A moça me fala sobre o olhar estreito do companheiro. Possui dificuldade em enxergar dos lados e o que está acima. Incomoda-se com isso e não é capaz de ajudá-lo. Em todos os ângulos existe algo que valha a pena. Limita, o indivíduo, a deter-se em um apenas.

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Conseguiram murar a casa no loteamento popular em que residem. Ela anda atrás, agora, de um portão. Ele não quer que seja colocado. Penso: se ele caminha de “cabeça engessada”, o portão é um grande obstáculo. Ao mesmo tempo, divago sobre o que lhe foi negado desde a infância para ser assim. Criança ainda, fez-se da enxada e do cultivo da terra para terceiros. Em troca, uma habitação falida e o alimento insípido. Escola era para os filhos do “senhor”. Não aprendeu a ler e a escrever. A seca o empurrou para a migração. Tornou-se mão de obra na cidade grande, sem qualificação, apesar da força no braço. Faltaram-lhe tantas coisas para decifrar o mundo, tantos direitos da infância e à dignidade humana. Foi crescendo por acaso, empurrado pelos dias. Ainda bem que ela apareceu na vida dele, como lamparina ou raio ensolarado. E, felizmente, ele apareceu na vida dela, entendendo de abraço sem provocar hematomas, como ela experimentara no relacionamento anterior. E a moça, que passou por tantas dores no passado, vive com ele uma história de compreensão, que a faz de sorriso aberto e terno.

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“Eu não tenho paredes, só tenho horizontes”, escreveu Mário Quintana. Talvez o moço tenha guardado momentos de poesia – a poesia da vida não depende dos conhecimentos escolares -, por isso não quer o portão, que o impedirá de se defrontar de imediato com o horizonte. (foto acima: Mercado Livre)


ESTREITOMARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho