No artigo anterior, descrevi uma pequena partícula do choque e sofrimento de meus pais quando nasci. Pude abordar minha infância feliz, onde fui criado por eles como uma criança normal. Era feliz. Muito da dor e do choque foram absorvidos pelo prognóstico médico. Ele disse: “Quando esse menino estiver com oito anos aproximadamente, poderemos fazer uma cirurgia, um enxerto de córnea. E irá enxergar”.
De tempos em tempos, íamos ao Hospital Penido Burnier para consultas com dr. Queiroz e dr. Mais. Eu estava com nove anos. Frequentava o segundo ano primário no Grupo escolar Coronel Siqueira de Moraes, com a professora Aparecida. Frequentava a escola comum. Fazia o acompanhamento e apoio em braile com dona Vera, no instituto Braille. Duas vezes por semana à tarde.
Em agosto de 1970, fomos a uma dessas consultas. O médico afirmou que a hora tinha chegado. “Assim que chegar uma córnea faremos a cirurgia. Estejam preparados, pois serão chamados a qualquer momento”, disse ele. No dia seguinte, eu estava na aula de braile com dona Vera. Quase no fim, minha mãe chegou esbaforida. “Ligaram de Campinas. Chegaram duas córneas do Ceilão. Temos que ir agora”, disse ela. Lembro-me de estar um pouco assustado com a ansiedade de mamãe e de lamentar internamente, o fato de perder a festinha de aniversário da prima Tita, que seria naquela noite.
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Um banho rápido. Meu pai chamado às pressas e ainda naquela tarde estávamos no hospital. Enquanto aguardávamos a internação para a cirurgia, meu pai lia para mim um artigo numa revista que dizia que a família real britânica estava sem dinheiro. Com o olhar de hoje posso ver que ambos estávamos com medo. Papai soube que não aceitavam cheques para depósito. Verificou e havia a possibilidade do cheque visado. Sinto um frio na barriga ao lembrar e escrever este detalhe. No dia seguinte veio a maca. Eu fui. A mamãe ficou.(Foto: Pikist)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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