Vivências do silêncio se intensificam em Finados, mesmo que no cemitério haja burburinho. Existem prantos dependurados nas folhas das árvores centenárias. Canções antigas murmuram sobre as sepulturas e pétalas roxas caem no balançar da brisa.
O Dia de Finados é feito de partidas, algumas mais cedo do que se esperava e outras fora do tempo determinado porque, se pudéssemos, atrasaríamos o adeus das pessoas a quem amamos.
Como é dolorosa a hora da despedida, por mais que os fatos possam anunciá-la. No coração, um corte e, na alma, hematoma. A cicatriz e o dolorido perduram. Há ausências que se fazem presença em todos os dias. Uma palavra, uma silhueta, um perfume, uma foto, uma paisagem, cabelos brancos no pente trazem de volta. Ah, mas falta abraço apertado, olhares e conversas renovadas! E como é bom ter convivido com quem se fez memória bonita. São tantos os que se foram e que mantenho nos vínculos do carinho.
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Em Finados, todos os anos, não apenas nesta data, percorro as ruas do Cemitério Nossa Senhora do Desterro. Observo a delicadeza dos arranjos de flores, as imagens, as inscrições nas placas… Contemplo o horizonte, a natureza e os edifícios à distância. É como se, naquele cemitério, coubesse, por instantes, o meu universo. Chego ao túmulo de meu pai e de meus bisavós. Eleva-se sobre ele a imagem de Santa Isabel de Portugal, mãe e rainha bondosa, amada por seus súditos, cujo segredo era o amor a Jesus crucificado acima de todas as coisas. Escolha de meu avô, Benedicto Castilho de Andrade, para seus pais: Angélica Rosa de Sousa Castilho e João Nepomuceno de Andrade.
Acrescento flores e preces nas reminiscências de meu pai. Meus bisavós não conheci. Sorrio ao Céu pelo pai que me deu e retorno carregada de gratidão pela madrugada da Páscoa. Finados, psiu! Permita-me escutar as lembranças até que aconteça a Eternidade. (foto acima: Foto_Vidas)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.