Desde meus seis anos de idade me interesso por detalhes da nossa história, dos fatos e acontecimentos que não estão nos livros. Nuances, fragmentos de um passado verdadeiro e que continua vivo na memória da população, mas não registrados em documentos, teses e livros. Quando comecei divulgar as fotos antigas de nossa cidade em rede social tive uma grata surpresa: os comentários ricos e detalhados de pessoas que viveram aquele instante, aquele segundo clicado pelas lentes das câmeras fotográficas, detalhes que dão vida às fotos, que trazem o tempo passado até nós aguçando o amor por Jundiaí e sua gente. Neste texto irei destacar dois acontecimentos interessantes e um deles cheio de alegria pueril de um menino de nove anos que estava presente na inauguração do Viaduto São João Batista no dia 24 de setembro de 1950. Hoje, portanto, esta obra completará 70 anos!
Voltando no tempo, em 1948, o jovem arquiteto Vasco Antônio Venchiarutti foi empossado aos 27 anos como prefeito de Jundiaí. Com parcos recursos e com visão dinâmica e moderna projetou e executou muitas obras públicas que mudaram o urbanismo de Jundiaí para sempre. Exemplos: o Parque da Uva Comendador Antônio Carbonari, que em sua reforma realizada em 2003 desfigurou e descaracterizou totalmente sua concepção visual, arquitetônica e histórica. O Bolão – Praça Municipal de Esportes Dr. Nicolino de Lucca -, projeto premiado no Salão Paulista de Belas Artes; a avenida Jundiaí e também o viaduto São João Batista, que liga a rua Dr. Torres Neves à avenida São João, construído sobre as linhas de trem da Companhia Paulista e da Sorocabana.
O jovem prefeito e arquiteto Vasco Antônio Venchiarutti
Armazém do Rappa, nos anos 1920, demolido para construção do viaduto
Em fevereiro de 1950 crianças brincavam com seus “tico-ticos” na descida da Rua Dr. Torres Neves e observam a construção do Viaduto São João Batista
Um belo e histórico registro da construção do viaduto: foto aérea era coisa rara naquela época
O viaduto tem 300 metros de extensão, 10 metros de largura e pouco mais de seis metros de altura. Foi construído em concreto armado, sem vigas, com fundações sobre estacas de concreto de 15 metros de comprimento. A construção do viaduto da Ponte, o primeiro da cidade, foi essencial principalmente para a população, comércio e indústria da Ponte São João que tanto necessitava naquele momento um sistema viário melhor.
O prefeito cumpriu a promessa de campanha, arregaçou as mangas e com humildade e trabalho pediu doações e dinheiro emprestado aos comerciantes e moradores do bairro para a construção. Quem doou ou emprestou assinou e faz parte do “Livro de Ouro”. Em pouco tempo, o viaduto estava erguido e foi inaugurado em 24 de setembro de 1950 com grande festividade e com presença maciça da população, imprensa da capital e autoridades.
Adhemar de Barros que tinha sido eleito governador do Estado de São Paulo em 1947 esteve presente com toda pompa e solenidade que o cerimonial exigia na época. Foi recebido por correligionários e cidadãos adhemaristas na Padaria de Osvaldo e Leta Bárbaro para uma boa prosa e degustação dos petiscos de Dona Leta que era uma quituteira de mão cheia.
Em 24 de setembro de 1950 as placas que saúdam o governador Adhemar de Barros
A chegada do governador passando pela vila Arens e subindo a rua Vigário JJ Rodrigues para a solenidade de inauguração do Viaduto da Ponte São João
Antes das caipirinhas, o governador Adhemar de Barros sendo recebido por autoridades e pela população em Jundiaí
A tradicional padaria do casal Oswaldo e Leta Bárbaro ficava na esquina da Rua Carlos Gomes com a Avenida São João
O então governador, que gostava de um aperitivo, pediu a Osvaldo Bárbaro que lhe fizesse uma caipirinha com pinga da boa e assim tascou goela abaixo aquele drinque preparado com esmero. De tão boa que ficou a caipirinha, o governador pediu mais uma…..e outra….e outra mesmo sendo advertido pelos seguranças e assessores que ainda tinham agenda para cumprir. De nada adiantou. O nobre governador já embriagado, com fala mole, trocando nomes e dizendo algumas frases sem nexo partiu para a inauguração, Praticamente não falou e foi todo o tempo da solenidade amparado pelos seus seguranças.
PARA OUTRAS HISTÓRIAS DE JUNDIAÍ DE ANTIGAMENTE CLIQUE AQUI
Outro fato interessante nesse dia foi relatado a mim pelo saudoso Aguinaldo Loureiro de Lima, o querido Mandú. Ele era mágico, poeta, artista plástico e apaixonado pela vida, por sua família e amigos. Figura típica e muito conhecida na Ponte São João. Em 1950 o menino Aguinaldo tinha nove anos e acompanhou de perto toda a movimentação da inauguração do viaduto e queria logo passar pelo viaduto e ser um dos primeiros a fazê-lo.
Quando as autoridades já se preparavam para descerrar a faixa de inauguração o menino aproveitando do descuido das autoridades passou embaixo da faixa e saiu em desabalada carreira com passadas largas e velozes para um menino de sua idade, percorreu os 300 metros do viaduto antes de qualquer outro naquele dia e quando chegou na outra extremidade do viaduto cansado, ofegante e todo suado gritou: PRIMEIRINHO!!!!! Assim foi inaugurado nosso primeiro viaduto, uma história que não está nos livros, mas viva na memória e no coração de muitos!
O saudoso Aguinaldo Loureiro de Lima que “inaugurou” o viaduto da Ponte São João aos nove anos de idade
Dedico esse texto ao menino Mandú que aos nove anos “inaugurou” essa obra e nos deixou aos 75 anos. O menino envelheceu mas nunca perdeu a criança que vivia em sua alma e seu coração! (Maurício Ferreira)
FOTO PRINCIPAL: As bases do viaduto São João Batista sendo erguidas. À direita a Rua Dr. Torres Neves. O ano: 1950
VEJA TAMBÉM:
FISK DA RUA DO RETIRO: SAIBA O QUE SÃO QUESTIONS WORDS. CLIQUE AQUI
OS 103 ANOS DA ESCOLA PROFESSOR LUIZ ROSA
ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES
PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI