Durante reunião do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado, o Condephaat, no dia 19 de março, a vice-presidência do órgão comunicou o ‘apedrejamento’ da Pinacoteca Diógenes Duarte Paes (ao lado) durante a abertura de uma exposição artística. A Unidade de Proteção ao Patrimônio Histórico (UPPH) registrou um boletim de ocorrência e a Guarda Municipal esteve na Pinacoteca, conforme mostra vídeo (abaixo) que faz parte da exposição De Todas, Uma Mesma Terra, do artista Andrey Zignnatto. O caso será encaminhado à Procuradoria Geral do Estado(PGE) a pedido do próprio Condephaat. Segundo a Prefeitura, Zignnatto assinou um termo no qual se comprometeu a reparar os danos. Ao Jundiaí Agora – JA – o artista confirmou o conserto e questionou o conselho estadual que, segundo ele, “deveria estar mais preocupado com os problemas estruturais que há anos prejudicam o imóvel”.

Segundo o Condephaat, “o Grupo Escolar Siqueira de Moraes sofreu depredação em ato de abertura de exposição denominada ‘Rajada’. O grupo hoje abriga a Pinacoteca Diógenes Duarte Paes(na rua Barão de Jundiaí, bem em frente à Câmara Municipal, e que já foi a Biblioteca Municipal). Foram atirados pedaços de pedra contra o bem tombado, danificando adornos de fachada e vidros. Além do boletim de ocorrência foi feito contato com a Procuradoria Geral do Estado para as medidas cabíveis quanto à depredação”.

A exposição começou no dia 10 de março e irá até 14 de abril (cartaz acima). A ‘Rajada’, momento em que segundo a descrição do vídeo publicado no Youtube, foi uma “ação artística realizada com as pessoas (público em geral, empregados da Pinacoteca, equipe de produção da exposição, curador, artista) presentes na abertura da exposição. O vídeo foi visto 456 vezes. Os comentários foram desativados. No dia 26, o artista publicou duas fotos(acima) em sua página pessoal do Facebook. Ele escreveu: “as pedras continua ecoando. Muito feliz com a Pinacoteca entupida de gente para a primeira roda de conversa sobre a exposição De Todas, Uma Mesma Terra!”.

Nota oficial – A Prefeitura informou que a exposição era uma iniciativa contemplada pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo(Programa de Ação Cultural – ProAC), sendo que uma das ações expositivas, que previa a quebra dos vidros de uma das janelas da Pinacoteca, a gravação de um vídeo e a criação da instalação com os cacos e pedras utilizados. A intervenção previa, em termo de compromisso assinado pelo artista, a recolocação imediata dos vidros que são comuns; a pintura das paredes ao final da mostra, caso houvesse danos (e apenas uma das paredes sofreu um pequeno risco). Além do artista ter apresentado nota fiscal do material necessário aos reparos, bem como da contratação do serviço. Ressalta-se, deste modo que todas as obrigações exigidas foram cumpridas até o presente momento, tendo em vista que a exposição ainda está em cartaz.



“O CONDEPHAAT DEVERIA ESTAR MAIS PREOCUPADO COM OS DANOS ESTRUTURAIS QUE AFETAM O PRÉDIO HÁ ANOS”. 

A frase acima é do artista plástico Andrey Zignnatto, de 37 anos (foto ao lado). Ele nasceu e mora em Jundiaí. Segundo seu site, é um artista autodidata, que trabalha entre São Paulo e Jundiaí. Ele confirmou que para a execução da ‘rajada’ polêmica, tinha autorização da Secretaria de Cultura, com o compromisso de pagar pelos danos causados. “Os vidros foram comprados um mês antes mesmo da abertura da exposição, e não somente restauramos os vidros quebrados pela ação, como também vidros de todas as janelas da Pinacoteca que estavam danificados. Também restauramos todas as paredes das salas usadas na exposição com massa e pintura”.

Sobre a presença da GM, o artista disse que não sabe se foi feito boletim de ocorrência. De acordo com ele, “guardas foram até o local, mas tudo foi resolvido com muita tranquilidade”. Até o momento não fui notificado nem oficialmente, nem extra-oficialmente sobre qualquer processo. “Os vidros do prédio não são tombados, nem a pintura da parede. Acho engraçado o Condephaat se preocupar com minha exposição que até o momento só tem melhorado a Pinacoteca já que é uma das com maior público. Não se atentarem para problemas estruturais muito mais graves que há anos afetam o prédio, e até o momento não foram solucionados”, comentou.

O artista diz que já passou por outras situações polêmicas. “Arte não tem obrigação de ser acomodada ao mundo, e assim, não é obrigada a agradar ninguém. Muitos artistas hoje reconhecidos como grandes nomes da história da arte, desagradaram as sociedades de suas respectivas épocas. Minha proposta como artista é gerar reflexão”, disse. Em relação à ‘rajada’, explicou Andrey Zignnatto, “ela deve ser analisado também dentro do contexto de toda a exposição, que tem como assunto a violência. Artisticamente, um espaço expositivo normalmente é visto como local para apaziguamento de forças, seja entre trabalhos artísticos, entre obra de arte e espaço expositivo, público e obra de arte, etc. Minha intenção foi usar este lugar como uma área de conflito. ‘Rajada’ retoma um gesto de rebeldia infantil, e também político, onde o público presente na abertura da exposição foi convidado a atirar as pedras contra as janelas. O ato que pode ser interpretado como puro vandalismo é poético na medida em que serve como uma metáfora da ação engendrada pela própria arte, que antes de ser uma forma de apaziguamento, é propulsora de reflexão e, inevitavelmente, de conflitos. (Foto principal extraída do vídeo publicado por Andrey Zignnatto no Youtube)

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