GNOMOS e MULA SEM CABEÇA: Eu decidi acreditar neles…

gnomos

Tive uma infância maravilhosa, sonhos e devaneios como toda criança. Fui um adolescente atentado como todo adolescente que se preze, uma vida adulta talhada na Ciência, como todo acadêmico precisa ser e uma maturidade comum, dentro dos limites óbvios, mas resolvi acordar esta semana acreditando em gnomos e mula sem cabeça. O contexto insiste que eu devo negar a Ciência e preciso acreditar em palavras e ilusionismos que queiram me propor, como se eu me bestializasse e me transformasse num fantoche, divagando pela vida, sem acreditar que eu a comando, mas deixando que cabeças ocas me comandem. Então, se é assim, eu acredito em gnomos e mula sem cabeça…

Fatos assustadores estão ao meu redor, mas eu acho que é tudo fantasia; ninguém mentiria dessa forma e um povo todo não deixaria de lutar pela verdade. Acredito que toda imprensa esteja mentindo e que estão tentando incriminar alguém. Em outubro e até vésperas de eleição a mídia noticiava que Jundiaí estava bem equilibrada, com relação à Covid. Sem explicação, novos casos começaram a surgir após as eleições, só porque o povo teimoso resolveu ir votar e o vírus estava esperando por todos lá nas urnas.

Primeiro que não se trata de um vírus patriota, depois que se trata de um vírus oportunista. Não é patriota porque deveria respeitar um dia nacional de pleito eleitoral. É oportunista porque foi se alojar em pessoas que estavam munidas apenas do título de eleitor para se defender, o que não conseguiram, nem se defender do vírus nem do eleito. Por quê? Porque hoje, os noticiários, desde seis horas da manhã, comentam sem mais poder, que no período de 15 de outubro à 15 de novembro tivemos 900 novos casos e, de 16 de novembro a 8 de dezembro tivemos mais 1500 outros novos casos. Mas não estava controlado? Os números não eram de menos de centena? Não estávamos controlados? Quem se enganou: a imprensa ou as notícias governamentais? Que tristeza! Quanta enganação! Quanta decepção!!! Com certeza é notícia falsa…

E, voltando a uns questionamentos, perguntaram-me, pelo Whatsapp, se eu acho que o Brasil é mesmo racista. Puxa vida, como fico feliz quando me chamam para o diálogo e, em especial, quando me deparo com pessoas que são curiosas e que buscam novas fontes de informações. Acredito que esta seja uma forma de ampliar os conhecimentos e de crescer diante do novo, mas assusto-me quando me deparo com questões evidentes, porque sempre fico em dúvida: isso é uma pergunta sincera ou é um mero artifício para manter a conversa viva? É como se estivessem perguntando se eu acredito em gnomos porque a questão não procede: claro que somos racistas e somos preconceituosos. Ostensivamente preconceituosos. Não admitimos a diversidade de gêneros, não aceitamos negros, vermelhos e amarelos, separamos os pobres dos ricos, diferenciamos o cristão católico dos evangélicos e espiritualistas. Somos separatistas, sim.

Mas a juventude não é? Mentira, a juventude finge um pouco melhor que seus pais. Ela está totalmente despreocupada com os problemas reais do país e são tão incultos de propostas socioculturais quanto são plugados nas redes sociais para motivos fúteis e de importância duvidosa. Estudos apontam que estes jovens são retratos de suas famílias e, que apenas expressam o retrato da família patriarcal moderna, em que ninguém lidera ninguém e nada se conquista em grupo. As preocupações só surgem quando problemas batem às portas, mas sempre uma visão mágica resolve ou protela a solução, de maneira que a vida continua simples, leve e solta. Preocupações existem para serem despreocupadas. Melhor acreditar em gnomos…

Mas a sociedade é vazia de negros em cargos de mando, de mulheres em posições de destaque, de gays em liderança de grupos heteros, de indígenas ou asiáticos em números expressivos ocupando cargos de projeção: este é nosso retrato social e nosso lugar de partida. A bolha em que vivemos não nos possibilita enxergarmos além das aparências; o triste é que acreditamos nestas aparências e nos conformamos com as disparidades sociais e limitadoras que ajudamos a manter, com nosso silêncio. Ao nos calarmos, não ajudamos na construção de outra sociedade mais participativa e mais diversificada, o que possibilita que tenhamos guetos que se escondem nas beiradas de nossa sociedade. Belo retrato social.

E sobre a autonomia, claro que causou muita indagação, mas optei iniciar as respostas pela provocação recebida de meu amigo Altair: autonomia e liberdade são iguais? Não, claro que não. Posso ser livre e independente em minhas ações, mas manter minha autonomia presa a algum limite ou regra que me impeça de desenvolver a empatia com meus semelhantes. A autonomia tem a ver com a empatia e a liberdade não. Sendo autônomo, ao me perceber no Mundo, reconheço a presença e os direitos do outro, como alguém semelhante a mim, portanto respeitosamente acolho e vejo semelhanças. O autônomo paga o preço de Ser, num mundo egoísta, sem se prender a estes valores. Talvez a autonomia seja uma das mais difíceis propostas para o homem moderno, que está enfronhado em projetos estranhos e pouco voltado ao desenvolvimento humano.

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Confundimos autonomia com liberdade porque parece-nos difícil ver e conviver com pessoas autônoma: estas são enigmáticas, empáticas e realizadoras, mesmo diante de dificuldades logísticas, emocionais e intelectuais. O autônomo avança em terrenos minados, com desenvoltura e propriedade ímpar, chegando ao ponto pretendido, ainda que sofra privações e sanções. Sua visão de mundo é bem maior que o simples contexto circunvizinho. Ele consegue abstrair e intervir em tempos e situações que apenas sua lucidez permite tal deslocamento. Justifica, assim, cada atitude e palavra empenhada no decorrer de sua existência. Chega a ser estranho, mas o autônomo se faz na trajetória do desenvolvimento humano. Uma qualidade para poucos.

No momento atual, vemos muitos libertos sem autonomia e que agem como robôs ou entidades que atropelam processos e propostas, mas não percebem que são meros executores, sem predicados morais e intelectuais que os tornem sensíveis, empáticos e carismáticos. Este triste e dolorido período Covid está nos mostrando quem é quem. Por isso, apesar de minha formação acadêmica e minha inserção na Ciência, lugar de onde enxergo e interfiro no Mundo, sou levado a burlar seguranças das mídias sociais ‘tinturando’ as minhas falas como aqueles que creem em gnomos, fadas, sacis pererês, boitatás e na Branca de Neve. Iludida sociedade.(Ilustração: cena do filme ‘Duda e os Gnomos”/divulgação)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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