará na estrada por muitos anos ainda. Do Nenhum de Nós, o Jundiaí Agora já entrevistou o guitarrista Carlos Eduardo Filippon Stein. Lembrando que quatro décadas separarão os anos 80 de 2020. É muito tempo. Mas a obra produzida naquela época segue viva. A entrevista com Thedy:

Como surgiu o Nenhum de Nós? 

Surgimos em 1986. O trio que fundou, eu, Carlos e Sady, somos amigos de infância e sempre fomos apaixonados pela música. Quando começou aquele movimento forte do rock nos anos 80, nós resolvemos transformar essa amizade musical em uma banda. Começamos a ensaiar e fizemos nosso primeiro show no dia 5 de outubro de 86.

Vocês vieram antes ou depois de Kleiton e Kledir, também gaúchos?

Depois. Eles abriram caminho para toda uma geração de músicos vindos do Sul, antes mesmo do “boom” do rock. Eles são nossos ídolos.

Vocês não tinham – e não tem – sotaque acentuado. Isto ajudou?

Creio que sim, pois não ficamos com um rótulo de banda gaúcha por algo que não fosse apenas a qualidade do nosso trabalho. O sotaque pode ser algo perigoso, pois pode soar caricato.

‘Camila’ e ‘Astronauta de Mármore’ foram os grandes sucessos de vocês nos anos 80? Como teria sido a carreira do Nenhum de Nós sem estas músicas?

Difícil avaliar, já que seria bem mais complicada continuidade sem essas músicas, mas, ainda bem, nós as lançamos e tivemos muito sucesso!!!

Hoje, nos shows, os filhos daquela geração curtem estas músicas? Cantam junto?

Com certeza! É comum ver os pais trazendo seus filhos para curtirem a banda que é uma referência musical para eles. Os pais cresceram nos ouvindo e agora querem transmitir essa ideia aos filhos, como se fosse uma herança cultural. O Nenhum de Nós tem mais músicas importantes na nossa carreira além de ‘Camila’ e ‘Astronauta de Mármore’. Temos ‘Sobre o Tempo’, ‘Amanhã ou Depois’, ‘Paz e Amor’, ‘Vou Deixar que Você se Vá’ e tantas outras que ajudam essa identificação do público mais jovem.

Quando olham para trás, como analisam os anos 80?

O rock dos anos 80 foi muito importante para um geração que tinha muito a dizer e que ocupou o espaço das rádios, que antes era dominado pela música estrangeira. Deu voz aos jovens e revelou grandes poetas, como Cazuza e Renato Russo.

Para a economia foi a década perdida. E para a música?

Foi a década da conquista de espaço e aumento de nossa autoestima, como geração.

Ouvem rádio? Se sim, perceberam que de 5 músicas tocadas, pelo menos três são dos anos 80? Aquela década será ‘infindável’? Por quê?

Por que não era rasa e superficial. A geração dos 80 traduziu sentimentos, conjunturas políticas, comportamentos e foi mais fundo na questão afetiva. Ela foi mais do que uma trilha sonora, fez parte da vida das pessoas. Música com conteúdo, resiste ao tempo, enquanto aquelas superficiais e vazias, se vão com o vento.

Afinal, o que pode explicar o surgimento de tantas músicas, bandas, cantores de qualidade num espaço de tempo tão curto?

Não sei se existe uma explicação além daquela que encontra eco em sentimentos represados pela ditadura. Foram anos duros, sem liberdade de expressão e muita repressão. Quando rolou a abertura, os artistas botaram para fora todo o sentimento de liberdade que estava guardado

Como é saber que fizeram parte de um dos movimentos mais importantes da música brasileira?

É enorme orgulho! Atravessamos décadas como autênticos representantes de uma das fases mais marcantes da nossa cultura.

Tinham noção disto na época?

Éramos muito jovens, sem uma noção clara do que ainda estava por vir. O que era incontestável, era que esse movimento tomou conta do país e deixou sua impressão digital na vida das pessoas. Atribuo a isso esse saudosismo dessa fase de nossa música.

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Poderiam ter feito algo diferente naquela época? Arrependem-se de algo?

Arrependimento não tem muito sentido, pois chegamos até aqui por conta de nossos acertos e erros. Não se pode reescrever a história.

Qual a percepção de vocês em relação ao tempo? Passou rápido demais?

Demais! Quando paro para relembrar, parece que tudo foi muito recente, e não há quase 40 anos. O tempo foi um foguete!(Entrevista originalmente publicada em setembro de 2019)

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