Tenho pedido ideias às pessoas sobre o que gostariam que eu escrevesse. Entre algumas sugestões Julie, minha amiga e colega de trabalho perguntou como se guia um deficiente visual?
Na técnica clássica, o deficiente visual deve pegar o braço do guia, pouco acima do cotovelo. Assim ele poderá acompanhar seus passos e movimentos sem ser contido pela pessoa que o está guiando. Deve-se caminhar pouco a frente dele para que possa sentir que você subiu ou desceu um degrau. Um desnível no terreno. Convém avisar sobre as portas estreitas.
Aprendi essas coisas depois de adulto, quando fui ler a respeito. Lembro-me da minha infância na Fazenda Piraí. Andava pelos pastos, estradas, trilhas e barrancos com meus irmãos, João e Claudia. (irmã com mesmo nome da minha esposa). Éramos crianças. Eles simplesmente me conduziam. A coisa ocorria de forma simples. Dava certo. Depois vieram primos e amigos.
Na fazenda, nos grandes quintais da época, na rua. Brincávamos na rua. Corríamos, subíamos em árvores, praticávamos luta livre, jogávamos bola. Na maioria das vezes chutando de gol a gol. Quando maiores, com times na rua. Eu era o goleiro. Não era tão ruim nas bolas rasteiras que fazem barulho. Quanto as bolas altas, meu orgulho me impede de comentar.
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Sem qualquer demérito às técnicas convencionais para condução de deficientes visuais, que prestam grande serviço a nós e a quem nos guia, sustento que a grande resposta é clara nos corações infantis: naturalidade, naturalidade e naturalidade.
O que meus irmãos e priminhos sabiam de técnicas? Sabiam brincar com o amiguinho. Queriam fazer isso. Fizeram isso. Sem eles não seria hoje o homem que sou. Alguém disse:
-A infância é o chão por onde o adulto caminha.
E eu aproveito para citar Gonzaguinha: ‘Fico com a pureza da resposta das crianças’...(Foto: Mart Production/Pexels)
JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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