Transfobia é crime, senhores vereadores…

transfobia

Hoje farei uma reflexão sobre os últimos acontecimentos em Jundiaí. Quando entendo que o principal papel de um vereador é cuidar de demandas do município e, portanto, demandas de munícipes no macro, sejam esses corpos cisgêneros ou transgêneros, deparo-me com um cenário caótico de ataques a corpos travestis e transexuais, na narrativa de nos excluir e deslegitimar nossa existência. Vejo um desserviço vindo de nossa vereança municipal que não procura conhecer esta parte da sociedade (micro), criar diálogo direto com estas pessoas ou ao menos tentar entender um pouco mais do que se trata. Ao invés disto, fazem moções e projetos de leis que nem ao menos são cabíveis, já que todas as portarias que garantem direitos à população LGBTQIAPNB+ e também pessoas TTs hoje são federais, portanto, acima de leis municipais. Os senhores vereadores se esquecem que transfobia é crime.

A transfobia não se manifesta somente no plano de percepções e juízos morais e meramente pessoais, mas envolve formas de atuação em rede e em oposição à visibilidade e ao reconhecimento de transexuais e travestis, vistos como minorias sexuais. Esse preconceito implica em articular grupos e atores sociais para cancelamento e cortes nas esferas públicas e privadas. Por outro lado, a expressão transfobia é um instrumento de análise que procura dar conta de expressões como corpos invisíveis e corpos proibidos mais circunscritas e delimitada no nível da interação entre lideranças e algumas pessoas adeptas ao conservadorismo, que eventualmente transparecem em discursos que servem como “guias” ou exemplos cisnormativos para a conduta das pessoas adeptas e simpatizantes
as atividades de cuidado a família tradicional brasileira. O que confere unidade a essa rede heterogênea de discursos e práticas discriminatórias é justamente que estas pessoas extraem da sua autoridade enquanto vereadores “princípios” cosmológicos, argumentos doutrinários e interpretações conservadoras, fundamentalistas, reducionistas e genitalistas do que é “ser mulher ou homem”.

As pessoas que sustentam tais discursos constroem sua relativa legitimidade representando-se como porta-vozes de valores universais, bastiões da moralidade, conjugando percepções negativas da diversidade sexual a uma atuação em oposição ao seu reconhecimento, compreendido como uma ameaça. Dentre esses atores sociais, encontram-se lideranças religiosas, educadores, dirigentes de empresas de empregabilidade, profissionais da psicologia e parlamentares. A transexualidade e travestilidade fornece, para tais “porta-vozes” de perspectivas conservadoras, fundamentalistas, reducionistas e genitalistas um idioma e um repertório de justificativas que são acionados em defesa deste modelo particular de representação do gênero e da sexualidade.

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Partindo de uma formulação da transfobia estrutural como um fenômeno plural, a hipótese sustentada aqui é a de que existem especificidades da transfobia que se expressam em discursos de ódio ou na conduta e nos atos de fala de pessoas que aderem a tais perspectivas. A proposta desta postagem é explorar a lógica interna desses discursos, entendendo que eles não formam um sistema isolado e autônomo, mas articulam-se a representações difusas na sociedade brasileira e correspondem, em última instância, a fios no interior de uma densa trama de relações de poder. Para tanto, compreendemos a transfobia como um conjunto muito heterogêneo de práticas e discursos baseados em valores sociais, que opera por meio de táticas plurais e polimorfas de desqualificação e controle da diversidade sexual.
O mais importante em tudo isso é que estamos vives e por tanto hoje não nos calam… Porque enquanto ferirem nossa existência seremos resistência.

SAMY FORTES

Ativista dos Direitos Humanos – Pilar Diversidade Sexual

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