INTUIÇÃO e tomadas de decisões

Tenho insistido na intuição por acreditar muito em tomadas de atitudes baseadas nela, na minha. E, de certa forma, o resultado é bem satisfatório; assim, aprendi a atentar mais a ela e a dar um pouco mais de valor a esta arma pessoal que me possibilita tais tomadas de decisão, com uma reflexão mais suave e mais íntima, mas o que é a intuição?

Podemos arriscar a dizer que temos três tipos de intuição: a primeira nos permite “ler” o que a pessoa sente, sem muito esforço; a segunda é fruto de nossa experiência, de nossa vivência e a terceira diz respeito a prever situações futuras. Qualquer uma delas é bastante polêmica e digna de muita discussão, convergente ou não. Nem todos confiam em nossas intuições e isso causa um misto de desconfiança e de misticismo.

Entretanto, é bom lembrar que a intuição responde a um milhão de hipóteses que temos, mesmo sem estar muito ligado nelas. Se deram certo, nossa intuição foi boa. Se derem errado, vão para a lixeira do cérebro como outros bilhões de erro acabam indo, e não se fala mais nisso. Pois é, estranho esse papel: nem sempre a situação é alarmante e nem sempre são coisas serias a serem intuídas. Mas,…

Então, é nesse mas que centraremos nosso foco de observação e análise. Como anunciado anteriormente, o conhecimento do contexto, nossa inteligência e nossa proximidade com pessoas e situações concorrem para que tenhamos uma leitura contextual mais apurada: se somos amigos de Fulana, se sabemos das relações dela, se conhecemos seu ambiente de trabalho, podemos elaborar conclusões mais assertivas sobre a vida naquele ambiente e os possíveis deslizes e acertos cometidos por Fulana.

Isto reforça a intuição tipo um e tipo dois. Não podemos menosprezar nossa experiência nem tão pouco nossa leitura do Mundo; bons observadores são capazes de capturar situações não ditas e, então, organizar sua linha de pensamento e antever situações lógicas que não apresentam nada de inusitado. São lógicas. Então, parece que num golpe de visão temos algo que nos garanta o acontecimento de um fato, encaminhado pelas propostas e pelas conexões que estabelecemos, configurando-se uma intuição.

Inclusive a intuição flui melhor quanto mais formos conectados com nosso Mundo e esta conexão envolve todos e tudo que compõem nosso contexto material e não material. Por isso intuição. E, sempre que possível, nossos olhares ficam aguçados para perceber (o verbo é perceber, porque não se trata de algo cognitivo, apenas) aquilo que se nos faz sentido, ainda que não seja uma informação necessária para o momento.

Intuir é um exercício fabuloso por nos possibilitar exercer sincronismos e mediações nunca esperadas: não premeditamos nem temos acesso àquilo a que intuiremos. Ai está o grande mistério. Em nossas relações interpessoais, quando intuímos pela concretização, significa que tivemos mostras que nos permitiram “perceber” este estado de concretude.

E o contrário é verdadeiro: atitudes frágeis, mentiras, descasos, vacilos possibilitam fazer uma leitura de baixa categoria, o que nos aponta para fragilidade, falsidade, interesse, fraqueza de caráter e para uma relação tóxica, inconsequente e abusiva, até. Mas estes detalhes são sentidos ao longo dos dias, meses, tempo em que se convive com aquela parceria. São situações sentidas e, mesmo à olhos nus, percebe-se a fragilidade e a grosseria da situação.

Aqui, grosseria foi usada como algo grotesco, algo desforme e sem conexão com a cena vista ou vivida. De longe temos a ideia de quem sim e quem não. Quem é de fato e quem não é nem nunca será: intuitivamente nossa percepção nos “desenha” este detalhe que, aos poucos, vai se acentuando e se fazendo presente, até que o desfecho se concretize. Grande aliada da busca pelo conhecimento interno, a abençoada intuição!!!

E, ainda que seja muito mal empregada e pouco entendida, a intuição se presta a iluminar espaços pouco observados e, até, a adiantar algumas questões que passam por nossas cabeças e não damos valor: ela nos desperta à observar situações que não valorizamos e que, de repente, se nos apresentam com força total e tenta nos surpreender, não sem antes ter sido disparada pela intuição.

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Hoje, em minha situação pessoal, coloco-me atento aos meus propósitos intuitivos e dou vazão àquilo que me parece sinalizado: minha percepção me conduz com bastante segurança e me garante uma estabilidade emocional que permite avanços e recuos táticos, em minha vida; não deixo de observar nem de perceber nada do que me é apontado e me estabeleço adequadamente em minhas relações interpessoais. Enfrento, sim, situações difíceis, desencontros de ideias e propósitos, diferentes objetivos, mentiras e sonhos com mais desenvoltura, porque consigo perceber onde terei porto seguro e onde pisarei em areia. Ajuda-me a entender meu caminho.

Mentira que tudo é fácil. Mentira que a vida é um mar de flores ou de calmaria. Mentira que o sorriso sempre é verdadeiro. Mas mentira, também, que a fase ruim não passe, que o medo não cesse e que a aflição não se afaste. Intuitivamente, busco-me cercar por pessoas que gosto e por quem sou gostado: isto me fortalece e garante meu próximo passo. Só preciso da coragem para o próximo passo.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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