Quem pertence à geração “X”, formada pelas pessoas nascidas nos anos 1960 até o final dos anos 1970, com certeza deve se lembrar dos pais alertando para tomar cuidado e não sair sozinho à rua, pois por ali passava um velho andarilho com um saco nas costas. Diziam às crianças que o velho, na verdade, tinha aquele saco para capturar crianças e levá-las embora. Incrementavam a história dizendo que num certo lugar, uma criança, filho de não sei quem, fora sequestrada pelo famigerado “velho do saco” e nunca mais apareceu. As crianças daquele tempo ficavam assustadas, pensativas e até tinham medo de andar pelas ruas. Automaticamente, prestavam atenção e fugiam ao ver qualquer pobre andarilho inofensivo, gritando: “Corre! É o velho do saco!”.
Em meados dos anos 1980, surgiu também outra figura imaginária e inusitada: a “loira do banheiro”. Relatos davam conta do fantasma de uma moça muito bonita, com algodão no nariz, que aparecia nos banheiros das escolas. Por isso, ninguém mais ia ao lugar sozinho.
Todas essas histórias, na verdade, eram metáforas potencializadoras de coisas ruins que já haviam ocorrido ou que puderiam acontecer. Os pais projetavam histórias assim com o intuito de proteger os filhos de raptores, abusadores, aliciadores e traficantes, entre outras mazelas que poderiam ocorrer. O mundo evoluiu, vieram as benesses do avanço tecnológico que trouxe grande conforto e facilidades para a vida das pessoas.
Aqueles que pertencem à geração ‘Y’, nascidos a partir dos anos 1980, vivenciaram uma era de transição entre o analógico e o digital. A internet já começava a fazer parte da vida de uma parcela da população e despertava curiosidade e até medo em todos – período em que se propagava que o mundo acabaria no ano 2000.
Quem nasceu de 1995 para frente é considerado pertencente à geração ‘Z’, que são os “nativos digitais”. Ou seja, não conheceram o mundo sem computador. Mas você deve estar aí perguntando: O que isso tem a ver com velho do saco, loira do banheiro e outras lendas urbanas?
Os avanços tecnológicos trouxeram muitas facilidades, desde compras sem ir ao mercado, contas pagas sem ter de enfrentar filas de banco, pesquisas para fazer trabalhos escolares, redes de relacionamentos… Uau! Mas também foram responsáveis por problemas que até então nem sequer eram cogitados, pois simplesmente não existiam: crimes cibernéticos, golpes aplicados pela internet e até sequestro de senhas.
E é aí que entra o perigo que as redes sociais e o mundo sem fronteiras da geração “Z” representam quando os cuidados são negligenciados. Hoje, por conta de tudo isso, obviamente o velho do saco e a famigerada loira se tornaram piada para as crianças.
Dias atrás uma onda de acontecimentos e boatos sobre tarefas que os jovens deveriam cumprir sob ameaça de alguém desconhecido ou até imaginário teriam levado alguns a atentar contra a própria vida. Era a tal baleia azul, nada mais que um “velho do saco dos tempos modernos”.
A diferença é que isso foi criado no mundo pertencente a uma geração que não tem limites. Casos reais ocorreram, porém, toda a falácia ampliada pela mídia parece que deu mais ênfase ao caso do que realmente de registro dos fatos concretos. Graças a Deus.
Percebi pais preocupados com a tal baleia. Claro! Era um problema atual e foi muito compartilhado (para usar um termo atual) na mídia. Seguro morreu de velho, não é?
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O ponto crucial da mensagem que pretendo trazer com este artigo é que talvez o velho, a loira, o palhaço assassino e a baleia nem existam no mundo concreto. E se caso realmente existam, não importa. O que importa é que pais, educadores, crianças e jovens que pertençam a qualquer geração estejam atentos a todos os perigos metaforizados pelas lendas urbanas.
Pode ser que o filho não encontre com nenhum desses aí, mas o traficante pode aparecer para ele na figura de um amigo, aliciador ou de abusadores sexuais. Nunca vi nenhuma criança ser sequestrada no caminho da escola quando estava na companhia dos pais. Facilidades e negligência geram o oportunismo.
Lembre-se do velho ditado: a ocasião faz o ladrão. Rede social: é a maior porta de entrada de tudo de ruim que se possa imaginar, pois a exposição demasiada dos costumes e rotinas da família permite que qualquer um penetre na sua casa por meio deste mundo virtual.
Grande parte dos assédios se inicia pela rede social, pois não sabemos quem exatamente está do outro lado. É claro que a internet nos traz muitos benefícios e alegrias, até por isso ninguém vai deixar de postar aquela festa no Facebook, aquela foto legal no Instagram, Snapchat e outros bichos mais.
Seja você aí da geração X, Y ou Z, sempre se oriente, pesquise, desconfie e, principalmente, monitore os filhos. Precaução é tudo. (foto acima: Youtube)
É delegado titular da Delegacia de Polícia de Itupeva