A doutora jundiaiense que é terrível contra os INSETOS

Com doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Santa Catarina, a jundiaiense Fernanda Checchinato, de 43 anos, adora criar produtos. Gosta tanto que criou um repelente menos tóxico para ser aplicado em tecidos. O Protec foi pensado em quem não pode receber a vacina contra a febre amarela, como idosos e imunodeprimidos por tratamentos. Parafraseando um slogan conhecido: Ela é terrível contra os insetos. Só contra os insetos. O Jundiaí Agora entrevistou Fernanda:

Onde morou em Jundiaí? Onde estudou? 

Morei na rua Paula Penteado e na Malota. Meus pais compraram uma casa quando o bairro ainda era considerado zona rural. Estudei a infância toda na Escola Estadual Conde do Parnaíba. Depois fiz o colegial no Leonardo da Vinci. Morei em Jundiaí até em 1994 e voltei em 2008.

Quais as principais lembranças que tem de Jundiaí? Mantém contato com amigos e familiares?

Vou a Jundiaí todos os finais de semana na casa dos meus pais. Frequento o Clube Jundiaiense, levo minha filha na natação. Tenho encontros com o pessoal do colégio e às vezes da escola Conde do Parnaíba. Tenho ótimas lembranças de meus amigos de infância, centro da cidade.

Onde a senhora mora atualmente?

Em São Paulo. Trabalho na Aya Tech. Mudei de Santa Catarina em 2008. Depois voltei para Jundiaí e mudei para a capital em 2010. Atuo como CEO da Aya Tech. Trabalho com pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, faço parte fundamentos e administrativa da empresa.

Quando percebeu que queria ser uma engenheira química?

Desde a infância eu gostava de colher flores e fazer experimentos com elas. Macerava com água para fazer perfume, me encantava misturar coisas. Achava química fascinante mas tinha dúvidas se conseguiria fazer o curso. Eu não era boa nesta matéria. Visitei as faculdades abertas da Unicamp pelo colégio e me encantei com a Engenharia de alimentos. Decidi fazer engenharia química porque tem mais oportunidades de trabalho do que engenharia de alimentos.

Por que fazer doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina?

Eu me formei na UFSC em 1999. O campo de trabalho estava ruim, decidi fazer mestrado consegui bolsa do CNPQ. A pesquisa sempre me fascinou, eu sempre fui apaixonada por experimente e pesquisar. Terminei o mestrado e fui para doutorado. Sempre quis trabalhar com pesquisa e desenvolvimento. Participei do doutorado na França e retornei ao Brasil com o intuito de trabalhar com pesquisa. Recebi alguns convites de trabalho na França mas quis voltar

Como surgiu a ideia de criar um biorepelente contra a febre amarela para ser usado no tecido? Quando ocorreu isto?

Depois de terminar o doutorado tive dificuldade para encontrar emprego no Brasil por ser muito qualificada para as vagas. Fui trabalhar em Piratuba em uma metalúrgica onde eu fazia desenvolvimento de eletrodomésticos de uso pessoal como secador de cabelo, chapinha. Lá, o dono pescava e me deu de presente uma bandana americana repelente de insetos, caríssima. Eu alérgica a insetos e me interessei por aquele objeto. Nas horas vagas iniciei uma pesquisa pessoal a respeito. Como eu não trabalhava em uma área que me encantava decidi sair da metalurgia e montei a Aya Tech. Inicialmente eu fazia roupa repelente de insetos. Mas a demanda dos clientes era para aplicar o repelente em qualquer peça de roupa. Continuei pesquisando até chegar no spray aerossol. Então eu não criei diretamente o spray e nem foquei na febre amarela. O repelente serve também para insetos como Aedes aegypti, culex e anopheles que transmitem a febre amarela, malária, leishmaniose, entre outras. A Aya foi fundada em 2010. Três anos depois comecei pesquisar spray. Em 2015 saiu um lote piloto. No ano seguinte comecei a comercializá-lo.

Como foi o desenvolvimento? Quais as principais dificuldades?

O desenvolvimento foi feito em laboratório, testes em Aedes aegypti vivos, criados na Unicamp. Depois eu mesma criei os mosquitos para testes. Tudo foi testado pelos laboratórios credenciados pela Anvisa. A dificuldade principal foi o gasto, conseguir patrocínio e encontrar insetos vivos, além das metodologias de ensaio que servissem para provar a eficiência dos produtos em questão.

Gastou muito tempo e verbas?

Ao todo foram três anos. Tudo custeado por mim mesma. Tudo que ganhei na vida, investi no projeto: R$ 300 mil.

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Quais os principais benefícios?

Previne contra picada de insetos. Não é absorvido pela pele portanto pode ser usado em qualquer faixa etária e não causa alergias.

Como estão as vendas? 

Temos um fluxo de venda muito bom o que nos atrapalha e não nos deixa aumentar ainda mais as vendas é a Anvisa que não regulamenta o produto e não o isenta de registro oficialmente por escrito. Mesmo com inúmeras reuniões e protocolos diz que mesmo o Brasil não tendo legislação para enquadrar nosso produto que irá regulamentá-lo. Mas só está nos enrolando há um ano e não oficializa a resposta ou o que deseja de nós. Precisamos do número de registro. Grandes redes farmacêuticas aguardam este número comprar o nosso produto.

Como a senhora analisa o fato de o brasileiro, em pleno século 21, sofrer(e até morrer) com doenças transmitidas por insetos? A culpa é de quem?

Eu acho um absurdo em pleno século 21 termos ainda surtos de dengue ou febre amarela que já foi erradicada há muitos anos. Creio que exista muito pouco investimento em prevenção de doenças por parte dos nossos governantes. Repelente de insetos deveria ser considerado um item de uso diário para todas as camadas da população, livre de impostos para que pudesse ser barato e estar ao alcance de todos da população, deveria ser  distribuído na rede pública às grávidas, crianças e idosos que são os que mais sofrem com as doenças causadas por insetos e não podem se vacina. Assim como transplantados e quem faz quimioterapia! Repelente deveria ser considerado um EPI – Equipamento de Proteção Individual para todos que trabalham em zona de risco de insetos, áreas de mata, ou outros lugares que tenham Aedes aegypti, culex, anopheles. Não trabalhar com a prevenção acaba gerando mais custos com o tratamento das doenças. Hoje nascem mais crianças com microcefalia. Isto poderia ter sido evitado se tivesse sido prevenido essa doenças. O Protec, por exemplo, não é jogado na pele. Ele é usado em qualquer roupa, sofá, cortina. Dura 20 lavagens ou dois meses. É proteção para todos. Não intoxica e não causa doenças.