O menino é de vivência de derrota, resultante da turbulência de sua história. Silencia sobre o pai e a mãe possui alguns limites. Não se furta, contudo, do direito de abraços, de presentear as pessoas com desenhos e de elogiá-las. É a sua forma de criar laços. Bom não se fechar em concha.

Semana passada, desenhou, como lembrança de seu primeiro presente, um super-herói, segundo ele. Quis saber qual era a personagem, por não identificá-la. Enrolou-se todo para explicar e me disse que era um super-herói que caíra. Indaguei sobre onde caíra. Não conseguiu me dizer.

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Observando melhor, deve ser uma mistura do pai com ele. Desejaria que o pai fosse um super-herói, porém ele “tombou” nas guerras do cotidiano. Os lábios costurados e as sobrancelhas diferem no traçado. Pode-se traduzi-la como uma figura disforme. E, além disso, encontra-se solta no ar, sem chão. Cortando o rosto, uma corda cru e azul. Essa corda, na categoria infantil, significa atenção e respeito pela capoeira.

Conclui-se que o pai não lhe dá segurança e que, ao aparecer, com o propósito de evitar atritos e pancadas, é melhor ficar de boca hermeticamente fechada.

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A esperança paterna do menino está na corda cru e azul, como na ladainha da capoeira Angola do Mestre Poloca: “Já tomei todos cuidados/ Só falta o meu benzer./ Meu mestre me deu conselho,/ Faça seu saber valer,/ Use calma e inteligência, / Tudo pode acontecer./ Quando menos se esperar,/Chance vai aparecer”. É isso! (foto acima: viladacrianca.com.br)


DERROTAMARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho