Jundiaí na REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA

Era uma noite de sábado muito fria há exatos 86 anos , 9 de Julho de 1932, jovens jundiaienses se divertiam na quermesse do Mosteiro São Bento. Outros estavam reunidos na Padaria A Paulicéa para um bate-papo regado a café , conhaque e Vermuth para espantar a temperatura baixa. Também havia aqueles que flertavam em frente a então Matriz Nossa Senhora do Desterro no vai e vem do tradicional footing, mas algo acontece e mexe de vez com a calma da bucólica Jundiaí dos anos 1930! O rádio avisa que havia sido deflagrada uma Revolução em São Paulo e o estopim foi a morte de quatro estudantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, as iniciais dos nomes desses rapazes formariam a sigla MMDC que transformou-se no símbolo da revolução de 1932. Para entender um pouco melhor o conflito vamos voltar um pouco no tempo .


REVOLUÇÃO

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Acima, combatentes jundiaienses da Revolução de 1932. Em pé da esquerda para a direita: Hugo Anaruma. Agachado, à esquerda, o médico e ex-prefeito doutor Antenor Soares Gandra


Logo após a Revolução de 1930, golpe de Estado que levou Getúlio Vargas ao poder deixou muito insatisfeitos os paulistas. Getúlio nomeou interventores para os Estados e era grande a insatisfação com o governo provisório de Vargas. Os paulistas esperavam a promessa de novas eleições. O tempo foi passando e o Governo não convocava o pleito e os fazendeiros de São Paulo passaram a liderar manifestações contrárias ao Governo provisório, com grande participação de estudantes universitários, comerciários e profissionais liberais.

Os paulistas exigiam do governo provisório uma nova Constituição e a convocação de eleições para presidente. Exigiam também a mudança do Interventor e criticavam duramente a maneira autoritária com que Vargas vinha conduzindo a política do país querendo mais liberdade e participação. Lia-se na imprensa da época : Ao povo de Jundiahy, São Paulo, à frente dos destinos da Pátria acaba de lançar seu grito de liberdade pela constitucionalização imediata do País, rompendo com a ditadura que nos vilipendia. Jundiaienses! Ficai atentos ao chamado do nosso querido Estado de São Paulo, ele poderá necessitar do vosso concurso. Dai-o se preciso for. Alistai-vos na milícia cívica! Por São Paulo! Por Jundiahy!

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A notícia do movimento constitucionalista tomou conta de Jundiaí e de todo o interior e já no dia 11, numa segunda-feira, o médico dr. Antenor Soares Gandra marcou reunião na “A Paulicea” que ficava na Rua Barão de Jundiaí. Centenas de jovens participaram. Nessa reunião, Gandra argumentou, alertou e convenceu os jundiaienses da importância da participação na luta pelo ideal democrático e constitucional e muito aderiram de pronto e durante a semana houve uma intensa propaganda e preparação para os que buscavam os postos de alistamento.

No domingo, dia 17, às 10 horas, uma multidão se concentrou no Largo São Bento, hoje denominada Praça Tibúrcio Estevan de Siqueira (em homenagem ao jornalista). Além dos soldados alistados, pais, filhos, irmãos, avós tios e amigos estavam ali para uma despedida que poderia ser a última. Na emocionante solenidade, os soldados perfilados em formatura marchando por toda Rua Barão de Jundiaí sentido vila Arens até chegar na Estação Ferroviária da antiga São Paulo Railway de onde seguiram de trem para a Capital Paulista.

Durante todo trajeto até a estação de trem de Vila Arens em que os soldados marcharam recebiam dos moradores que presenciando a história diante de suas retinas e muito emocionados se aglomeravam nas janelas, portões e calçadas e gritavam: Viva Jundiaí!, Viva São Paulo!, Deus os acompanhe!, Viva a Democracia!, Obrigado bravos jovens!!! Na foto principal, os soldados de Jundiaí preparados para a guerra. A foto foi tirada na rua do Rosário, praticamente em frente da antiga Companhia de Comunicação (Ciacom). Ao fundo é possível ver o Gabinete de Leitura Ruy Barbosa.

Toda comoção dessa primeira caravana aguçou o sentimento constitucionalista e democrático em outros jundiaienses que se inscreveram e foram às armas para combater a ditadura Vargas. Cinco dias depois, em 23 de julho, mais um contingente fez o mesmo trajeto rumo a cidade de São Paulo se juntando ao primeiro grupo e lá formaram o 1º Batalhão de Reservas do Exército onde às pressas foram treinados, preparados e instruídos e assim foram para o front de batalha das suas vidas se preciso fosse para um Brasil melhor e livre.

O Hino de Jundiaí foi inspirado no ideal Constitucionalista e Haidée Dumangin Mojola carinhosamente chamada de ‘Dedé’. Ela compôs, naquele ano, a marcha que 28 anos mais tarde viria se tornar oficialmente o hino da cidade. Contudo, só através da lei 869 de 17 de novembro de 1960 é que a música foi reconhecida oficialmente como hino de Jundiaí. Esse trecho do nosso Hino retrata bem isso: Terra gentil, Altruísta, De ti me orgulho, Pois és bem paulista! Teus filhos com devoção marcham pra luta como heróis, Cheios de fé em sua oração.

As mulheres de Jundiaí também tiveram participação efetiva na Revolução fazendo fardas, montando materiais de  primeiros socorros, organizando o movimento “ouro para São Paulo” onde a população trocava alianças e outras joias de ouro por anéis e alianças de prata com os dizeres: doei ouro para São Paulo. Elas lotaram a praça da Catedral com doações de ferro velho para a confecção de capacetes de aço.

Quando São Paulo iniciou a revolta contra o governo provisório de Getúlio Vargas, os líderes do movimento esperavam um breve conflito, que seria apenas uma marcha até o Rio de Janeiro, então Capital do Brasil, para depor o Presidente. A solidariedade efetiva e adesão automática das elites políticas de Minas Gerais e Rio Grande do Sul não se concretizou e São Paulo ao lado apenas do Estado de Mato Grosso lutaram bravamente contra esses outros Estados que reagiram ao movimento local. Estavam sendo articulados pelos getulistas. São Paulo foi obrigado a organizar uma defensiva nas fronteiras.

O conflito terminou em 2 de outubro de 1932 com a rendição do Exército Constitucionalista. Foram 87 dias de combates que deixaram 934 mortos. Outras fontes de pesquisa apontam para o dobro desse número já que várias cidades de São Paulo sofreram ataques por terra e pelo ar. Jundiaí milagrosamente teve apenas uma baixa, a do soldado Jorge Zolner.

Jundiaí não ficou fora dos bombardeios, segundo relatos de Orlando Negri, com 14 anos em 1932. Ele contava que o barulho dos motores dos aviões chamavam a atenção da população que saias para ver os “vermelhinhos”, como eram chamadas as aeronaves Boeing F-4B4 da ditadura Vargas. No dia 16 de setembro daquele ano, estes aviões bombardearam uma chácara na Ponte São João, deixando uma cratera enorme. O bombardeio aconteceu no terreno onde fica hoje a Escola Ana Pinto Duarte Paes, na Rua Carlos Gomes. Negri contava também que meses depois, um garoto que morava nas imediações da chácara atingida, se feriu ao manusear um artefato que não havia sido detonado.

Outros locais também foram bombardeados, entre eles São Paulo, o porto de Santos e Campinas. O ataque lá ocorreu dois dias depois do bombardeio em Jundiaí e atingiu a estação ferroviária onde faleceu o menino escoteiro Aldo Chioratto, de 9 anos. Em seu túmulo tem até hoje a inscrição “Inocência, coragem e civismo aqui repousam”,

O garoto é a única criança homenageada no Obelisco Mausoléu aos Heróis da Revolução Constitucionalista de 32, monumento localizado no Ibirapuera, em São Paulo, que abriga os restos mortais dos combatentes do levante paulista contra o governo provisório de Getúlio Vargas. Poucos sabem, mas Alberto Santos Dumont, o pai da aviação, suicidou-se em plena revolução. Segundo relatos de amigos e parentes, ele estava deprimido e não suportou ver seu invento matando compatriotas.

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José Augusto Pupo deixou para a história um livro sobre as experiências dele na revolução. O tenente Armênio Almeida Souza angariou fundos para a construção do obelisco em homenagem aos heróis. O monumento foi construído em frente o Parque da Uva, tendo sido demolido na reestruturação do Parque Comendador Antônio Carbonari, em 2004. Depois, a estátua de bronze foi para o Solar do Barão e hoje se encontra solitária no canteiro no final da avenida Nove de Julho, avenida que teve essa denominação em homenagem a data máxima do povo Paulista.(Texto: Professor Maurício Ferreira) 

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Jundiaí não ficou fora dos bombardeios. Segundo relatos do saudoso Orlando Negri que tinha 14 anos em 1932, o barulho dos motores dos aviões chamava a atenção da população que saía para ver os “Vermelhinhos” como eram chamadas as aeronaves Boeing F-4B4 da ditadura Vargas.

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Sobre as fotos acima (no sentido horário): O ex-combatente Pedro de Oliveira ostentando suas medalhas; Nicodemo Petroni (à direita); tenente Armênio Almeida Souza, José Augusto Pupo (autor do livro “Memórias de um ex-combatente de 32”); Desfile dos ex-combatentes em 9 julho de 1969; Adolpho Guimarães(1º da esquerda); General Carlos Gomes Alcantara(3º sentado da esquerda para a direita); soldado José Barreto(3º da esquerda para a direita); caricatura feita pelo grande artista plástico jundiaiense Diógenes Paes; cartaz do MMDC. (Texto: professor Maurício Ferreira)

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