Vivências do tempo em sincronia ou não, mas o coração em concordância sempre. Um dia desses, lamentava sobre a falta de minutos a mais numa conversa. Uma amiga me disse sobre a identidade de afeto, de pensamento, mas que a sincronia do tempo diverge, inúmeras vezes, devido às ocupações de cada um. E é verdade mesmo.

Veio-me um acontecimento do Natal de 1979. Naquela época, além de dar aula, trabalhava no Posto Cultural do Mobral. Senhor Sebastião Maia, de saudosa memória, que, em 1978, promovera a primeira exposição de presépios em nossa cidade, pediu-nos que realizássemos a segunda exposição. Com a aquiescência da então presidente, a professora Maria de Lourdes Torres Potenza, assumimos a tarefa, bastante trabalhosa, mas encantadora. A inesquecível escritora Olga Mathion esteve em visita aos presépios, logo após o dia 25 de dezembro. Desculpei-me por não ter lhe respondido, naquele ano, um cartão de boas festas. Ela me respondeu que entendia minha falta de tempo e que o evento era uma mensagem de “boas festas” a todos que o visitavam.

Em outra oportunidade, li uma carta do escritor José Mauro de Vasconcelos (1920-1984), em que ele dizia lamentar não conseguir se corresponder mais com seus leitores, pois o tempo lhe escorria pelos dedos.

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Como escreveu Mário Quintana em seu poema O Tempo: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa./ Quando se vê, já são seis horas!/ Quando se vê, já é sexta-feira!/ Quando se vê, já é natal…/ Quando se vê, já terminou o ano…”

Penso que a identidade de ternura e gratidão independem da sincronia do tempo. Cada um tem as ocupações de sua vida que lhe impedem de estar mais com as pessoas que moram nos recônditos de sua alma. Não é descaso. Sobreviver não é fácil, faz-se de luta diária. É preciso, no entanto, franqueza, compreensão e preces por aqueles com quem desejamos partilhar as horas, mas o cotidiano impede. (foto: hypescience.com)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.