A data, que celebra as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres ao longo das décadas – 8 de março -, é comemorada em diversos países. Mas antes dos primeiros movimentos que levaram à criação da data, no final do século 19, a História Mundial possui extensa presença da mulher em todos os momentos cruciais, que impactaram a vida de milhões de pessoas, tanto de forma positiva como negativa, em reinados, governos e também no segmento humanitário, espiritual.
Antes de Cristo, a rainha Cleópatra, com sua inteligência, ambição e mão de ferro, ficou imortalizada na História como uma figura que exerce até hoje fascínio e temor àqueles que se debruçam em estudar sua vida e como exerceu seu poder, comandando um grande exército.
Poucos anos depois de Cleópatra, nasceu Jesus, que chamado O Filho de Deus, nasceu através do parto normal de uma mulher, Maria. Se O Filho de Deus veio ao mundo através de uma mulher, que gerou, amamentou, cuidou, essa mulher conquistou um lugar especial na fé de milhões, bilhões de pessoas, vindo o dogma da assunção. Jesus ascendeu ao céu, através de seu próprio poder e glória, enquanto Maria foi conduzida ao céu, a assunção. Dentro da fé cristã, quem ama o filho (Jesus) igualmente ama sua mãe (Maria). Não se trata de uma “divisão” e sim união, expressão máxima do amor da mulher pelo (a) filho (a) que por meses leva no ventre. A fé de Maria, sua confiança no anúncio da chegada daquele filho, reforça imensamente a fé dos cristãos, uma parcela considerável da população mundial.
No decorrer dos séculos, centenas, milhares de mulheres ascenderam na História através de atos humanitários pelos pobres, miseráveis, enfermos e com todo tipo de transtorno. Inspiradas pela vida daquelas que foram beatificadas e canonizadas pelo exemplo de fé e determinação, encontraremos em pesquisas incontáveis irmãs que doaram suas vidas em missões em países pobres, em guerra, trabalhando em hospitais ou simplesmente barracões, onde fizeram de tudo para tratar feridos, doentes e transtornados. Muitas, ainda, anônimas.
E assim, o papel da mulher na História veio sempre ora ligado ao poder político, ora ao poder da fé, do servir, da caridade, de se doar ao próximo como a mãe se doa aos filhos. Quantas e quantas pessoas, que perderam ou não conheceram suas mães biológicas, ganharam mãe na figura destas pessoas determinadas a salvar vidas!
Seja na caridade, no empreendedorismo, nas decisões e estratégias… e no poder, a mulher esteve e continua presente ao lado das demais e dos homens na contínua construção do ambiente. Numa composição de Amelinha, nos anos 80, a autora cita fases da História mundial destacando a mulher:
“A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes”
“A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher, mimosa flor
A história seria mentirosa”
Outra cantora e compositora, nos mesmos anos 80, década de grandes conquistas do público feminino, destaca numa de suas composições:
“Nas duas faces de Eva… a bela e a fera…”
“Um sexto sentido maior que a razão…”
“Gata borralheira… você é princesa… dondoca é uma espécie em extinção”
(Rita Lee)
Nas últimas décadas as mudanças aceleraram, as conquistas aceleraram. Na mesma proporção, cresceram também os debates e conflitos dentro da sociedade e da política. Aceleraram, mas são processos antigos, numa espécie de vaivém. Muitos artistas e pensadores reconhecem este processo; uma certa repetição da História, apenas a roupagem é trocada. A evolução do interno, da essência, é lenta. Em Madagascar, por exemplo, lá nos idos de 1700, 1800, 1900, as três rainhas, denominadas Ranavalona I, II e III, eram opostas uma da outra. A primeira ficou conhecida pela opressão dentro de sua política isolacionista. A segunda fez a abertura, inclusive ao cristianismo.
De lá para cá, já dentro das lutas que culminaram com as conquistas do devido espaço da mulher frente a uma cultura patriarcal, muitas ascenderam ao governo de nações influentes. Aqui no Brasil tivemos uma na presidência recentemente, eleita com projeto social. Hoje temos uma ministra, com um projeto conservador. Mulheres de poder, em lados opostos. Além das intermináveis polêmicas dentro do poder político, os desafios seguem pelos caminhos do outro poder, das igrejas. O segmento evangélico está dividido quando se fala em ordenação pastoral, mulheres no púlpito. Pastoras, bispas… elas existem em várias denominações, mas muitas igrejas ainda não aceitam.(Ilustração: Freepik)
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Finalizo citando também o âmbito profissional, dentro de minha área, transportes. No ramo dos caminhões e motoristas de ônibus, elas chegaram bem antes aos caminhões, carretas, sentem orgulho da profissão, de dominar aqueles pesados. Depois começaram a ser contratadas pelas empresas de ônibus, para dirigir. Até mesmo a conservadora Viação Cometa chegou a ter mulher conduzindo na época os “Flecha Azul”. No segmento urbano a primeira que conheci foi em 1994 em Santo André. Foi a primeira mulher a conduzir um urbano da EPT. A “novidade” levava à admiração dos passageiros e quando ela cruzava com outros ônibus da empresa, os motoristas piscavam o farol, acenavam, não a deixavam passar despercebida. Hoje não ocorre esse fator surpresa, admiração. Elas estão em todos os segmentos.
Independentemente de questões políticas, partidárias, a data está aí para ser comemorada e refletida, sobre os caminhos traçados até aqui quando se fala em igualdade. Afinal, independentemente de sexo, orientação, gênero, etc., somos todos seres humanos e merecemos, acima de tudo, o respeito.
GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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