Pois é, sempre temos pessoas se destacando, pessoas que inovam, fazem diferente e brilham, em seus campos profissionais. Sempre temos aqueles que saem da média, que conseguem ultrapassar o nível do comum e possibilitam que seus brilhos sejam divididos com a coletividade, iluminando vários espaços físicos, morais e espirituais, porque aqueles são realmente diferentes, são vencedores. E como o Brasil é um país privilegiado nesse sentido.
Cada dia que passa, mesmo sem buscar fatos novos, temos brasileiros brilhando neste ou naquele setor, de modo a trazer para a nação o olhar do Mundo e mostrar o quanto conseguimos superar as adversidades e as demandas nem sempre bem resolvidas. Isso acontece em todas as áreas e setores de atuação e desenvolvimento de nosso país e nosso povo.
Percebo que temos pesquisadores totalmente fora da linha de corte, que têm grandes empreendimentos inovadores e arrojados, como não se percebe em países do primeiro mundo e, com toda precariedade nossa, seguem seus processos e vencem com soberania; muitos dos nossos estão em universidades de destaque, no mundo, sempre levando a bandeira do Brasil, ainda que aqui não tivessem merecido respeito tão pouco ajuda significativa.
Alguns médicos assumem direção de grandes centros de pesquisa e inovação, na Medicina do mundo, onde criam propostas de saúde e bem estar, cura e técnicas, que poderiam ter sido desenvolvidas aqui, porém não tiverem nem acolhimento nem ajuda para tanto. Mesmo assim, são brasileiros despontando no cenário da saúde mundial, ainda sem reconhecimento em terras tupiniquins. São vencedores.
Músicos, musicistas, cantores e demais artistas recebem reconhecimento e aplausos fora do país; muitas vezes tomamos conhecimento de seus trabalhos depois de fazerem sucesso na Europa ou América do Norte. Aqui, dependem de sala de espetáculo ou de espaço para sobreviverem, de maneira sutil, na produção de algo grande; parece que sempre se necessita implorar, arrastar, ajoelhar para ser percebido e poder fazer algo…quanta tristeza traz esse pouco reconhecimento. Sem que seja creditado no seu país de origem, saem e levam nosso idioma, nossa arte e nossa cultura para brilhar em outros destinos. Também são vencedores.
No campo esportivo temos o mesmo êxodo: muitos saem para treinar fora, investem sua juventude e seu dinheiro, os pequenos patrocínios, se munem de coragem e traçam uma carreira distante e solitária, com as dificuldades de língua, de alojamento e de distanciamento familiar (porque não são apenas jogadores de futebol que migram e relatam um mundo de fantasia e de maravilhas) e se colocam na luta contra recordes e resultados para enaltecer o Brasil. Conseguem ser melhores, atingem seus objetivos mas são ilustres desconhecidos(e não deixa de ser vencedores!): não usam o esporte para promoção pessoal nem para proposta outra a não ser a melhora do rendimento.
Nesta direção eu me pego perguntando: onde anda a Bia Haddad(foto)? Até duas semanas atrás, ligava-se a TV e só tínhamos notícias dela: Bia passa mais uma etapa, Bia vence mais uma partida, Bia supera sua adversária de virada, Bia ultrapassa marcas anteriores, Bia é a nova sensação do Tênis, Bia ieguala a marca de fulana, Bia chega ao topo tão nova, Bia é o sucesso do momento. Daí, não se sagrou campeã e nem saiu invicta. A partir disso, cadê Bia Haddad?
Esta jovem tenista, talentosa e empenhada, não só brilhou por ser uma atleta com pendores atléticos, mas pelo seu esforço e dedicação à prática da modalidade. Nunca foi sorte, mas intenso trabalho físico, técnico, tático e psicológico: Beatriz “Bia” Haddad Maia nasceu em São Paulo, em 30 de maio de 1996, é uma tenista profissional. Conseguiu, em junho de 2023, a posição de 10º lugar no ranking da WTA de simples, e em maio de 2023 o 10º lugar nas duplas, tornando-se a primeira mulher brasileira a chegar às semifinais do Aberto da França na ‘Era Aberta’ e a primeira em qualquer torneio importante, desde Maria Esther Bueno, no Aberto dos Estados Unidos de 1968.
A pergunta que faço: é pouco? É tão desprezível para que os meios de comunicação se percam e deixem de acompanhá-la, onde quer que esteja? Chegar no sucesso é fruto de alguma coisa específica? Ou será que depende de uma combinação de fatores? Estudiosos da Psicologia querem saber como a construção do caminho para o sucesso mexe com as pessoas: o que seria ser fenômeno e o que seria ser trabalhador em busca do sucesso? Esta combinação faz com que as pessoas desavisadas pensem que foi sorte ou foi o acaso que colocou este ou aquele em posição de destaque, entretanto a valorização do trabalho somente é sentida por aquele que persegue a evolução.
Interessante quando vemos que atletas que chegam em sexto, oitavo ou décimo lugar são totalmente desprezados e desvalorizados pela população brasileira. Sim, isto é um sintoma do comportamento do brasileiro que tem dificuldade de valorizar o trabalho, o longo prazo, a consistência acabando por exigir dos atletas que compensem o nosso próprio fracasso social. É um sinal do povo que tem que ter espelhamento no sucesso do outro e vive de espasmos midiáticos que ressaltem valores culturais que não temos como mudar.
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Incentivar os outros é uma consciência coletiva que ainda não conseguimos adquirir nem manter: criticamos como se pudéssemos nos fortalecer. Vemos exemplos, em todo o Brasil, de verdadeiros vencedores que se esforçam, trabalham, mostram resultados oriundos de muita luta, brigam contra a derrota, buscam a vitória e não permitem que sejam classificados como talentos. Talentos também lutam para vencer, não nascem prontos. Parabéns pela sua trajetória, Bia Haddad, que enfrentou um caminho de muita garra, muita luta, muito esforço. E é uma menina de talento, inclusive. Nunca foi sorte.(Foto: Facebook)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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