Pernas semelhantes a um mapa hidrográfico não agrada ninguém: médicos, maridos/namorados e, principalmente, a dona das pernas. Eu que o diga. A cada 2 ou 3 anos lá estou no consultório do dr. Ayrton, tomando agulhadas e rindo de suas histórias. O termo “variz” deriva do grego e significa “aparência de uvas”. Refere-se ao formato que a veia assume quando está em estágio avançado de dilatação, empurrando a pele e apresentando aspecto de cacho de uvas. Esse é um sintoma da doença venosa, que atinge veias de diversos calibres. Os indesejáveis “vasinhos” são as veias menores, mais finas, com menos de 3 milímetros, enquanto as varizes são os vasos maiores do que 3 milímetros, ambos apresentando dilatação em suas paredes, tornando-os visíveis na superfície da pele, resultados da mesma doença.

É uma das doenças mais comuns que afetam o ser humano e as transformações nos vasos sanguíneos são permanentes. Essa dilatação é causada pelo volume aumentado de sangue no interior do vaso, tornando-o tortuoso e alongado com o decorrer do tempo. O percurso do sangue pelo corpo inicia no coração, de onde é ejetado pelas artérias, alimentando o organismo como um todo e retornando pelas veias ao seu ponto de partida: o coração. Dentro das veias, existem pequenas válvulas que impedem o retorno venoso para os pés e quando estas válvulas se tornam insuficientes, não fecham adequadamente, o sangue não progride, a quantidade do fluxo aumenta, fica estagnado e faz com que as veias se dilatem e deformem tornando-se visíveis, com aspecto sinuoso.

A doença venosa tem uma característica muito interessante, é de progressão lenta e benigna, portanto, ninguém vai morrer DE varizes, mas COM varizes. De qualquer forma, não se pode ignorar a existência da doença de ocorrência frequente, considerando o desconforto do tratamento, pois, as mulheres (em sua maioria) vão postergando o procedimento, transformando um problema de fácil solução, em outro mais complicado e de difícil resolução.


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CURIOSIDADES CURIOSAS


Nesta linha de raciocínio, o importante é não ignorar a doença, tratando-a assim que surgirem os primeiros sintomas. Os principais sintomas da doença venosa são inchaço e dor, o que é, constantemente, ignorado por ser uma doença lenta e silenciosa, cuja causa, atribui-se ao dia cansativo, às horas de trabalho em pé ou sentado e não a uma má circulação nas pernas. O que podemos fazer para evitar a doença venosa?

Primeiro é necessário entender que as varizes surgem como consequência da hipertensão venosa, que pode ocorrer de forma absoluta ou relativa. Na absoluta, há aumento da pressão devido ao grande fluxo de sangue nas veias superficiais, seja por desvio de sangue (como nas fístulas arteriovenosas, veias comunicantes insuficientes) seja por obstáculos à circulação (tromboses, compressões extrínsecas). Nas más formações do sistema venoso profundo, estas varizes são consideradas secundárias, pois secundam outra condição que determinou o aumento de pressão nas veias.

Na relativa, o problema está na estrutura da parede venosa e não, necessariamente,num aumento de pressão nas veias, sendo consequência da fragilidade daquela via (componente hereditário muito forte) que não suporta as pressões normais que o sangue produz em sua luz. Este tipo é classificado de primária.

Outro fator a se considerar é a composição e profundidade das veias. As veias dos membros inferiores são estruturalmente diferentes, de acordo com os tecidos que as circundam. As veias que estão dentro do compartimento aponeurótico (veias profundas e as veias musculares) seguem envolvidas por músculos, possuem paredes mais finas e agem como via de transporte, com menor possibilidade de acumular grandes volumes de sangue. Já, as superficiais são extra-aponeuróticas, envolvidas apenas por tecido adiposo, com paredes mais espessas e grande capacidade de dilatação. Têm como função principal ser reservatório sanguíneo, com pequena ação de transporte e, ao contrário das veias profundas, podem se dilatar e ocasionar lesão estrutural, tornando-se varicosas.

