Há quase 10 anos, Eusébio dos Santos e a esposa, Neusa ‘Sininho’, decidiram cruzar o país e só parar na cidade Oiapoque, no Amapá. Até 1998, este município era considerada o ponto mais extremo do norte do país. Depois, os mapas foram revisados e o título passou para o Monte Caburaí, em Roraima. Eusébio comandou o Centro de Educação e Lazer para a Melhor Idade(Celmi) por quase 20 anos e agora está à frente do Instituto Envelhecer. Ele decidiu contar todas as aventuras da viagem num livro que foi lançado recentemente. Confira a entrevista com o viajante:
Como surgiu a ideia de fazer esta viagem?
Eu gosto muito de viajar, sempre gostei. Tenho uma inquietude imensa que se acalma construindo desafios e descobrindo novos lugares, paisagens. Gosto muito de sair do conforto. Minha parceira, a Neusa, que chamo de ‘Sininho’, é uma pessoa que além de topar incentiva. Se bem que entre a primeira conversa e a hora de partir foram menos de 15 dias. Assim, caímos na estrada..
De quando a quando fizeram a viagem?
Durou seis meses, iniciando em fevereiro e terminando em agosto de 2015.
Qual a distância entre Jundiaí ao Oiapoque?
De carro é 4.400 quilômetros. Como fizemos várias entradas em cidades, por exemplo, acabamos rodando um pouco mais de 15 mil quilômetros, entre ida e volta.
Já tinham feito algo parecido?
Já, mas não com tanta distância e tempo.
Quanto tempo de preparação?
Foi o tempo de comprarmos alguns apetrechos e partir. No caminho fomos descobrindo que aquelas coisas não serviriam pra nada além de ocupar espaço no carro.
Qual veículo usou? Teve problemas mecânicos durante a viagem?
Usamos um carro da Chevrolet, um Celta novo, e não tivemos nenhum problema mecânico, mas sofremos com um pequeno acidente em Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Um motoqueiro foi passar pela direita e nos fomos estacionar. Resolvemos tudo ali mesmo antes de qualquer aglomeração.
Por quantos estados passou? Quais as principais estradas?
Passamos por 18 estados: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Amapá, Pará, Mato Grosso, Ceará, Roraima, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Sergipe.
Quantos ‘Brasis’ você viu no percurso? Quais realidades que são notícia na imprensa que vocês comprovaram ‘in loco’?
Esta pergunta é difícil de responder, mas podemos afirmar que são vários os Brasis. O Nordeste e Norte, além de muito bonito é riquíssimo. O que estereotipa é a existência de “coronéis”, que vem sendo sufocados. As frutas que produzem e vão para exportação são o show a parte. Nós, daqui, ficamos com as sobras.
E o que não vira manchete nos jornais? O que vocês viram que ficaram surpresos?
O mais estranho é a culinária. Os problemas sociais na verdade são condições construídas ao longo do tempo. Não sei se caberia qualquer analise sem conhecer, sem vivenciar o dia a dia, pois sob o olhar de alguém que esta passando pode parecer estranho mas para o residente é sua cultura. O Oiapoque, a cidade, é relativamente pobre apesar de o Euro circular livremente como moeda. O monumento tem uma frase “O Brasil Começa Aqui” e por ele passa o esgoto a céu aberto.(Foto principal)
O que mais chamou a atenção de vocês? Quais curiosidades vivenciaram?
Em Miranorte, Tocantins, um senhor tentou comprar minha mulher oferecendo sete alqueires de terra e 15 cabeças de gado. Já o trajeto Belém-Macapá foi uma descoberta emocionante: para todos os lados só se via agua e o sol ardente!
Quanto tempo levou a ida e a volta?
A ida foi um pouco mais rápida. Fizemos o percurso quase em linha reta pelo país. Levou dois meses e meio. A volta que fizemos pela costa, observando nosso maravilhoso mar. Foi bem mais longa e com mais tempo, três meses e meio.
Qual a sensação de voltar para Jundiaí?
Voltar para casa é sempre muito bom. Ir é fantástico, mas voltar pra casa é o máximo. Se não bastasse, somos apaixonados por Jundiaí.
A viagem resultou em um livro. Quanto tempo levou para escrevê-lo?
Sim, resultou, quando resolvi escrever, criei o roteiro e em pouco tempo. Em uma semana ele estava pronto. O que demorou foi ter a vontade de fazer, neste caso quase 10 anos.
É um registro do que viram ou também aproveitou para denunciar os muitos problemas testemunhados?
É um registro romantizado do que vivemos e das coisas positivas, até porque pelo pouco tempo que ficávamos não teríamos tempo para entrar em polêmicas. Curtimos o que era bom, paisagem, culinária, calor humano.
Quando foi lançado? Como deve proceder quem tiver interesse em comprar um exemplar?
O livro foi lançado no último dia 15 e não é um produto de venda. Foi feito para amigos. Caso alguém deseje conhecê-lo como inspiração para fazer algo parecido pode me procurar nas redes sociais.
Você contou que fez uma viagem ao Chuí, o ponto extremo do Brasil na região Sul. Também acompanhado pela esposa?
Sim, voltamos do Oiapoque, trocamos as mochilas, respiramos e nos mandamos para o Sul, conhecer uma outra realidade paisagística. Entre uma viagem e outra foram 15 ou 20 dias. Cabe aqui uma observação: está sendo muito dolorido acompanhar os lugares que passamos, pessoas que nos receberam e agora estão destruídos por esta catástrofe climática. Estamos muito tristes com tudo o que aconteceu no Rio Grande do Sul…
Quanto tempo levou?
Usamos o mesmo carro e durou um pouco menos, quatro meses
As regiões Sul e Sudeste realmente são um país à parte dentro do Brasil?
O Brasil todo é um país cheio de diferenças geológicas, culinárias, culturais. Mas, em uma coisa é um país só: o Brasil é muito acolhedor. Você, com os devidos cuidados, anda por ele recebendo afagos.
Pretende lançar um livro sobre esta viagem também? Se sim, quando?
O livro sobre a viagem ao Chuí já esta na gráfica. Devo fazer o lançamento no mês de agosto.
Viajar é bom?
Sugiro a todas as pessoas que vivam uma experiência parecida. Não precisa ser um ano sabático, mas pegue sua companheira, seu amigo, ou convide alguém e caia na estrada sabendo só onde quer chegar e redescubra muitas verdades. Ou refaça suas verdades.
Mais viagens virão?
Agora estamos pensando em repetir a mesma viagem. Devemos conhecer as cidades que deixamos para trás nesta primeira. São locais ricos em coisas para serem mostradas.
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