Há situações em que se busca uma resposta e se sobrepõe um silêncio carregado de dúvidas e angústias.
O menino está à procura de algo que liberte seu coração de tantos desconsolos, apesar de apenas 12 anos. A experiência dolorosa de miséria, não somente material, o corrói. Foge, portanto, por algumas horas, de casa, da escola, do projeto que frequenta. Foge de sua realidade ao inalar a fumaça prazerosa, que se encontra nas amarras do mundo do crime.
Semana passada, uma de suas debandadas não deu certo. Foram atrás dele e do amigo de desalento, de 11, e o trouxeram de volta. Não reagiu. Aquietou-se à espera da mãe que fora chamada. Nesse meio tempo, sugeriu-se que escrevessem um texto sobre caminhos que possuem duas bifurcações intensas: cárcere ou morte prematura. Recusaram-se a fazer.
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Quem se importa não considera alguém perdido e nem se afasta. Empenha-se, encontra, reencontra e insiste no regresso.
Os traficantes são assunto para a lei; os meninos, para o olhar que cuida, educa e protege.
Enquanto a mãe não vinha, o menino ficou olhando para as linhas em branco e para o título. Era claro que se encontrava dentro de si. Que sentimentos poderiam, naquela hora, conviver em seu coração? Raiva, medo, vontade de jogar tudo para o alto, decisão de se afastar do projeto?
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A mãe do outro menino chegou primeiro. Diante da situação e do que era exposto, do cotidiano de cada um, todos se comoveram e choraram. De repente, sem um sinal de alerta, o menino de 12 colocou as mãos no bolso e entregou os papelotes de maconha. Haviam comprado vendendo recicláveis.
Sem letras escritas, entregou o seu melhor texto.
(foto acima: entrepaginasdelivros.com)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social.