A pequena aventura de DADÁ

dadá

Não me lembro em que ano da faculdade isso aconteceu. Estávamos saindo da sala de aula num pequeno grupo de amigos. Dadá é uma pessoa na qual a vida transborda. Ela perguntou como era andar de bengala. Minhas bengalas tinham nomes diferentes. Uma era o ‘Bengalo’, do gênero masculino, que uso para enfrentar a dureza do cotidiano. A ‘Soraia’ era uma bengala jovem, leve, própria para momentos descontraídos. Já a ‘Jurema’ era uma bengala mais velha e que usava para ocasiões sérias. Perguntaram-me qual eu usava naquele momento. Respondi que era o ‘Bengalo’.

Dadá pediu para dar uma volta com ‘ele’. Pedi para que fechasse os olhos. Peguei no braço de outro amigo. Ela começou a bater a bengala no chão como se quisesse apalpar todos os centímetros. Mostrei como usar o ‘Bengalo’, dando um passo com o pé direito e tocando o chão com a ponta da bengala do lado esquerdo. Em seguida, se dá outro com o pé esquerdo e bate a bengala à direita. Assim cobrirá toda a sua frente.

Lá se foi a Dadá. Rindo, brincando e tensa ao mesmo tempo. Íamos para a cantina. Estávamos longe dela. Minha ousada aprendiz foi caminhando por corredores cheios de gente. Conseguiu fazer uma linda curva. A cantina ficava fora do prédio da faculdade. Na saída, ela disse que não se lembrava do caminho e que abriria os olhos.

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Eu reagi pedindo para ela ouvir. De onde estávamos ouvíamos a televisão, a sinuca e pessoas conversando no pátio, que atravessaríamos. Falei para ela deixar o som guiá-la. E aquele espírito livre desafiou as trevas. Ela foi caminhando lentamente descrevendo o arco formado pelo caminho da porta de saída até a entrada da cantina.

A viagem terminou nos degraus da entrada do comércio em meio a risos, abraços e uma grande sensação de vitória. Ela feliz por ter conseguido e eu sentindo a incomum alegria de ter compartilhado meu mundo.(Foto: Mart Production/Pexels)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA

Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.

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