WALMOR, o prefeito que leu Maquiavel até perder as contas

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No dia 7 de setembro de 1992, durante o desfile da Independência que na época era realizado na avenida Nove de Julho, o então prefeito Walmor Barbosa Martins estava no palanque e observava um grande grupo que vestia camisetas e carregava faixas de André Benassi, candidato à Prefeitura pelo PSDB. Era ano de eleições municipais, como 2024. Apontando para a multidão, Walmor passou a mão no bigode que ostentou por anos (e era uma espécie de marca registrada dele) e disse para um repórter que estava próximo: “está vendo isto? Este aí (Benassi) vai ganhar as eleições e ficará no poder 20 anos”. Benassi não ficou duas décadas na Prefeitura. E nem poderia. Mas o grupo dele sim. Isto comprova a visão estratégica e conhecimento da política local que Walmor tinha e tem. Hoje, aproveitando o clima eleitoral, o Jundiaí Agora republica entrevista com Walmor feita no final de 2017.

Walmor(foto ao lado de João Carlos Lopes) morreu no dia 6 de janeiro do ano passado. Ele era mineiro de Guaranésia, Minas Gerais, o ex-prefeito, continuava antenado em tudo o que acontecia em Jundiaí. E embora negasse, tinha incorporado pelo menos uma das características de um dos livros de cabeceira que leu até perder as contas: O Príncipe, de Maquiavel. O ex-prefeito esbanjava ‘ironia sutil’. Bastava 10 minutos de conversa para perceber a rapidez do raciocínio que ele transformava quase tudo em fino deboche. Quando perguntado sobre este aspecto, Walmor negava. “Eu não! Eu era é muito bravo na Prefeitura”, afirmava. Antes de ser prefeito, ele foi vereador suplente nos anos de 1958 e 1959. Depois, elegeu-se por dois mandatos, ficando na Câmara praticamente toda a década de 60. Daí decidiu concorrer à Prefeitura de Jundiaí. Ganhou em 1968 e assumiu no ano seguinte. Ficou no cargo até 1972. Depois, voltou ao Paço – de 1989 a 1992 – sem ter planejado. No vídeo abaixo, Walmor fala sobre a situação política do país no final de 2017…

A Câmara – No Legislativo, Walmor Barbosa Martins tinha a companhia de Tarcísio Germano de Lemos, com que estudou Direito. “As professoras sofriam com a gente. Mas nós tirávamos as melhores notas da classe”, recordava. Eram outros tempos. E o nível de discussões na Câmara era elevadíssimo. Os vereadores travavam debates em francês e até em latim. Walmor era um deles. “Vários dos vereadores que ali estavam eram latinistas incríveis”, contou.

Walmor Barbosa Martins, Tarcísio Germano de Lemos e Pedro Fávaro

O então vereador decidiu que iria concorrer à Prefeitura. “Eu e o Tarcísio saíamos de madrugada com cartazes que ele bolava. Pegávamos o trem e íamos conversando com os trabalhadores”, conta. Walmor foi eleito em novembro. No mês seguinte, o governo militar baixou o Ato Institucional número 5 – o AI 5 –, considerado o mais duro golpe na democracia e que deu poderes quase absolutos aos generais. Apesar disto, ele assegura que os militares nunca interferiram na administração de Jundiaí. 

A Prefeitura – Walmor morava no centro da cidade. Era vizinho de outro ex-prefeito, Íbis Cruz. Apesar de se encontrarem praticamente todos os dias, cada um defendia o que considerava ser obra de sua gestão. Íbis dize que é o responsável por Jundiaí ter água atualmente. Walmor Barbosa Martins afirma que a benfeitoria é responsabilidade de sua administração. “Ninguém tem ideia do que nós fizemos. Puxamos água do rio Atibaia, em Itatiba”.

