A astrofísica Duília de Mello nasceu em Jundiaí. A família deixou a cidade quando ela tinha quatro anos. A menina cresceu e se tornou uma cientista. Foi para os Estados Unidos e passou a trabalhar na Nasa. Agora, ela é a vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington (foto abaixo). Mesmo com atividades como observar o espaço profundo ou trazer à tona a biblioteca do diplomata Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), Duília confessa que quer voltar a Jundiaí e rever a Festa da Uva. O Jundiaí Agora(JA) entrevistou a cientista:
A senhora é a primeira brasileira a assumir um cargo tão importante nos Estados Unidos?
Sinceramente, não sei responder. Sei que existem decanos brasileiros aqui…
O que representa para a senhora assumir este trabalho?
É uma função que dá mais visibilidade. Porém, estou muito mais atarefada. Terei mais poder para realizar projetos de impacto na educação americana e mundial. Quero jovens brasileiros, especialmente as mulheres, tendo papel de destaque…
Como será seu trabalho na vice-reitoria da Universidade?
O reitor me passou uma grande incumbência: tirar a biblioteca Oliveira Lima dos porões da universidade. Esta é a maior biblioteca brasileira fora do Brasil e foi doada por Oliveira Lima (foto ao lado). Contém mais de 60 mil exemplares. É fantástica. Conta com livros raríssimos de Camões, cartas de Machado de Assis e Ruy Barbosa. É um acervo muito rico e pretendo transformá-lo num centro, num lugar de encontro de intelectuais brasileiros em Washington. Para isto é preciso levantar fundos. Farei uma campanha para concretizar este projeto.
E a Nasa?
Vim para os Estados Unidos para fazer pós-graduação no Instituto Hubble há 20 anos e não voltei mais para o Brasil. Sou colaboradora da Nasa. Morei três anos na Suécia. Sempre fiquei conectada à Nasa, mas cada vez menos. Minha pesquisa lá tem a ver com as imagens profundas do Universo, enxergar as galáxias mais distantes através do telescópio Hubble.
O vídeo acima é um trecho da exploração da Nebulosa de Orion usando luz visível e infravermelha. Dois modelos de computador correlacionados foram criados com base em observações de luz visível do telescópio espacial Hubble(abaixo) e observações de luz infravermelha do telescópio espacial Spitzer
A senhora tinha o sonho de ser astronauta?
Nunca! Jamais sonhei com isto. Eu sempre quis ser cientista. Queria ser astrônoma e consegui. Não vejo graça em ir para o espaço e ficar preso, com capacete. Eu sempre quis saber como e porquê as coisas funcionam…
A senhora morou muito tempo em Jundiaí?
Na verdade eu só nasci em Jundiaí. Minha família toda é de Juiz de Fora. Meus irmãos nasceram naquela cidade. Morei em Jundiaí até os quatro anos. Eu tinha um tio militar que morava aí. Na época, meu pai estava desempregado e veio para Jundiaí. Quando meu tio foi embora, também deixamos a cidade. Minha única ligação hoje com Jundiaí é a família Granhani, que é da esposa do meu tio. Porém, não tenho mais contato com eles. Gostaria muito de voltar a Jundiaí e visitar a Festa da Uva. Tenho boas recordações deste evento. Eu adorava ir à festa…
Quais as diferenças entre os mundos acadêmicos brasileiro e americano?
O Brasil é a oitava economia do mundo e faz bons investimentos na ciência. É verdade que poderia investir mais. Porém, investe de forma diferente dos americanos. Aí são feitas pesquisas mais aplicadas ao Brasil. A Embrapa é um exemplo. Creio que falta ao Brasil uma clareza maior de prioridades científicas e investir mais em outras áreas. Os Estados Unidos são mais organizados e acabam investindo maciçamente.
Para mim, o Brasil é um país desenvolvido que passa por uma crise econômica. O povo precisa ser mais atuante politicamente, votar melhor. Eu sinto orgulho de ser brasileira. É preciso estimular os brasileiros a seguir carreiras científicas… (fotos de Duília Melo: Tommy Wiklind)
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