Voltando no tempo, em 1948, o jovem arquiteto Vasco Antônio Venchiarutti foi empossado aos 27 anos como prefeito de Jundiaí. Com parcos recursos e com visão dinâmica e moderna projetou e executou muitas obras públicas que mudaram o urbanismo de Jundiaí para sempre. Exemplos: o Parque da Uva Comendador Antônio Carbonari, que em sua reforma realizada em 2003 desfigurou e descaracterizou totalmente sua concepção visual, arquitetônica e histórica. O Bolão – Praça Municipal de Esportes Dr. Nicolino de Lucca -, projeto premiado no Salão Paulista de Belas Artes; a avenida Jundiaí e também o viaduto São João Batista, que liga a rua Dr. Torres Neves à avenida São João, construído sobre as linhas de trem da Companhia Paulista e da Sorocabana.
O jovem prefeito e arquiteto Vasco Antônio Venchiarutti
Armazém do Rappa, nos anos 1920, demolido para construção do viaduto
Em fevereiro de 1950 crianças brincavam com seus “tico-ticos” na descida da Rua Dr. Torres Neves e observam a construção do Viaduto São João Batista
Um belo e histórico registro da construção do viaduto: foto aérea era coisa rara naquela época
O viaduto tem 300 metros de extensão, 10 metros de largura e pouco mais de seis metros de altura. Foi construído em concreto armado, sem vigas, com fundações sobre estacas de concreto de 15 metros de comprimento. A construção do viaduto da Ponte, o primeiro da cidade, foi essencial principalmente para a população, comércio e indústria da Ponte São João que tanto necessitava naquele momento um sistema viário melhor.
O prefeito cumpriu a promessa de campanha, arregaçou as mangas e com humildade e trabalho pediu doações e dinheiro emprestado aos comerciantes e moradores do bairro para a construção. Quem doou ou emprestou assinou e faz parte do “Livro de Ouro”. Em pouco tempo, o viaduto estava erguido e foi inaugurado em 24 de setembro de 1950 com grande festividade e com presença maciça da população, imprensa da capital e autoridades.
Adhemar de Barros que tinha sido eleito governador do Estado de São Paulo em 1947 esteve presente com toda pompa e solenidade que o cerimonial exigia na época. Foi recebido por correligionários e cidadãos adhemaristas na Padaria de Osvaldo e Leta Bárbaro para uma boa prosa e degustação dos petiscos de Dona Leta que era uma quituteira de mão cheia.
Em 24 de setembro de 1950 as placas que saúdam o governador Adhemar de Barros
A chegada do governador passando pela vila Arens e subindo a rua Vigário JJ Rodrigues para a solenidade de inauguração do Viaduto da Ponte São João
Antes das caipirinhas, o governador Adhemar de Barros sendo recebido por autoridades e pela população em Jundiaí
A tradicional padaria do casal Oswaldo e Leta Bárbaro ficava na esquina da Rua Carlos Gomes com a Avenida São João
O então governador, que gostava de um aperitivo, pediu a Osvaldo Bárbaro que lhe fizesse uma caipirinha com pinga da boa e assim tascou goela abaixo aquele drinque preparado com esmero. De tão boa que ficou a caipirinha, o governador pediu mais uma…..e outra….e outra mesmo sendo advertido pelos seguranças e assessores que ainda tinham agenda para cumprir. De nada adiantou. O nobre governador já embriagado, com fala mole, trocando nomes e dizendo algumas frases sem nexo partiu para a inauguração, Praticamente não falou e foi todo o tempo da solenidade amparado pelos seus seguranças.
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Outro fato interessante nesse dia foi relatado a mim pelo saudoso Aguinaldo Loureiro de Lima, o querido Mandú. Ele era mágico, poeta, artista plástico e apaixonado pela vida, por sua família e amigos. Figura típica e muito conhecida na Ponte São João. Em 1950 o menino Aguinaldo tinha nove anos e acompanhou de perto toda a movimentação da inauguração do viaduto e queria logo passar pelo viaduto e ser um dos primeiros a fazê-lo.
Quando as autoridades já se preparavam para descerrar a faixa de inauguração o menino aproveitando do descuido das autoridades passou embaixo da faixa e saiu em desabalada carreira com passadas largas e velozes para um menino de sua idade, percorreu os 300 metros do viaduto antes de qualquer outro naquele dia e quando chegou na outra extremidade do viaduto cansado, ofegante e todo suado gritou: PRIMEIRINHO!!!!! Assim foi inaugurado nosso primeiro viaduto, uma história que não está nos livros, mas viva na memória e no coração de muitos!
O saudoso Aguinaldo Loureiro de Lima que “inaugurou” o viaduto da Ponte São João aos nove anos de idade
Dedico esse texto ao menino Mandú que aos nove anos “inaugurou” essa obra e nos deixou aos 75 anos. O menino envelheceu mas nunca perdeu a criança que vivia em sua alma e seu coração! (Maurício Ferreira)
FOTO PRINCIPAL: As bases do viaduto São João Batista sendo erguidas. À direita a Rua Dr. Torres Neves. O ano: 1950
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