Walmor, o bigode e o então governador André Franco Montoro

A existência da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) e da Escola Superior de Educação Física (ESEF), Walmor também creditava à sua intervenção. No caso da primeira, a Câmara queria – segundo ele – extingui-la para criar uma outra, de Engenharia Ferroviária. “Naquela época, Jundiaí era cortada por várias ferrovias. O dr. Jayme Rodrigues, que era diretor da Beneficência Portuguesa e do Hospital Sorocabanos, conversou comigo e eu pedi para que ele assumisse a FMJ. Com o apoio dele, que doava todo o salário para bolsas de estudo, a ideia de fechar a faculdade foi enterrada. Também estive em São Paulo para trazer mais uma faculdade para Jundiaí e fui informado pela Secretaria de Educação que a cidade poderia ter uma de Educação Física que funciona até hoje”, explicou. Outra coisa que ele se orgulhava: corte de impostos. “Eu fui o único prefeito de Jundiaí que acabou com quatro taxas injustas de uma vez: bombeiro, iluminação pública, segurança e coleta de lixo. Se o município não prestava estes serviços, como poderia cobrar dos cidadãos?”, perguntava.

Eleito, Walmor conversa com algumas crianças no oitavo andar do Paço Municipal

O segundo mandato veio – por ironia – através de André Benassi, que administrou Jundiaí de 1983 a 1988. “Ele queria fechar a Faculdade de Medicina. Eu me encontrei com o Pedro Fávaro (professor, ex-prefeito já falecido) e decidimos que teríamos de falar com o prefeito para demovê-lo desta ideia. Na saída da Prefeitura viram nós dois e começaram a gritar que seríamos candidatos juntos. Eu não tinha pensado nisto. E nem queria voltar a ser prefeito. Eu estava trabalhando como advogado. Mas a proposta foi ganhando corpo”, contou. Walmor voltou à Prefeitura para comandar Jundiaí até 1992 tendo Pedro Fávaro como seu vice.

Walmor Barbosa Martins nunca se interessou em ser deputado. Talvez por não ter perfil para esta função que é, na prática, fazer pedidos ao Governo do Estado. Walmor acredita que se a reeleição existisse na época em que foi prefeito, não teria deixado o Paço antes de completar oito anos.

Walmor em visita à Câmara de Jundiaí juntamente com o advogado Tarcísio

Por mais estranho que pareça, de uma lista formada pelos ex-prefeitos Benassi, Miguel Haddad, Ary Fossen e Pedro Bigardi, Walmor Barbosa Martins aponta o antigo adversário, André Benassi, como o melhor de todos. “Ele é um fenômeno político. E destes citados, foi o que mais fez para a cidade. Discuti várias vezes com ele. Mas não se pode tirar os méritos de alguém só porque foi seu rival político”, justificava.

Voltando ao Príncipe, de Maquiavel, no último mandato corria a lenda – principalmente entre os jornalistas – de que Walmor lia este livro e o seguia à risca. Por isto ele seria ‘maquiavélico’. O ex-político confirmou que teve este livro na cabeceira por muito tempo. “Maquiavel é extraordinário. Ele fez um retrato exato do homem da época em que foi escrito e que, na verdade, não mudou muito. Era o homem preocupado com o ‘eu’. Maquiavel o explicou através da razão. Era um pensamento muito avançado para a época e essa expressão ‘maquiavélico’ passou a ser usada indevidamente. E aproveitou para dar uma alfinetada no brasileiro de forma geral: “Este é o país do ‘me dá’. As pessoas só pedem. Ninguém pergunta o que pode ser feito para melhorar o Brasil”. Na foto ao lado, ele e a esposa, dona Eleninha(João Carlos Lopes)

Daqui a 100 anos, quando tudo não passar de história, Walmor Barbosa Martins disse gostaria de ser lembrado como “o prefeito que teve a felicidade de trabalhar com uma equipe de alto nível, a melhor que já administrou Jundiaí”. Nada maquiavélico da parte dele…

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