A publicação da foto acima causou polêmica neste sábado(21), no Facebook do Jundiaí Agora e também na rede social da professora municipal Ana Laura Hermann. O JA divulgou nota enviada pela assessoria de imprensa da Prefeitura de Várzea informando que o técnico em enfermagem Michael e o socorrista Borges, do Serviço de Atendimento de Urgência daquela cidade, realizaram parto às pressas dentro de uma ambulância. Segundo as informações enviadas, “a pequena não esperou o socorro chegar até o Hospital das Clínicas e o parto foi realizado no percurso. Ela passa bem e ganha todos os mimos da família e dos socorristas”. Ao ser publicado no @jundiaiagora1 começou a polêmica. O texto foi acusado de machista. Assim como o jornal que o replicou sem mostrar que a mãe deveria ser o ponto principal da nota.
A professor Ana Laura printou a publicação do Jundiaí Agora e também do portal tudo.com.vc (acima) e postou a seguinte frase: “O Conto de Aia” versão Jundiaí. A mãe sequer foi citada!!!!!!!. “O Conto de Aia” é um livro escrito pela canadense Margaret Atwook, lançado em 1985 e narra uma história futurista, onde o mundo é governado por cristãos fundamentalistas. Em uma ditadura ferrenha, os direitos das mulheres não existem mais. Elas são divididas entre férteis e inférteis. As primeiras são mantidas nas casas dos comandantes onde são estupradas uma vez por mês para trazer novas vidas para o país, ‘Gilead’.
As primeiras críticas à publicação da nota afirmavam que a mãe tinha de ser citada e que a publicação da foto do socorrista e do técnico em enfermagem tiravam o protagonismo da mulher durante seu próprio parto. Renata Longui, por exemplo, postou: o parto de quem? A criança veio do pai? Afff!!! Que reportagenzinha mais ridícula. A mãe poderia ter sido ao menos citada no texto. Não estou falando de imagens e nem de nomes. Mas de bom senso e respeito. Admitir um erro é mais digno”, escreveu. Luciana Sanfins escreveu: “mas cadê a pessoa mais importante nisso tudo?
O jornalista Marco Antônio Sapia, do JA, conversou com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Várzea e foi informado que a mãe não quis ser identificada nem revelou o nome que daria à filha. Porém, permitiu a publicação da foto. Ele também explicou que do ponto de vista jornalístico, o texto publicado não tem nenhum erro já que apenas mulheres dão à luz. Portanto, informar que uma mulher teve um bebê é redundância.
A professora retrucou: “quando a gente fala em protagonismo não quer dizer que a gente quer que o Jundiaí Agora diga o óbvio – no caso, que a mãe pariu! Vivemos em tempos que a mulher está resgatando sua ancestralidade e cada dia há inúmeros partos domiciliares ou hospitalares que levam a mulher para o protagonismo do próprio parto… por esse motivo, acredito ser até bizarro e nocivo colocar dois homens no centro de uma notícia de parto! Dois homens que não fizeram absolutamente nada para parir uma criança! Apenas alguns procedimentos que estão habilitados em seus conselhos a fazer”, afirmou. Ela também disse que acredita na desconstrução de velhos valores, incluindo uma imprensa que machista e criacionista. “Responder como o senhor respondeu mostra que o diálogo não está aberto e que o caminho é longo. Espero que possa refletir acerca de como as mulheres são tratadas na imprensa!”, afirmou. E concluiu passando o link de um minimanual de Jornalismo Humanizado da ONG Think Olga.
O jornalista respondeu que atuou como repórter policial durante quase 20 anos cobrindo fatos nada teóricos ou de semântica registrados na Delegacia de Defesa da Mulher(DDM) de Jundiaí. “Tenho convicção que defendi os direitos de mulheres espancadas, estupradas e humilhadas na carne e não supostamente no papel. A ex-titular da delegacia, Fátima Giassetti pode falar da minha conduta profissional. Hoje, tenho certeza de que o JA é o veículo que mais trate da causa LGBT. A advogada e militante Rose Gouvêa colabora com artigos. Além disto, ainda no Jundiaí Agora, na editoria Especiais, há uma série com mais de 30 reportagens que relembra as adoções de crianças de Jundiaí por casais do exterior. Direitos de mães e filhos em pauta! Faço na prática”, respondeu.
