O nome e o rosto, ele não revela, embora seja o mais popular do cruzamento de duas ruas importantes da cidade de Jundiaí. O senhor obeso tem apenas 58 anos. Aparenta mais. Anda com dificuldade. Carrega panos de cozinha e de chão, além de uma plaquinha informando que cinco deles custam R$ 10. Mesmo quando ouve ‘não’ dos motoristas, o vendedor de panos dá um sorriso e segue por entre os carros, arrastando os pés em sandálias surradas.
A identidade dele não pode ser revelada porque é aposentado por invalidez. Ganha R$ 800 por mês. “É um bom dinheiro que não posso perder de jeito nenhum”. Sistema injusto de um país injusto. Um homem que trabalhou a vida inteira é obrigado a continuar trabalhando mesmo sendo doente. Ele precisa manter a casa, ter o que comer e comprar remédios, tem medo de perder R$ 800. Por isso se mantém anônimo, sem rosto.
O fato é que os fiscais do comércio não dão trégua. Não cabe a eles ouvir a história de todos que vendem mercadorias irregularmente. E é por isto que o homem que carrega a plaquinha em uma mão e na outra dezenas de panos, não fica no mesmo lugar muito tempo. “Vou para Vinhedo, Valinhos, Campinas, Itu. Cada dia numa cidade diferente, afirma.
O vendedor de panos de chão viveu a vida em padarias. Sempre foi balconista. A saúde foi se fragilizando. É diabético. Chegou a ter 200 quilos. Hoje gasta R$ 80 com uma única caixa de remédios. Mais do que ganha por dia com suas vendas que começaram há dois anos. Na verdade, depois que se aposentou começou a vender de tudo um pouco. Balas, morangos, goiabas. Com os panos chega a ganhar R$ 60 por dia. A mercadoria vem de Minas Gerais. “Tenho de comprar de pouquinho. Não tenho dinheiro para comprar muitos panos de uma só vez” revela.
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Sob o sol ou sob a chuva, ele nunca foi maltratado. Homens e mulheres compram “porque gostam da qualidade dos panos que vendo, Sempre me agradecem. Sou tratado com respeito e nunca fui xingado”, explica.
Apesar da vida difícil, ele não pensa em deixa-la. “Acordo as 5h30. Trabalho até 16 horas. Depois volto para casa, em Campo Limpo. Tomo um banho, janto, descanso e vou dormir”. Se um emprego com carteira assinada fosse oferecido, não aceitaria. “Sofro muito com este trabalho. Mas não tenho chefe e faço o horário que quero”, comenta. Se o cansaço, as dores, os remédios, o sol forte, a chuva pesada, tiram o ânimo do vendedor de panos? Ele assegura que não. “Estou velho, já chegando ao fim da vida. Tenho 58 anos! Mas não estou desanimado. Estou tranquilo e feliz”, conclui.