TOCA RAUL – Em 1974, só a Som Charle tinha o LP GITA

Raul Seixas se tornou um fenômeno em 1974, quando lançou o LP Gita(foto principal), segundo o fotógrafo Ernesto Zambon. Na época, ele era dono de uma pequena loja de discos, a Som Charle, que ficava na rua do Rosário. Era um dos três locais que os jundiaienses compravam música. Além do comércio de Zambon havia também o Credi Curadinho, na Galeria Bochino, e na loja Carlos Gomes, na rua Barão de Jundiaí. E foi o ouvido apurado de Ernesto, que hoje vive no litoral Norte, que fez a Som Charle se dar bem quando Gita estourou. “O vendedor avisou, ouvimos com atenção e percebemos que aquele disco seria um sucesso total”, relembra.

Você gosta de Raul?

Sim! Eu gostava e ainda gosto do Raul Seixas. O LP Gita foi um sucesso estrondoso, marcou uma nova era na musica brasileira.

Qual era o perfil do fã do Maluco Beleza naquela época?

Eram pessoas com perfis bem variados. Ia desde aquele que curtia rock tradicional até o morador da periferia que ainda não tinha gênero musical que pudesse se identificar.

Som Charle, na rua do Rosário, música para todos os gostos: Ernesto Zambom e a vendedora Catarina

O que você lembra de curioso nesta época, relacionado às vendas de discos do Raul?

Ele se tornou rapidamente um fenômeno popular. Os que gostavam dele e eram mais elitistas e procuravam disfarçar a preferência na hora do compra. Mas, no final, saiam da loja com o LP.

Vocês vendiam muito os discos do roqueiro baiano?

Gita vendeu muito. Como nós acreditávamos que ele seria um estouro, reforçamos o estoque. Os jundiaienses, por um bom período, só encontraram o disco na Som Charle.

Mas por que você decidiu apostar naquele trabalho do Raul?

Apostamos na compra de uma quantidade bem maior que a normal porque o vendedor nos dava um disco como amostra. Ouvimos e sentimos que seria um sucesso total.

Como podia ter tanta certeza de sucesso?

Porque era diferente, desde os arranjos até a produção musical. Mas o que impactava mesmo eram os temas das letras.

E o que significou este sucesso estrondoso?

Ele foi um divisor de águas em termos de preferência musical. Naquela época, no início dos anos 70, a maioria gostava de rock internacional. Com o surgimento do Raul um novo filão foi descoberto. Ele fez um rock nacional de qualidade, bem elaborado, de protesto e satírico e sem cair no lugar comum. Não foi uma imitação estrangeira.

Você chegou ver Raul Seixas num show?

Sim. Assisti dois shows dele em São Paulo, bem no começo da carreira. Ele ainda era bem lúcido. Era o tempo em que ele fazia clipes para o Fantástico. Depois começou a decadência…

E naquela época, nos shows de outros artistas, sempre tinha gente que gritava ‘Toca Raul’?

Não, ainda não havia este pedido. Mas em alguns shows que vou em casas noturnas por aqui, no litoral Norte, eu ‘toca Raul'(risos). Nem sempre sou atendido…

Um dia todo tocando Raul – O radialista Marcelo Tadeu(ao lado) afirma que Raul Seixas rende bons e longos papos. “Interessante isto: num país miseravelmente sem memória, um sujeito que consegue ser cultuado por milhares de pessoas e até por gerações que só o conhecem através da internet, é algo inacreditável. Por isto que podemos dizer que Raul é o cara, no presente, provando que ele é imortal”.

Para Tadeu, este sucesso que não acaba se deve à genialidade e à linha de pensamento transformadas em músicas atuais politicamente falando. “Não dá nem para fazer um paralelo com cenário da MPB atual, distorcido e contaminado pelo marketing que quer dinheiro rápido e com isto só se produz músicas com prazo de validade, criando o ‘público modinha’. Quem gosta do Raul não é assim. Ele tem um público engajado.

O radialista tem duas passagens interessantes envolvendo Raul Seixas. A primeira no dia da morte dele. A outra, na cidade natal do cantor. No dia 21 de agosto de 1989, Marcelo Tadeu estava trabalhando na Rádio Notícias FM(hoje FM 105), quando a notícia da morte de Raul chegou. “O produtor Almir dos Santos, que era músico e circulava pelas gravadoras, decidiu mudar toda a grade de programação da emissora. Tocamos Raul Seixas o dia todo. Ele também colocou no ar muitas pessoas que conheceram o artista, gente das gravadoras Odeon, Som Livre, Copacabana. Também entrevistamos Sílvio Passos, que foi fundador do primeiro fã clube do Raul. Ele deu um depoimento emocionado. O trabalho que fizemos foi tão interessante que rendeu uma matéria no jornal Folha da Tarde, que era um braço da Folha de SP”.

A outra passagem da vida do radialista ligada ao Maluco Beleza é bem mais frustante, como ele mesmo diz. Foi em 2006. Ele e o jornalista Rafael Zochetti foram até Salvador, terra de Raul, para cobrir um jogo do Paulista de Jundiaí contra o Vitória. “Nós queríamos ir visitar o museu dedicado ao Raul Seixas. Mas foi uma correria. Descemos do avião, fomos para o hotel. Depois para o campo, fizemos a transmissão, voltamos para o hotel e de lá, para o aeroporto. Até fizemos uma brincadeira com aquele ditado “ir a Roma e não ver o Papa. Nós fomos a Salvador e não fomos ao museu do Raul Seixas”, concluiu.(ilustração abaixo: produto.mercadolivre.com.br)

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