Citada, a ex-delegada Fátima Giassetti entrou na polêmica. “E você é o medíocre, Marquinho(dirigindo-se ao jornalista e ironizando as postagem das feministas). Caraca. Acho que sou burra mesmo. A mulher dando a luz dentro da ambulância porque não deu tempo de chegar ao hospital. É auxiliada por dois profissionais. E falam sobre falta de protagonismo da mulher?”, perguntou. Fátima continuou: “gente, o mundo tá virado mesmo. Ao invés de gratidão pela ajuda ficam neste mimimi. Parabéns aos dois. Se fosse comigo ficaria extremamente agradecida. Ninguém ajuda ninguém. Quando ajuda, gera polêmica. Que bom que tudo deu certo. Parabéns aos dois”.
Também citada, Rose Gouvêa disse que “de fato, quanto a mim, é preciso afirmar que Jundiaí Agora sempre me tratou com respeito e viabilizou espaço em seu jornal para que pudesse falar sobre direitos das mulheres e de LGBTs. É preciso dizer também que nesse espaço nunca fui censurada. E olha que já escrevi artigos ditos “polêmicos”. Rose afirmou ainda entender a postura de Ana Laura e das demais mulheres. “Estamos num momento de reafirmação do protagonismo feminino. E não é mimimi como falou uma outra moça. As mulheres, antes caladas, sentem necessidade de expressar esse protagonismo e problematizar situações que devem ser debatidas. Por que não? Acho que o diálogo respeitoso é sempre proveitoso. Assim melhoramos”.
Bianca das Neves Silva acredita que o erro partiu da assessoria de imprensa da Prefeitura de Várzea e os veículos que publicaram o ampliaram publicando a nota mostrando dois homens como protagonistas de um parto. “É compreensível que o local inusitado do nascimento seja razão da notícia. Porém, o correto é que os dois profissionais assistiram ao parto e não o fizeram. O agente da ação colocado na figura masculina rouba da mulher um momento em que ela sempre é protagonista. E assim se perpetua mais uma vertente do machismo que está na estrutura da nossa sociedade. E por ser estrutural, muitas vezes acaba sendo reproduzido por homens esclarecidos e progressistas. Sugiro que o JA faça matéria com mães, doulas, obstetrizes e enfermeiras obstétricas sobre o tema”, disse.
O JUNDIAÍ AGORA JÁ FEZ ESTA REPORTAGEM, BIANCA! MAIS PROTAGONISMO IMPOSSÍVEL!!! LEIA:
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Quem citou a palavra “mimimi” pela primeira vez foi Natália Murukami (Rose Gouvêa referiu-se a ela como ‘moça’, acima). “Para mim isso nem deveria ser noticiado. Tem tanta coisa mais importante e vem com este mimimi que mulher grávida pariu na ambulância. Se ela está grávida, em algum momento tinha que nascer. Outro mimimi é o local do parto. Ela podia ter parido em casa, no hospital, no meio da rua. Em algum lugar ela iria ter o bebê. Que coisa mais sem senso. Para parir não tem hora nem lugar. A não ser que agende o parto. Notícia seria se ela parisse um bebê de outra espécie. Menos mimimi com coisas normais da vida. Aff”.
Em outra postagem Natália foi ainda mais enfática. “Mulher tem que ser destacada como médica, advogada, profissional f… Não por fazer algo que a natureza a obriga. Mimimi sim. A mulher não é bem-sucedida por parir. Isso qualquer fêmea de qualquer espécie faz. Mulher tem que ser bem sucedida por ser independente, trabalhar fora, descobrir a cura do câncer, da AIDS. Não por ficar dentro de casa cuidando de criança babona e limpando fralda suja. Até porque isso foi escolha dela”, concluiu.