Algumas condições facilitam seu aparecimento: uso de anticoncepcionais, calor ambiente, ortostatismo (falta de mudança de posição), estados hormonais do sexo feminino (por isso ser mais comum entre as mulheres), gravidez, entre outras.

Embora a doença venosa seja muito comum nas pernas e coxas, elas podem aparecer de formas diferentes nas pessoas. Algumas podem apresentar teleangiectasias ou, ainda, veias varicosas e teleangiectasias, outras, nenhuma veia visível anormal, podendo, entretanto, ter uma úlcera aberta na perna. Além disso, a doença venosa pode apresentar vários sintomas diferentes.

Para permitir a organização e comparar grupos de tratamento, especialistas criaram uma classificação chamada de CEAP.

CEAP significa:

“C” de clínica, ou seja, o que é visível nas veias.

“E” de etiologia, ou seja, se o problema é hereditário ou não.

“A” de anatomia, ou seja, quais veias estão envolvidas.

“P” de fisiopatologia, em inglês, significa em que direção o sangue está fluindo, se existe refluxo, ou se o fluxo está bloqueado.

Em outras palavras esse sistema de classificação descreve o que o médico observa no exame físico, a causa do problema, a localização na perna e o mecanismo responsável para a manifestação do mal. Dessa forma, criou-se uma linguagem comum entre os médicos que tratam doença venosa. Ela funciona ajudando na pesquisa científica e na comunicação entre os profissionais que, como retorno para o paciente, melhora a qualidade do tratamento e os avanços tecnológicos.

A parte mais usada da classificação de CEAP é o C, que tem sete categorias, de 0 a 6, onde 0 é o paciente que tem menor gravidade e 6 o de maior gravidade, apresentando ulcerações abertas e ativas na perna. Em geral, doença venosa engloba todo o espectro C1 a C6, já a insuficiência venosa, refere-se de C3 a C6, apenas.

Segundo o dr. Alexandre Amato, cirurgião vascular, a classificação CEAP auxilia os médicos a descreverem a situação das veias do paciente, mas, não classifica os seus sintomas, bem como,se a doença venosa está afetando a sua vida. Neste caso existe outro sistema de classificação, denominado Venous Clinical Severity, que considera o quanto a doença está interferindo na vida do paciente, na sua habilidade de trabalho e nas suas atividades diárias, ou seja, o quanto impacta na sua rotina.


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De acordo com a análise feita pelo médico vascular, determina-se o tratamento nas seguintes formas: escleroterapia, radiofrequência, laser, dentre outros, referendando a máxima: não procurar tratamento está fora de cogitação. As úlceras varicosas provocadas por varizes não tratadas causam um aumento de pressão exercida pelo sangue sob a pele, que pode resultar em um ferimento dedifícil tratamento, porque só é possível curar a lesão da pele atacando a causa, reflexo de mau funcionamento do sistema venoso.

O caso de maior gravidade decorre das flebotromboses: Quando um trombo de sangue que está preso numa veia se solta e vai até aos pulmões, pode resultar numa embolia pulmonar e consequente morte. Pergunta que não quer calar: como podemos prevenir?

Se a doença for genética não há prevenção, pois, não se pode mudar o DNA da pessoa para impedir problema futuro, porém, é perfeitamente possível evitar os fatores de agravo ou predisponentes. Certamente, deve-se ter uma abordagem multifatorial, sendo a doença genética ou não. Adotar uma alimentação saudável para não ganhar peso, considerando a obesidade um dos fatores de risco importantes,uso de meia elástica, se recomendada pelo médico e exercício físico.

A prática rotineira de exercício físico é essencial, a musculatura da panturrilha quando contrai bombeia o sangue em direção ao coração. Se os músculos forem fortalecidos, será possível evitar ou retardar o aparecimento da doença. Aparentemente inofensivos e discretos os vasinhos não ofereciam tantoperigo, não é mesmo? Enganam bem.

A lição que se apregoa é que devemos cuidar bem da saúde, mesmo que esteticamente, pois, atacar um problema de forma precoce é a melhor forma de manter a saúde. (foto acima: www.clinicasim.com)

 

 

"VASINHOS"ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora